11/11/10

de Laurentiis

Quando os cinéfilos maduros reactivam a nostalgia do cinema italiano neo-realista (o das décadas de 50 e 60), saltam as lembranças de muitos actores, actrizes e realizadores. E surgem as disputas nas preferências, tantos e tão variados talentos ficam sob discussão e competição de gostos. Adiada a continuação destas contendas nunca resolvidas, sobram as disputas, estas menos divertidas embora igualmente afectivas, sobre as temáticas e as fidelidades ideológicas. Para os mais exigentes, ou mais abrangentes, ainda há sobremesa para servir quanto à divagação sobre a imaginação mágica e o refinamento estético. E ninguém se lembra que tão prolixa produção e tão repleta de génios e belezas (mesmo quando estas vinham da estética do feio) custou dinheiro (muito) e deu dinheiro (muito) a ganhar (quando não ameaçava ruínas e falências). E que eram uns senhores, os esquecidos produtores, ditadores do controlo dos custos, medindo os projectos criativos em dólares, os vigilantes dos desvarios estéticos dos realizadores, as vozes “do mercado”, as chaves de ter havido cinema, este e os outros. E sem eles, os produtores, não havia vício cinéfilo a alimentar.

Para os cinéfilos, sobretudo os nostálgicos do glorioso cinema italiano, essa tribo que muito estimo pertencer, Dino de Laurentiis, a par ou em alternativa com Carlo Ponti, era nome que corria rápido no genérico e logo se esquecia. Depois, e o que restaria agarrado na memória, era Mangano ou Magnani, Visconti ou De Sicca, a glória do cinema sobretudo a preto e branco, pesem tantos embrulhos em melodramas. E por cada película mitificada, nada ficava ligado a Laurentiis ou Ponti. Mesmo sabendo sem disso querer lembrar, que sem eles aquela magia não existia para viver e arquivar em memória viva.

Lembrei-me agora dessa injustiça de registo de recordação e tributo. Quando leio a notícia da despedida da vida, aos 91 anos de idade, de Dino de Laurentiis. O que torna irremediavelmente tarde repô-lo na galeria dos meus velhos tributos ao cinema italiano. Nada a fazer, há injustiças que têm o selo fatal da eternidade.

(publicado também aqui)

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