09/07/10

Vai um descafeinado?



Contributo, em 3 ponto, para ver se nos entendemos.
1.
O futebol contém um elemento agonístico?
Sim. (Quer o entendamos como competição, quer, mais genericamente, como desafio.)
2. 
Isto é negativo?
Não. Trata-se de um jogo; o objectivo é superar-se e, no caso de uma partida, vencer. O mesmo se passa com muitos outros desportos e nenhum deles é eo ipso condenável como isomórfico ao capitalismo (a menos que se incorra na tal concepção angélica...). 
3. 
Qual é, então, o problema?
Antes do problema, há uma limitação – uma limitação da leitura metapolítica do futebol: aquela que, antes de pensar o futebol como um jogo que se faz “contra”, o pensa como um jogo que se faz “com”, aquela que explora a imbricação entre acção individual e colectiva, etc. As limitações são duas: além do “com”, há o “contra” (o adversário), e o “para” (o golo). Insisto: isto são limitações de uma leitura metapolítica do futebol; não do jogo enquanto tal.
Agora, o problema: à custa deste tipo de discussão, esquece-se que a bola não é apenas o jogo. É a indústria, o espectáculo (naquele sentido que a gente não gosta), o engodo, o fanatismo, a parvoíce, os domingos desportivos, e – o pior – aquele ar absurdo – unheimlich, meus caros – dos comentadores...

Antes que eu me enerve, e já que [quase] se (des)futeboliza o futebol, eu proponho um descafeinado, que isto da bola dá muitos nervos.

1 comentários:

Zé Neves disse...

Cachopo,

a questão é que o contra também é com. joga-se contra mas também com aqueles contra quem se joga. a tensão é constitutiva. no ténis, ou no vólei, por exemplo, a coisa é mais clara, mas nem por isso completamente distinta. trata-se de bater a bola para que o outro bata de volta e eu de novo bata. em competição, isto só em parte se apaga; o edberg dizia uma vez o seguinte: preferia perder com o becker do que ganhar a tantos e tantos a ele inferiores.

há uma dimensão sensível (não chamo estética para não ferir susceptibilidades... :)) no jogo que não deve ser menosprezada. e que os praticantes "sentem". em diferentes graus, o jogo está cheio de "nuances" desta índole: por exemplo, o tipo que prefere passar a bola a marcar o golo. não que isto signifique que ele não queira vencer ou afirmar a sua superioridade pela capacidade de decidir o jogo, mas a diferença introduz "sentidos" que não são simples de reter.

abç

ps - de acordo em relação à necessidade de uma crítica à indústria do jogo. mas uma crítica que será tanto maior quanto mais "sensível" ao que no jogo não é da ordem do "capitalismo". é que o "capitalismo" é sensível a isso.