14/09/10

Para variar: uma campanha para um Patriarca

No início do próximo ano, com a resignação prevista do actual Patriarca de Lisboa, com o Presidente da República ainda eleito de fresco, abre-se o processo da sucessão neste importantíssimo cargo na Igreja Católica portuguesa (sem dúvida, o mais proeminente) e que arrasta a ascensão do escolhido à categoria de Cardeal. Pelo que já se pode ler e saber, a campanha eleitoral (não para eleger, porque a escolha não é por votos, mas para condicionar e influenciar a opção do Vaticano) já arrancou e exibem-se candidatos. Como é o caso desta prédica católico-integralista que pede meças ao panfleto político e partidário mais assanhado dos miguelistas beatos dos tempos que correm, onde os fantasmas dos demónios maçónico e socialista aparecem a manietar e a manipular a Santa Madre Igreja do Portugal Profundo e Beato e constitui um autêntico hino promocional ao caudilhismo clementino que se promete e acena como redentor da Fé Lusitana:

Portanto, a Igreja portuguesa precisa que a autonomia face ao poder político, que tem emergido na conferência episcopal neste dois últimos mandatos, por contraste com a abstenção e favorecimento em anos anteriores do poder político anti-clerical e radical, se consolide na escolha do novo Patriarca de Lisboa. Para isso, é fundamental escolher para Patriarca de Lisboa alguém que tenha dado provas de preferência espiritual, de autonomia pastoral face ao poder político, de sabedoria, moderação e prudência, seja insusceptível de promiscuidade com a Maçonaria ou de abstenção perante a deriva radical do Estado, e constitua, no País, uma referência moral com prestígio para recuperar a função da Igreja a partir da sua capital. D. Manuel Clemente, actual bispo do Porto, é o homem certo para esta hora decisiva. Padre, homem bom, ponderado, sensato e prudente, diplomata, com evidente capacidade de diálogo mas firme na decisão, modesto e concentrado na missão da Igreja, com boa figura nos media mas sem concessão nos princípios e resoluções, académico e humano, historiador e moderno, intelectual e organizador, líder pela prédica, escrita e saber, D. Manuel Clemente é a melhor escolha - digo, nesta altura, a única... - para conduzir a Igreja da capital para a função e lugar autónomo que lhe cabem na sociedade nacional. Como noutros casos se diz, e nestes com mais razão, é mesmo por não procurar o novo cargo que é a pessoa indicada para o desempenhar.

(publicado também aqui)

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