O Bruno escreveu no 5dias uma resposta às minhas objecções que me suscita uma perplexidade que não consegui ainda superar.
"Diz o MSP (…) que tenho uma concepção angélica da política. Isto porque defendo «a supressão de uma faculdade de juízo que hierarquiza os motivos e escolhas de cada um e de todos ou a abolição do combate ou competição entre propostas rivais ou juízos alternativos». Tem o Miguel toda a razão. Entendo o comunismo como a subtracção total da política a qualquer forma de jogo, de disputa entre juízos ou propostas".
A dúvida que me angustia é a seguinte: como pode o Bruno sem hierarquizar "propostas rivais ou juízos alternativos" - ou seja, sem considerar os seus argumentos melhores que os meus, sem combater o que julga serem os meus erros, as deficiências do meu raciocínio, a superioridade das suas alegações, etc., etc. - chegar às conclusões que chega e pensar seja o que for a propósito do tema em debate ou de qualquer outra questão em geral?
À dúvida soma-se um receio, inspirado pelo apreço que a pessoa do Bruno me merece: não implicará a angelização, que seria, sempre segundo o Bruno - na caixa de comentários de um post do Zé Neves, inseparável do "homem novo" do "comunismo", não tanto um outro pensamento, como a sua pura e simples supressão?
E, a este receio, vem acrescentar-se por fim, mas em lugar não menos importante, uma apreensão de ordem política: se "entendo o comunismo como a subtracção total da política a qualquer forma de jogo, de disputa entre juízos ou propostas", que poderá restar da política depois de operada semelhante "subtracção total"? Ou, mais radicalmente ainda, não será a aniquilação de toda e qualquer cidade humana - a sua transformação em vida bestial ou impassibilidade divina, como diria Aristóteles - o resultado da subtracção "comunista"?
11/07/10
A "construção de um homem novo", a "transfiguração angélica da espécie" e a "subtracção total"
por
Miguel Serras Pereira
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