Fala-se em acabar com os exames nacionais de acesso ao ensino superior (ou, o que talvez não seja a mesma coisa, em os exames nacionais deixarem de contar para o acesso ao ensino superior). O problema é o que se vai por no seu lugar.
Algumas noticias apontam no sentido de que haverá propostas no sentido de cada universidade fazer os seus próprios exames - à partida, isto parece-me uma trabalheira sem grande vantagem; então, eu em vez de ter feito umas 3 ou 4 provas especificas (isto já foi há muito anos, em 1991, mas acho que fiz a prova especifica de matemática do 12º, e duas de economia, e talvez outra de matemática), além da defunda PGA, iria ter que fazer umas 10 (já que concorri ao ISEG, Universidade Nova, Universidade do Porto, Universidade de Coimbra e Universidade do Algarve, e de certeza que cada uma deveria ter uma prova de matemática e outra de economia)? E andar a passear pelo país para fazer provas? Isso parece-me saído das mesmas cabeças que defendem a contratação descentralizada dos professores.
Até porque penso que as universidade já têm autonomia para decidirem que provas vão contabilizar para o acesso e com que ponderações (pelo menos no meu tempo era assim - cada universidade tinha a sua própria fórmula para escolher os alunos, com diferentes ponderações para cada prova,para a PGA e para média do secundário - aliás, foi por isso que eu fiz várias provas para a mesma disciplina: umas universidades usavam a nota da prova do 12º ano e outras a do 10º/11º), logo cada univesidade já pode escolher quais as qualificações que quer nos alunos que a vão frequentar.
E ontem, no Correio da Manhã, li um artigo assustador de um dirigente da Confederação das Associações de Pais, em que me dá a ideia que ele pretende abrir a porta às universidades escolherem os alunos com base em critérios como "vocação", o que me parece só pode significar as universidades começarem a escolher os alunos com base na sua personalidade (o que na prática significa escolher alunos com um perfil psicológico similar aos dos professores, diretores e reitores, já que quase por definição esses acharão que é o perfil mais adequado a pessoas nessa área - afinal, dificilmente alguém reconhece que o seu perfil psicológico não é o mais indicado para a área onde está).
Essas avaliações subjetivas ("holísticas", penso que é como lhes chamam nos EUA - curiosamente o mesmo adjetivo aplicado às medicinas banha-da-cobra), que normalmente implicam coisas como entrevistas, avaliações curriculares, cartas de recomendação de professores, etc. têm também o problema que facilmente podem ser usadas para meter cunhas, mas mesmo que sejam honestas são intrinsecamente problemáticas, já que assentam na ideia de que haverá tipos de personalidade mais adequados que outros, e, sobretudo, que é possivel saber antecipadamente que tipos de personalidade são esses.
E sobretudo acabam sempre valorizando um traço especifico de personalidade - conformismo; porque sejam quais forem os traços de personalidade que estejam à procura, pessoas com uma personalidade mais conformista (ou, se quisermos dar um spin mais favorável, "flexível" ou "adaptável") têm mais facilidade em suprimir a sua verdadeira personalidade e adotar (nem que seja só até serem aceites na universidade) uma persona de acordo com o que é exigido (exemplos - meter-se nas atividades extra-curriculares mais bem vistas, conseguir impressionar os professores que fazem cartas de recomendação, vestir-se apropriadamente para a entrevista de seleção, etc., etc.)
12/02/18
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