23/07/19

Mulheres na política diminuem corrupção?

Há quem diga que haver muitas mulheres na política tende a diminuir a corrupção, e até há estudos nesse sentido[pdf].

Mas a respeito dessa relação entre mais mulheres na política e menos corrupção, já me ocorreu se, em vez de ser uma relação causal em que mais mulheres causa menos corrupção, não poderá ser um terceiro factor a causar simultaneamente maior presença de mulheres na política e menos corrupção.

Mais exatamente, suspeito que sociedades em que se valoriza muito a família alargada, o bairrismo e uma cultura de acordos de bastidores e troca de favores em vez de conflito aberto tendem a ser simultaneamente a) sociedades em que as mulheres tendem a estar afastadas dos centros de decisão (e, de uma maneira geral, sociedades onde é difícil outsiders entrarem, porque funciona tudo à base da favores e apadrinhamentos); e b) sociedades mais propensas pelo menos ao tráfico de influências (em que há muito uma cultura de "falar com alguém que conhece alguém que resolve o problema"), que facilmente degenera em corrupção.

Isto não deixa de ter alguma semelhança com o ponto 6 referido pela Maria João Marques no artigo acima, ("Ao criarem disrupções nos círculos de poder dos homens, muitas vezes com esquemas de corrupção ou favorecimento já instalados, as mulheres quebram assim os círculos da corrupção") mas aqui não será necessariamente uma questão de a maior participação das mulheres desestabilizar os círculos de poder instalados, mas sim da desestabilização dos círculos de poder diminuir a corrupção e simultaneamente favorecer a maior participação de mulheres.

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