13/06/10

Vergonha

Filha de um judeu israelita ou de um palestiniano, uma criança morta é uma criança morta. Morta, apesar de igualmente inocente, qualquer que tenha sido o campo dentro de cujas linhas foi abatida. Igualmente inocente, quer dizer: de uma inocência idêntica, que nenhuma comparação atenua ou relativiza. Explorar a sua imagem, como hoje faz um post do Renato Teixeira, não é um excesso esquerdista, é uma infâmia (e é este o único ponto em que discordo do comentário que o Nuno Ramos de Almeida deixou na caixa do post citado).
O horror seria por acaso menor, deixaria de ser "comparável", se a criança fosse judia - e se, nesse caso, a sua imagem fosse usada, não para denunciar a violência do inimigo, mas para semear o terror nas suas fileiras, para o ameaçar dizendo-lhe: "É isto que espera os vossos filhos, é isto que lhes faremos, é esta a nossa justiça"?
Filha de opressor, de resistente, filha de judeu ou de palestiniano, ou simplesmente filha de ninguém, qualquer criança assassinada é tão inocente como qualquer outra - e como qualquer outra poderia ser nossa filha.

4 comentários:

joão vilaça disse...

Caro MSP,
totalmente de acordo. Julgo que seria bom que deixasse este comentário na caixa do post do Renato Teixeira. Eu já fiz o meu (muito menos acutilanete e certeiro do que o seu, para pena minha) e creio que seria da maior importância que todos os que sentem esta repulsa o fizessem, desta vez para marcar definitivamente a delimitação das fronteiras entre a bestialidade ignorante e a decencia.~
Cumprimentos.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro João Vilaça,
este post começou, com efeito, por ser o texto de um comentário que tencionava pôr na caixa de comentários que sabe.
Acabei por optar por publicá-lo aqui, depois de reflectir uns minutos no problema. Reproduzi-lo agora, eu próprio, como comentário no 5dias, talvez não seja muito apropriado. Mas, claro, que pode fazê-lo você, que já respondeu, e muito bem, explicando a necessidade da "delimitação de fronteiras entre a bestialidade ignorante e a decência".
Um abraço solidário

msp

fernando machado silva disse...

caro miguel serras pereira,

peço imensa desculpa por utilizar o seu post para lhe fazer uma pergunta enquanto tradutor da "monstruosidade de cristo" de zizek. uma vez que não possuo o original não poderei, por mim próprio, confirmar esta minha dúvida. na pág. 100 da edição da relógio d'água lê-se aí: "alain badiou executa aí (...)" e, mais adiante, na pág. 108 repete-se o mesmo período na íntegra. sucede o mesmo no original, ou trata-se de um erro de impressão? é que, na verdade, o período da pág.108 parece não ter nada a haver com o que anteriormente se trata, sobre bukharine; ou melhor, até tem, uma vez que versa sobre o materialismo, mas é deveras estranha a repetição!

os meus sinceros cumprimentos,

benjamim machado

Miguel Serras Pereira disse...

Caro BM,

respondo-lhe por mail - de acordo?
Cumpmts

msp