14/11/10

Ainda (e por fim) a propósito da Fernanda Câncio

Última palavra sobre este assunto, que já se faz tarde. Não tenho dúvidas que a Fernanda Câncio se indigna com o que aconteceu aos militantes da JCP às mãos da polícia, mas parece-me que, no que escreveu sobre este assunto, ou a partir deste assunto, ou em torno deste assunto, como ela queira, acaba por assumir mais importância a sua vontade de criticar o Avante! e a sua necessidade em fazer a defesa da legalidade da pintura mural. Talvez não seja má ideia a Fernanda Câncio não se levar tão a sério como nesta sua última resposta. É que neste caso não se trata da Fernanda Câncio irritar ou deixar de irritar quem quer que seja. A mim não me irrita e é até com gosto que, de quando em quando, leio as suas crónicas e os seus posts. Só acho que ela não tem razão nesta discussão e a Fernanda Câncio convirá que alguém achar que outrem não tem razão não significa que esse alguém tenha toda uma teoria a respeito desse outrem. As poucas tentativas de teorizar um ser humano que me calharam em sorte tiveram por objecto malta como Bento de Jesus Caraça, Álvaro Cunhal, Maria Lamas ou António José Saraiva e deram-me tanto trabalho que não tenciono voltar a dar para esse peditório, mesmo que a vida e obra da Fernanda Câncio justifiquem, o que não questiono.Também não me parece que a pretensão da Fernanda Câncio em defender a dignidade dos militantes do PCP contra a indignidade a que serão votados pelo próprio PCP seja muito sensata. Não é boa ideia cavalgar as dignidades dos outros. O Eduardo Lourenço, um dia, escreveu uma coisa muito bonita a este respeito, embora a propósito de um debate sobre o neo-realismo, dizendo que alguém que vive voluntariamente numa gaiola não é menos livre do que quem julga que não vive em gaiola alguma. É aliás perfeitamente compreensível, e não é nada indigndo, que o PCP entenda que a repressão policial aconteceu porque os militantes em causa eram militantes comunistas e não de outro partido qualquer. Convenhamos que é menos provável que uma coisa destas aconteça a militantes do PS ou do PSD. Isto não significa que na origem de tudo isto tenha estado o governo ou quem quer que seja com responsabilidades governamentais (tal hipótese, que não sei se o Avante! chegou a colocar, seria idiota). A polícia é uma instituição com culturas próprias autónomas, só isso, e uma parte dessas culturas é um certo anti-esquerdismo (não tão vincado, é claro, como o racismo). Que a Fernanda Câncio dê por garantido que o que aconteceu se deveu à condição feminina e não à condição comunista dos militantes em causa, é compreensível, mas sobre isso remeto para o post escrito pelo Miguel Serras Pereira e que se encontra sob este meu.

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