Tirar aos seus

É bom ter Manuela Ferreira Leite de volta à ribalta parlamentar. A franqueza com que fala de "quem manda" e a sua mundivisão sobre a inevitabilidade da austeridade dizem mais sobre o bloco central do que horas de crispação televisiva entre PS e PSD. A tentativa de demarcação dos socialistas com recurso a um fidelista "a história vos julgará" não esconde a convergência de fundo, expressa na tese do "fingimento". O orçamento é mau, é péssimo, é recessivo, mas não há alternativa. Confrontada pelo PCP e pelo BE com a necessidade e a possibilidade de outros caminhos, resolveu mostrar que a sua gaffe sobre a interrupção da democracia por seis meses não foi uma gaffe. Era mesmo um desejo. Extraordinária, a esse respeito, a resposta que deu a Honório Novo: "mas isso de quem paga é quem manda - cito de cor - é o que o senhor faz lá em casa com os seus filhos". Imagino Ferreira Leite vestida de "mercados financeiros" a tratar os filhos como se fossem um país em bancarrota, tirando com o dedo mindinho as moedas longamente guardadas no porquinho de barro. Dá medo, eu sei.