13/11/10

Levante-se você seu filho da puta

Ontem a TVi24 organizou um pequeno debate em torno da proposta de criminalização dos actos de governação que lesem o interesse nacional. Eu sou um tipo estúpido, estava engripado, e fiquei a ver a coisa. A proposta é de Pedro Passos Coelho, como é sabido. Os três participantes no debate da TVi24 eram favoráveis à proposta. Parece que a TVi24 não quis ofender o bom do "interesse nacional". Aliás, a lógica do "interesse nacional" é muito voraz: se há uma proposta em nome do "interesse nacional", organizar um debate com alguém crítico de uma proposta que zela pelo "interesse nacional" não constituirá uma ofensa ao "interesse nacional"? Isso ou a TVi24 anda a fazer fretes ao PSD (não sei, não vejo o canal com regularidade). Vejam bem quem eram os convidados: um dos participantes era a comentadora Helena Matos, o outro era o juíz Rui Rangel (vestido de negro e sempre em tom mui possesso, ao estilo do bom Donald Sutherland em Il Novecento). O terceiro participante era, ainda assim, o menos fanático: o vice-presidente do PSD Jorge Moreira da Silva. O discurso de Rangel é uma pérola: confunde deliberadamente (espero!) a criminalização da corrupção com a actual proposta de Passos Coelho (que é, no fundo, neste contexto, nada mais do que uma tentativa de criminalização do que a direita política e intelectual consideram "despesismo") e diz que os governantes não têm o direito de colocar em causa o "interesse nacional". E quem decide o que é o "interesse nacional", pergunto eu, já que o moderador ficou caladinho? O juiz, claro está! Eu só espero que Sócrates, se um dia for levado a tribunal pelo seu "despesismo" (se for por outras coisas, como o Freeport, é outra questão!), tenha os tomates no sítio e cite o ido João César Monteiro, quando este, perante o juiz que lhe dizia "levante-se o réu", retorquiu "levante-se você seu filho da puta".

1 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Nem mais, camarada Zé Neves.
Se a ideia fosse criminalizar o interesse nacional, era de rejeitar na mesma, mas sempre poderia acrescentar-se que há outros meios e melhores de combater os mitos, enquanto estes não se queiram impor como crença obrigatória e fonte da lei. Agora assim… só atiradosd ao Tua - ou talvez ao Tejo, se parecer mais simples - antes que criminalizem o resto.

Abraço solidário

miguel (sp)