02/12/12

Segunda e última parte de "Sinal vermelho ou farol?" no Passa Palavra:

"O Passa Palavra tem alertado para os perigos de capitalismo de Estado decorrentes de um abandono do euro. Que ingenuidade a nossa! Julgávamos que erguíamos um sinal vermelho e tudo o que conseguimos foi acender um farol. Julgávamos que ao apresentar o capitalismo de Estado como horizonte previsível estaríamos a afastar alguma gente de esquerda deste cenário quando, pelo contrário, lhes tornámos esse futuro muito atractivo".

É assim que abre a segunda e última parte do artigo "Sinal vermelho ou farol? 2) o farol", cuja primeira parte foi publicada há oito dias, dando de resto origem a uma viva discussão neste blogue, e no qual o colectivo do Passa Palavra procede a uma abordagem política, económica e sociologicamente informada, dos riscos de fascização veiculados pelas propostas de saída unilateral do euro e de "recuperação da soberania" cada vez mais insistentemente repetidas por porta-vozes altamente colocados na área política hegemonizada pelo PCP e pela hierarquia da CGTP, bem como por outros sectores de "esquerda", minoritários mais influentes, como os que, por exemplo — exemplo meu — reiteram a urgência de um "Estado estratego" como alternativa ao federalismo, que apresentam como submissão frente a uma UE que consideram, no curto e médio prazo pelo menos, irremediavelmente governada pelo neoliberalismo, em termos claramente convergentes com as fórmulas do PCP sobre a sua natureza "irreformável".

Não vou nem retomar nem resumir aqui os argumentos com que o colectivo do Passa Palavra mostra — a meu ver mais do que suficientemente — que o regime de capitalismo de Estado defendido pelo PCP e pela hierarquia da CGTP (não se devendo aqui esquercer que "a influência política de que o PCP dispõe não lhe vem tanto da sua militância envelhecida como sobretudo da hegemonia que detém sobre a central sindical") significaria, do ponto de vista tanto das necessidades imediatas como da emancipação democrática grande maioria dos trabalhadores e dos cidadãos comuns da região portuguesa, não um passo em frente, mas um agravamento extremo dos traços mais odiosos da situação actual, comprometendo profundamente as perspectivas de quaisquer avanços e formas de luta capazes de começar a inverter as relações de força que governam a zona euro e a UE, de travar a ofensiva oligárquica em curso e de abrir caminho a acções e movimentos que reforcem os direitos, liberdades e o exercício pelo conjunto dos trabalhadores e cidadãos comuns de formas alternativas de participação igualitária. Acrescentarei apenas que, em meu entender, a ameaça de fascização, contra a qual,  através da sua exemplar análise crítica de um cenário que concretizasse de perto as propostas políticas e o "projecto de sociedade" característico do PCP, alerta o colectivo do Passa Palavra alerta, pode tomar vias que, não se deixando representar com a mesma clareza intelectual do que o cenário considerado pelo artigo "Sinal vermelho ou farol?", não desembocariam em paisagens menos mortíferas.


1 comentários:

José disse...

É, de facto, incrível ver aqueles que se reclamam democratas — verdadeiros democratas — a defenderem um caminho que muito provavelmente levaria a um sistema ditado por uma vontade comum ficcionada elevando-se enquanto mais legítima do que uma aposta numa comunhão internacionalista de combate, embora ainda desagregada. Não verão que a democracia se faz não pela superação impingida das vontades individuais, mas pelo (re)encontro do que de comum há nessas vontades? E não verão que esse (re)encontro só se pode dar por si, porque só assim se realiza, se vai realizando? Não nos viremos de costas, nem de perfil, para a democracia.