01/11/10

O Outro Movimento Operário

A frase é longa mas atalha caminho - é assim: o Nuno Ramos de Almeida escreveu há já algum tempo um post acerca de um post meu e esse post do Nuno foi agora retomado por Filipe Moura num posto que por sua vez foi aqui rebatido pelo Miguel Madeira em termos com que no essencial concordo. O Nuno sugere, e Filipe Moura corrobora, que a crítica do trabalho será própria de um certo esquerdismo intelectual. Diz que é a malta que vive de bolsas nas universidades e Filipe Moura logo acrescente que é a esquerda cervejeira que ele em tempos identificou. Eu não vou aprofundar agora a discussão em torno do rendimento garantido (que, em formulações mais antigas e também nas mais recentes, não é simplesmente reflexo de uma ideologia anti-trabalho – no caso de Negri, não o é de todo – mas sim de uma ambição política e de uma análise económica; ambição política que pressupõe que sem um mínimo de condições económicas não há cidadania política possível e análise económica que entende que a produção não é apenas e só aquilo que acontece no local de trabalho, até porque este nem sempre se encontra definido, e que por isso o movimento deve incluir outras formas de luta pelo direito ao dinheiro que não passem apenas por uma luta pelo salário). Do que quero dar conta é de uma dimensão histórica que o Nuno conhece bem e que o Filipe, com mais ou menos cerveja no bucho, também poderia conhecer. É assim: muitas das "ideias" por vezes associadas às correntes autonomistas (na formulação mais específica) ou à esquerda cervejeira (na formulação mais cretina) são também parte da história do movimento operário. Ao contrário do se supõe, coisas como Maio de 68 não foram apenas o efeito de um festival de meninos e meninas da universidade (e se fosse), mas a constelação de um conjunto de profundas transformações a nível do movimento operário - outro movimento operário, como disse Karl-Heinz Roth, mas ainda assim.

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