14/09/10

O salazarismo foi fascista? E será que faz grande diferença?

A respeito da questão sobre se o salazarismo foi uma forma de fascismo, primeiro temos que estabelecer uma coisa - qual é a diferença entre o fascismo e os outros tipos de ditadura de direita? Poderemos considerar que uma diferença é que os regimes fascistas apoiavam-se num movimento de massas mais ou menos organizado, e não apenas (como os regimes da direita "clássica") na repressão policial e militar e na influência da Igreja estabelecida e dos caciques locais.

Se irmos por aqui, dá-me a ideia (com os limites de análise a que alguém nascido em 1973 está sujeito) que Salazar está mais próximo da ditadura "clássica" do que do fascismo.

Outra questão é sobre se isso faz uma grande diferença; afinal, se formos ver, a essência da discussão sobre o "fascismo" ou não do salazarismo acaba por ser algo como "Catarina Eufémia foi morta pela GNR; num regime fascista possivelmente teria sido morta pela Legião Portuguesa"; mas será que a ela lhe faria alguma diferença?

Diria que as diferenças entre fascistas e "conservadores-autoritários" são mais relevantes antes de chegarem ao poder (uns organizam manifestações e usam uniformes, enquanto os outros conspiram com generais em restaurantes selectos). Depois de chegarem ao poder, as diferenças tenderão a esbater-se: uma ditadura clássica, se tiver ambições de continuidade, tenderá a organizar os seus apoiantes (criando, assim, uma espécie de "partido do governo"); por seu lado, depois de um movimento fascista chegar ao poder, muita gente irá entrar para o partido ou para a milícia apenas para fazer carreira, diminuindo o seu vigor ideológico e tornando-os como um mero prolongamento do aparelho de Estado.

1 comentários:

Anónimo disse...

Esta polémica sobre o carácter do salazarismo não é tão velha como a Sé de Braga mas já corre há décadas.

Sem me estar a por em bicos de pés, até porque há imensa e prestigiada bibiliografia sobre o tema, e apenas para quem queira ter um cheirinho desta antiga discussão, permito-mo deixar aqui a eventuais interessados que- em http://ocerejal.blogs.sapo.pt/7780.html e em ttp://ocerejal.blogs.sapo.pt/7595.html poderão encontrar dois artigos meus no «Público» em polémica com Vasco Pulido Valente.

Deles, para já, retiro uma passagem que me parece corresponder ao pensamento do autor deste «post». Reza assim :

«A segunda observação é no sentido de salientar que o texto de Vasco Pulido Valente (acantonando-se nas diferenças e sobrevalorizando-as e ignorando semelhanças substanciais e convergências estruturais) se insere precisamente numa das correntes historiográficas que eu havia caracterizado como aquela que, prisioneira do “fascismo-padrão” de Mussolini, nega o carácter fascista de regimes como o de Portugal e de Espanha.
Esta corrente baseia-se num método de origem anglo-saxónica para o qual, segundo as expressivas e saborosas palavras do historiador Luís Bensaja del Schiró (Vértice, II série, nº 13, Abril de 1989) “foi cunhado um palavrão – “taxonomia”- que pretende reunir um conjunto de postulados teóricos mínimos, sem os quais não se poderá falar em fascismo: uma espécie de sapato de cristal da gata borralheira destinado a excluir todos aqueles regimes que, tendo embora a forma adequada para a experiência, acabam por ser recusados por não se adaptarem rigorosamente ao modelo pré-fabricado”.»