17/11/10

Como se ganha um dia

Hoje, tropecei numa que gostei e tomei nota, sublinhando-a:

“(…) a questão “reforma ou revolução” adquiriu com o tempo fatais ressonâncias teológicas e míticas, que confundem mais o problema do que podem ajudar a abrir caminho. Tenho visto muitas definições da revolução que “nem para atacadores”, e a redefinição das formas institucionais e do exercício do poder que podemos incluir na ideia de “reforma” pode implicar o tipo de ruptura – depende das reformas propostas – que associamos ao “nome de revolução”. Digamos que não é por aí – pela oposição dicotómica – que o gato vai às filhoses ou, melhor, tiraremos nós as castanhas do lume.”

Ou seja, há mais vontade de tocar corneta que de estudo e prática do solfejo. E aqui nascem, normalmente, as dicotomias. Sobretudo, as semânticas. E delas está a política discutida bem cheia. Mas é o que temos e portanto siga a banda.

(publicado também aqui)

11 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

Tem graça. Também tropecei nessa. Ou hoje ou ontem.
:)

João Tunes disse...

Por supuesto!

Miguel Serras Pereira disse...

Caríssimos,
se eu acreditasse na propriedade das ideias, teria de apresentar uma reclamação formal e diria que alguém me anda a roubá-las.no entanto, inimigo da ordem estabelecida como reformista que sou, não posso senão congratular-me com o sucedido. O que me pergunto é que factual-viandantes são vocês para não terem dado pelo facto de eu ainda há poucos dias ter publicado aqui um post que o autor do texto em que vocês agora tropeçaram se limita a retomar?
Aqui fica um trecho para que não se diga que tresleio:
"Na medida exacta em que, assente na participação igualitária e na auto-organização dos trabalhadores e do conjunto dos cidadãos, a extensão do exercício das liberdades e o aprofundamento da democracia entendida em termos inseparavelmente políticos e económicos — e uma coisa porque outra — (…) forem conseguidos, será de facto uma mudança de regime de exercício do poder o que teremos, muito para além da simples mudança dos governos e da composição partidária dos governos, ainda que complementada por uma renovação do pessoal político dos partidos. As reformas que defendem a Sandra [Monteiro] e o Zé Maria [Castro Caldas] serão uma democratização radicalmente instituinte — e, por isso, se assim quisermos chamar-lhe, mas sem abusar da palavra, revolucionária — ou não serão"
(http://viasfacto.blogspot.com/2010/11/da-democratizacao-como-plataforma.html).

Enfim, seja como for, sinto-me tentado a subscrever quase ipsis verbis as palavras que o (também reformista) camarada João Tunes cita e a impoluta revolucionária camarada Ana me parece não achar completamente deslocadas.

Abrç para ambos

miguel sp

LAM disse...

Já agora, não ficava mal e até era bonito citar o nome do autor da coisa...

Miguel Serras Pereira disse...

Ou antes, caro LAM, discutir a própria ideia, sem cuidar para o efeito dos "direitos de propriedade"?

msp

Niet disse...

OH. MS. Pereira: A tua boa-vontade e generosidade não estão a ir longe demais? Com franqueza! Chorrilho de epítetos e de declarações políticas, para quê e para quem? Não te propunhas a fazer um Blogue frentista e sem tendências marcantes? Mas, sobretudo, contra os fantasmas do Marxismo-Leninismo nacional mais estereotipados? O bom do J. Tunes, sem que ninguém lhe perguntasse nada, apresentou-se no Blogue como " reformista ". Prática admirável e de grande coragem ética e política nestes tempos de salve-se quem puder e de
imagens perversas. Com a tua grandeza intelectual e a tua experiência política e social, por certo,como disse o Outro,sou eu que não consigo atingir o alcance das tuas avaliações! Niet

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Niet,
se leres bem o texto que o J. Tunes cita e o compararaes com as posições que tenho defendido aqui e, já antes, no 5dias,verás que não há lá nada que eu não possa subscrever. A ruptura e a transformação democrática do regime oligárquico que nos governa em que estou apostado visam a participação responsável e igualitária dos cidadãos, a "cidadania governante", a deliberação e assunção por todos os implicados das decisões que lhes dizem respeito. E é isso que importa - muito mais em todo o caso do que o facto de adjectivarmos a defesa e conquista da autonomia democrática, a acção democrática instituinte, como "revolucionária" ou "reformista".
Saúde, liberdade e, como costumas dizer, bom vento!

msp

Niet disse...

Caríssimo MS Pereira:Mas o Castoriadis- na linha de um Kropotkine- não nos diz que a Revolução é impensável,absolutamente? Claro,há sempre rastilhos e processos a ter em linha de conta. Mas, por outro lado, lendo Negri ou Mattick, também se fica com a percepção aguçada de que tem que haver um corte- radical/ruptura- com os movimentos e partidos políticos " tradicionais " que " representam o proletariado e os sindicatos.Bom vento! Niet

LAM disse...

MSP, não são os "direitos de propriedade" que estão em causa na minha observação. São antes questões (mínimas) éticas independentes de qualquer legalidade em vigor e, porventura mais importante (e respondendo ao desafio de poder discutir a própria ideia), poder ter acesso ao texto integral.
De resto é uma prática que o Miguel, e bem, também segue.

João Tunes disse...

Mas, ó LAM, o autor já se acusou. E, entretanto, a conversa já há muito saíu do adro da transcrição. Felizmente.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro LAM,
não havia intenção de desvalorizar a sua pergunta no meu comentário anterior. Mas, à força de concisão, posso ter dado a ideia contrária. Só quis chamar a atenção para o que me parece mais importante discutir. E suponho que até não discordará completamente de mim sobre a necessidade de pormos de lado alternativas sumárias que acabam por constituir cortinas de fumo, em detrimento das que realmente contam.

Cordiais saudações democráticas

msp