20/11/10

Uma Nota do João Bernardo: "contra o (…) apoio ao Hamas, ao Hezbollah e ao regime iraniano"

Recebi do João Bernardo que, a meu pedido, permite aqui a sua publicação esta reflexão, que julgo exemplar, sobre a questão da chamada "resistência islâmica" e da sua natureza política. Aqui fica, com uma calorosa saudação solidária ao JB, a sua missiva.


Caro Miguel Serras Pereira,

Tenho seguido com interesse e alguma melancolia a luta que travas no Vias de Facto contra o disparatado apoio ao Hamas, ao Hezbollah e ao regime iraniano. Se a extrema-esquerda portuguesa não estivesse alheada de tudo quanto é importante e mergulhada na futilidade, decerto consideraria essa como uma das polémicas actualmente mais relevantes. O que me preocupa é que aquele apoio, e os termos em que ele é dado, em nada diferem da defesa que o Partido Comunista alemão fazia da extrema-direita contra o tratado de Versailles durante a República de Weimar. A posição dos que hoje enaltecem o Hamas e quejandos com argumentos considerados de esquerda é idêntica à posição daqueles que outrora defendiam a política anti-Entente da extrema-direita alemã e acusavam de social-fascista a social-democracia. E o pior é que essa linha, imposta pelo Zinoviev ao Partido Comunista alemão, foi a linha geral do Komintern, aplicada em todo o mundo, até o Stalin ter decidido que afinal os sociais-democratas não eram social-fascistas e eram só social-democratas e ter decretado a política das frentes populares. Aliás, já desde a época de Lenin que a política externa soviética considerava com toda a naturalidade que um regime era revolucionário pelo facto de ser antibritânico, mesmo que massacrasse os comunistas no interior do país. Foi o que sucedeu relativamente à Pérsia e à Turquia, por exemplo. Depois de ter sido expulso da União Soviética, Trotsky mudou de ideias a respeito de várias questões e escreveu então páginas muito lúcidas de crítica à linha que vituperava o «social-fascismo». Mas os trotskistas que hoje defendem como anti-imperialistas regimes e organizações ultra-reaccionários parecem ignorar os textos do mestre, como parecem ignorar muita coisa. Sei bem que as tão celebradas lições da história não ensinam nada a ninguém, porque os mesmos erros são repetidos desde que as mesmas pressões reais sejam sentidas. E aqui surge-me um problema ideológico de vulto. O materialismo histórico explica muito bem — pelo menos, explica a meu gosto — como os interesses económicos e sociais levam as pessoas a defender certas posições, mesmo que a história tenha demonstrado que se trata de posições votadas à catástrofe. Mas que interesses económicos e sociais levam um grupúsculo da quarta internacional, ou sujeitos bem intencionados que não pertencem a grupúsculo nenhum e pensam por sua conta e risco, a tomar aquelas posições? Numas circunstâncias como as da República de Weimar, vivendo sob o diktat de Versailles, e numa organização como o Partido Comunista alemão, o maior do mundo depois do soviético, eu compreendo isso e vários historiadores colocaram lucidamente o problema. Mas no Portugal de hoje, e da parte de gente assim? Como explicar? O pior é que estas coisas, se dão vontade de rir como teoria, são apavorantes como sintoma. Por isso eu digo que a tua polémica me parece muito importante.
Cordialmente,
João Bernardo

94 comentários:

Anónimo disse...

É a NATO pá! É a NATO...

Nuno Ramos de Almeida disse...

O comentário do João Bernardo é um nojo. Ele é o exemplo do que fala. Tudo justifica um anti-comunismo visceral. ó João Bernardo, recorda-me lá: a Rosa de Luxemburgo foi assassinada por tropas da extrema direita ,antecessoras dos nazis, a mando de que governo? Se bem me lembro, os Freikorps estavam a mando dos queridos sociais democratas.
A insinuação que os comunistas alemães apoiaram os nazis é simplesmente imbecil. Eles foram os primeiros a combater o nazismo. O primeiro acto da repressão nazi foi o seu assassinato, até cozinharam o incêndio do Reichstag para isso. À gente que não aprende, cada vez que vê um comunista saliva e era capaz de se aliar aos fachos mais reles.

Nuno Ramos de Almeida disse...

Há gente que não aprende,claro.

Miguel Serras Pereira disse...

Olha, Nuno, tenho lido, apreciado e até chamado a atenção pars alguns dos teus posts recentes, mas este teu comentário - a um texto que denuncia o mesmo culto da "resist~encia islâmica" que tu hoje mesmo denunciaste no 5dias - é absolutamente impróprio para consumo.
Quanto à matéria que te indigna, podes negar que os comunistas alemães apoiaram o Pacto Germano-Soviético? Podes negar que os "soviéticos" entregaram comunistas judeus aos nazis? Podes indicar uma única afirmação de facto menos rigorosa no texto do JB?
Aliás, aconselho-te vivamente a leitura da série de artigos que o JB publicou no Passa Palavra sobre o assunto, onde poderás desfazer muitas dúvidas:

"Ruth Fischer, que dentro do Partido encabeçava a ala oposta Brandler e Thalheimer e defendia um empenhamento ainda maior na abertura à extrema-direita, chegou ao ponto de considerar o anti-semitismo como uma componente do anticapitalismo. «Quem luta contra o capital judaico [...] é já um combatente de classe, mesmo que o não saiba», proclamou ela num discurso. «Abatam os capitalistas judeus, enforquem-nos nos candeeiros, esmaguem-nos!». A geopolítica substituíra francamente a luta de classes.
(…)
"Em Abril de 1924, no 9º Congresso dos comunistas alemães, a facção de Ruth Fischer afastou Brandler e Thalheimer e assumiu a direcção. Um interveniente no congresso denunciou a existência de correntes hostis aos judeus no interior do Partido e nesta ocasião Clara Zetkin observou lucidamente que a nova maioria simpatizava tanto com o esquerdismo contrário à actividade parlamentar como com o fascismo anti-semita. Mas a velha amiga de Rosa Luxemburg fora afastada de qualquer influência partidária e era mantida em Moscovo como uma figura decorativa. Os avisos, estes e outros, foram em vão. Os novos dirigentes do Partido Comunista alemão não só encerraram quaisquer veleidades de se estabelecer uma frente única com a social-democracia, como apresentaram enquanto tarefa principal a liquidação completa do Partido Social-Democrata.
"Foi então que Zinoviev, à frente da III Internacional, decretou que a social-democracia constituía um «social-fascismo» e que todo o perigo do fascismo vinha dos partidos sociais-democratas. Classificar a social-democracia como «social-fascismo» foi a condição ideológica necessária para que os comunistas seguissem uma estratégia nacional-bolchevista. Estes dois duplos conceitos aberrantes justificavam-se mutuamente, e os partidos comunistas, ao mesmo tempo que tentavam ultrapassar a social-democracia pela esquerda, tentavam também ultrapassar o fascismo pela direita, proclamando-se eles como os verdadeiros nacionalistas. Esta orientação não se restringiu à Alemanha e aplicou-se a todo o mundo. Até nos Estados Unidos o minúsculo Partido Comunista combatia denodadamente, ou seja, à paulada na rua, o cordato Partido Socialista. Em França não foram poucos os comunistas a simpatizar com certas acções de rua das milícias fascistas, enquanto a direcção do Partido se recusava a qualquer unidade de acção com os socialistas. A actuação dos partidos comunistas facilitou a ascensão dos fascismos em todo o mundo, mas foi na Alemanha que teve consequências mais catastróficas" (http://passapalavra.info/?p=5364).

Se não queres ler o JB, tens outros historiadores e autores de testemunhos inequivocamente comunistas onde encontrarás os mesmos factos. E deixa-me que te diga que repugnante é negá-los. Esperando que recuperes a lucidez e a honestidade intelectual que sempre te supus ainda quando mais vivamente discordámos, mas decepcionado com a tua atitude e com o teu súbito descarrilamento político

msp

Miguel Serras Pereira disse...

COMENTÁRIO DE JOÃO BERNARDO:

"Tenho por hábito não responder a comentários insultuosos, e o tom em que o comentário de Ramos de Almeida está redigido é suficiente para classificar o autor. No entanto, como pode haver leitores interessados pelos factos, indico muito resumidamente e em linhas gerais o que é do conhecimento de qualquer historiador do assunto.
Quando Rosa Luxemburg foi assassinada a social-democracia alemã dividia-se em dois partidos. O Partido Social-Democrata propriamente dito, que estava aliado ao exército e às milícias de extrema-direita, e o Partido Social-Democrata Independente, que era uma das principais forças componentes da Revolução dos Conselhos. Mais tarde o Independente dividiu-se; uma parte juntou-se aos comunistas, e foi isto que permitiu ao Partido Comunista alemão tornar-se o maior a seguir ao soviético, e outra parte regressou ao velho Partido Social Democrata. A linha de aproximação ou de verdadeira aliança do Partido Comunista com a extrema-direita alemã iniciou-se em 1923, com o discurso de Radek por ocasião do fuzilamento de Leo Schlageter, e durou até à ascensão de Hitler ao poder. Essa linha adquiriu uma hegemonia absoluta depois do afastamento de Brandler e de Thalheimer, quando Ruth Fischer e, depois dela, Ernst Thälmann assumiram a direcção do Partido Comunista. Mesmo depois de Hitler ter sido nomeado chanceler, o Komintern continuava a proclamar que a social-democracia, classificada como «social-fascista», era o principal perigo na Alemanha. Só o VII Congresso do Komintern e a decisão de criar Frentes Populares alterou a situação."
João Bernardo

Nuno Ramos de Almeida disse...

Estou-me perfeitamente a borrifar para a luta eterna do João Bernardo contra os comunistas. É feito da massa dos tipos que defendem os mísseis da nato , desde que fossem contra a União Soviética, uma espécie de Castoriadis de pacotilha. Conheço a história do pacto germano-soviético e a entrega de comunistas alemães. Faz parte dos imensos crimes do estalinismo. Contesto e continuo a contestar a leitura simplista e sectária que afirma que os comunistas alemães foram aliados dos nazis. Os comunistas alemães foram os primeiros a alertar o perigo nazi e as suas primeiras vítimas- que me lembre até um dos líderes do DKP que citas morreu num campo de concentração, como são os comunistas do médio-oriente as primeiras vítimas dos fundamentalistas islâmicos. A história sectária é feita do silêncio e pretende passar-nos por tolos. Esquece-se de muita coisa: esquece da recusa franco-britânica de fazerem um pacto, antes da segunda guerra mundial com a União Soviética, apaga da história a entrega da Checoslováquia aos nazis e, sobretudo, escamoteia o papel nefasto dos sociais democratas na Primeira Guerra Mundial e na repressão aos comunistas por toda Europa. Pode ser uma história que tu Miguel queiras acarinhar, mas não passa de uma história alinhadinha aos gajos de costume, e com a habitual propaganda em todos os meios oficiais. Não creio que seja uma história de inocentes úteis, pq é feita por gente nada inocente. Pessoalmente, merece-me muito pouco respeito.

Miguel Serras Pereira disse...

Nuno,
não vou discutir contigo o Castoriadis e o Devant la guerre - que não só não defende a NATO coisíssima nenhuma, como, sob certos aspectos, analisa em termos que continuam a valer a decomposição social, a apatia política, a privatização e "banditização" do poder político induzidos pelo regime do tempo. Quanto ao JB, nunca defendeu a NATO, nem sequer os social-democratas locais. mais ainda, tem desde sempre criticado implacavelmente as mistificações das oligarquias capitalistas ocidentais e a sua natureza radicalmente antidemocrática. No Passa Palavra tem até um breve ensaio histórico sobre a selectividade dos bombardeamentos aliados durante a guerra contra a Alemanha, que contribui para a desmontagem eficaz da versão hagiográfica dominante.Se ele é anticomunista pelo que aqui escreve, tens uma lista interminável de revolucionários, no campo da teoria e/ou da acção, a incluir ao lado do seu nome, lista que, se insistires em elaborá-la, só a tua credibilidade abalará. Por outro lado, na resposta ao teu lamentável comentário, o JB põe bem evidência as responsabilidades e os crimes da ala direita da social-democracia alemã nos primeiros anos da República de Weimar. No que se refere às responsabilidades e complacências relativas à ascensão da extrema-direita em toda a Europa por parte do eixo franco-britânico, etc., ninguém as põe em dúvida. Só que, como tu próprio dizias há pouco noutro lado as monstruosidades do Tratado de Versailles não justifica o nazismo nem o torna uma resposta progressista ao imperialismo britânico.
Por fim, comparar, como sintoma inquietante, a atitude de certas tendências que se reclamam do anti-imperialismo para apoiarem hoje os "queridos fundamentalistas" com a política de contemporização com o nazismo das direcções estalinistas, não vejo o que tenha de anticomunista: pelo contrário, eu diria que conforta até a denúncia a que tens procedido das posições de grupos como a Rubra, etc. Negar os factos em que o JB baseia a comparação proposta é como negar o anticomunismo do regime de Teerão. E aqui deixa-me recordar-te a resposta que hoje mesmo deste ao xatoo a esse respeito: "chato,
tens toda a razão, os comunistas nunca foram incomodados no Irão. Tudo não passa de um desenho animado em que tu, com todo o respeito, és um palhaço, pelo que percebo" (http://5dias.net/2010/11/20/os-nossos-queridos-fundamentalistas/#comments).
Porra, Nuno, ainda que discordes da análise dos efeitos devastadores da famigerada linha do "social-fascismo" do KPD na época a que o JB procede, é inaceitável o modo - conscientemente ou não - calunioso como o difamas.
Não queres entendê-lo?

msp

Nuno Ramos de Almeida disse...

Miguel,
É estranho que não aches difamatória a tese que foram os comunistas os principais apoiantes dos nazis. Estranho que , podendo ter cometido erros, tu não reconheças que eles foram, pelo menos, as suas primeiras vítimas, já que a tua religião te impede de admitir que foram eles quem mais combateram os nazis na Alemanha. Estranho que não percebas que uma teses dessas é difamatória para qualquer comunista e, sobretudo, mentirosa.

Miguel Serras Pereira disse...

Nuno,
isso é desconversar. Ninguém disse que os comunistas foram os principais aliados dos nazis na Alemanha. E eu também não disse que os nazis não perseguiram os comunistas com uma sanha particular. Nem nego - o JB lembra-o bem no artigo que há pouco citei - que muitas vezes as bases comunistas contrariaram na prática a linha de contemporização com o nazismo temporariamente adoptada pelo Comintern. Menos ainda nego - e espero que nisso ao menos me acompanhes - que muitos dos adversários (Paul Levi, o companheiro de Roisa, e tantos outros) da política de Estaline continuaram a ser comunistas, embora lutando contra o KPD. Mas, se é assim, porque é que se torna hoje "anticomunismo" achar que esses comunistas tinham razão?

msp

Miguel Madeira disse...

Só um detalhe - não acho que a "Rubra" esteja assim em tão grande ruptura com as posições de Trotsky - afinal, este também defendia que "se o bei de Tunis se lançasse numa guerra anti-colonial contra a França, o progresso estará ao lado da monarquia bárbara contra a república democrática"

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Já agora deixem-me meter a colherada neste assunto. Escrevi há tempos um texto sobre O Desvio Esquerdista e Sectário da Internacional Comunista (1929-1934) http://www.comunistas.info/?no=4000;ano=2007;mes=7;i=192 que foi publicado no site da Renovação Comunista, que por acaso aborda este tema que vocês estão aqui a tratar. Se acho que o Nuno exagera o papel um pouco repressor da social-democracia, o João Bernardo ignora alguns factos históricos importantes, tentando valorizar mais a ligação comunistas-nazis. Se de facto a denominação de sociais-fascistas ao partido social-democrata já vem de trás, foi com Estaline e a sua necessidade de lutar contra Bukarine e a direita bolchevique e acima de tudo com o início da colectivização forçada na URSS, em 1929, que se dá uma forte guinada esquerdista na Internacional Comunista. Foi criado o conceito de “terceiro período”, ou seja, a terceira crise do capitalismo, que de facto começa em 29. Por outro lado a Internacional começa a defender a palavra de ordem “Classe contra Classe”, desvalorizando a ascensão do nazismo e considerando que seria fácil derrotá-lo e que os seus piores inimigos eram a social-democracia. Tal como depois o MRRP, seguindo as posições da China, começou a acusar os nossos comunistas do PCP de sociais-fascistas. Só em 1934, e depois do VII Congresso da Internacional, em 1935, é que Estaline, percebendo os perigos do nazismo e necessitando de alianças a ocidente, permite que Dmitrov lance a política das Frentes Populares. Por isso, quando o João Bernardo ou por ignorância ou má fé isenta Estaline da responsabilidade da política contra o social-fascismo está pura e simplesmente a deturpar a história.
Quanto ao João Bernardo conheço-o bem da pateada no CCUL, já aí manifestava o seu anti-PCP militante.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Desculpem mas apaguem os meus comentários a mais. Foi por pura ignorância informática

Miguel Serras Pereira disse...

Jorge Nascimento Fernandes,
o seu comentário levanta questões importantes, mas é lamentável que, ao rematá-lo, você escreva que o JB "isenta Estaline". O que, para quem o tenha lido minimamente, é demasiado forte e raia o delírio. Ou quererá você dizer que o JB pensa que para explicar o estalinismo é necessário não nos ficarmos por culpar a (hedionda, sem dúvida) personalidade de Estaline, transformado de génio salvador incomparável em não menos genial espírito de todo o mal?
Não menos lamentável é que, cedendo a um tique estalinista, vá desenterrar para desacreditar o JB um episódio com mais de quarenta anos, datando provavelmente dos tempos da FAP e da ruptura com o PCP de Francisco Martins Rodrigues - que prova o quê? Que o JB passou pela FAP? Que foi, em muito jovem e por um breve período, "marxista-leninista", passando muito rapidamente dessa posição - antes de Abril de 1974 - às que, no essencial, ainda hoje mantém e que um "renovador comunista" teria aparentemente todo o interesse, para merecer o seu nome, em considerar e discutir?
Não acha que mudar de tom e abster-se de certos métodos polémicos de má memória facilitaria o debate e lhe permitiria expor mais proficuamente os seus pontos de vista sobre a querela do "social-fascismo"?

msp

Miguel Serras Pereira disse...

COMENTÁRIO DE JOÃO BERNARDO

A propósito do comentário de Nascimento Fernandes, é bom ver que há quem tenha boa memória. Não imaginava que alguém ainda se lembrasse desse episódio da pateada no Cine-Clube Universitário de Lisboa em 1967, que levou a direcção (de predominância maoísta) do Cine Clube a expulsar um sócio (eu, igualmente maoísta) que havia dois anos antes sido expulso por oito anos de todas as universidades portuguesas, a maior expulsão universitária de sempre durante o fascismo. Esta minha nova expulsão indignou várias pessoas. O filme que eu pateara era de um realizador soviético e o que me chocou foi a péssima qualidade estética do filme e não o país do realizador. Na sequência dessa minha expulsão de sócio escrevi e distribui uma «Carta Aberta aos Sócios Espectadores do Cine Clube Universitário de Lisboa Sobre a Liberdade e a Necessidade de Patearem ou Não». Esta carta-aberta tinha a forma de um abaixo-assinado e, além da minha assinatura, que encabeçava a lista, tinha outros 43 nomes, entre os quais encontro os de Antonieta Coelho, Ruben Tristão de Carvalho, Rui Calapês, Valentim Alexandre e Ana Potier Ferreira Abel, todos eles membros do Partido Comunista. É curioso considerar que estas pessoas me acompanharam no que o Nascimento Fernandes classifica como o meu «anti-PCP militante». Não desejaria criar agora problemas ao Ruben, coitado. Aquela carta-aberta acabou por não ter sequência, porque pouco tempo depois passei à clandestinidade. Recordo que de 1963 até 1966 fui militante do Partido Comunista. Durante esse período estive preso duas vezes e saí do Partido Comunista vários meses depois da minha segunda prisão e por minha livre vontade.

João Bernardo

Niet disse...

O texto-crítico de Jorge Nascimento Fernandes, aqui inserido, constitui uma forma muito (auto)-limitada de argumentação histórica e política, quase que a cair nos vícios que pretende criticar,assumindo um recorte polémico de forma paradoxal.E mutilando dados essenciais que envolveram a despudorada e maquiavélica manipulação da Internacional Comunista ( VI e VII Congressos)por parte de Estaline e do seu " enviado " Molotov. JN Rodrigues " ilude " o facto de a táctica da I.C. de hipotéctica( Trotski apelidou-a de absurda!) linha de afrontamento -classe contra classe no terreno...-se
implantar num engenhoso e perverso esquema " oportunista " criado por Estaline e os seus apaniguados: a ficção da "unidade lógica" entre greve geral e greve política revolucionária. E o Programa da IC data de 1928. O complexo de formação dessa táctica estaliniana tem a ver com o exílio de Trotski, os dissabores sociais e políticos criados pelo processo contraditório da NEP e da luta anti-koulaks, o papel crescente e paralelo da Tcheca no controlo do partido do partido deliberado na XVI Conferência de Abril de 1929, a questão do Kuomintang, do comité anglo-russo e o putch de Cantão, onde os estalinistas se aliaram a todos os oportunistas e pescadores de águas turvas para tentarem conquistar e controlar o poder...Como disse Trotski, marcar revoluções com data e hora fixas, como queria a lógica do " Terceiro Periodo ",da cartilha inventada por Estaline/Molotov e seus cúmplices na I. Comunista, só pode conduzir os partidos comunistas a averbarem derrotas, ou trágicas, ou estúpidas e humilhantes. Sobre o terror burocrático e policial de Estaline, JN. Rodrigues deve saber que foi Lenine em Março de 1921 que empregou/inventou a expressão " infracção/desvio " à lógica " monolítica( Zinoviev/Estaline) que tentaria implicar toda a vida do partido.Niet

Jorge Nascimento Fernandes disse...

O texto de João Bernardo, o professor universitário, com obra publicada, faz referência a uma série de gente que passou pela Internacional e que depois foi morta por Estaline, dando a ideia de que foram eles os únicos responsáveis pelo pela política do social-fascismo, aquando a esquerdização da Internacional, da política do “terceiro período” e da “classe contra classe”. O João Bernardo só fala de Estaline a propósito das Frentes Populares, coisa que de facto ele nem foi muito claro a aprovar. Deixou sempre aos outros esse serviço. Sabendo nós a comichão que provoca em certa esquerda a política da Frente Popular, ligar Estaline unicamente a ela é quanto a mim isentar o mesmo das responsabilidades pela esquerdização da Internacional. Quanto ao texto de niet é uma ligação de factos, muito mal enjorcada, que em nada nega aquilo que eu disse.
Quanto ao cineclube. A memória do João Bernardo traiu-o, tal como ao Pacheco Pereira na história para que vos remeto http://dotecome.blogspot.com/2007/11/museu-do-neo-realismo-pateadas-e-cine.html. A pateada, provavelmente estava combinada para o filme polaco, os Cavaleiros Teutónicos, mas aconteceu de facto nas Sonatas do espanhol, Juan António Barden. Tal como eu digo no post para onde vos remeto, a direcção do CCUL era afecta ao PCP e não aos maoistas e sei que na altura o responsável pelo CCUL ficou muito incomodado como que se passou. Se o Rubem assinou o abaixo-assinado foi à revelia do seu partido. Mas o assunto é passado e penso que está descrito com alguma distância por mim no post referido. Se o João Bernardo, depois das acusações que lhe fiz, quiser dar a conhecer o abaixo-assinado, já que o Pacheco Pereira nunca mo enviou, tenho algum interesse nisso, porque mais dia menos dia vou tentar fazer uma pequena história do Cine-clube, pelo menos dos longos anos que por lá andei. Há tempos fiz um post relativo ao assalto da PIDE ao Cine-Clube.
Quanto à sua expulsão do cineclube parece-me auto martírio a mais. Nunca a direcção propôs ou tomou tal medida. Se alguém mais exaltado - o presidente era o Russo Dias, de Direito -, lhe falou nisso na discussão que ouve no átrio do cinema Imperial onde foi exibido o filme, isso nunca se concretizou na prática. E falo desta discussão que eu não assisti, mas que soube depois que existiu, para não o acusar de estar simplesmente a inventar.

Niet disse...

Jorge Nascimento Fernandes: Custa a crer e a sustentar o delírio do seu ego, com franqueza.E denotam-se nele,com as vénias e as etiquetas de classe, uma grande condescendência com os estigmas do imaginário mais redutor da ideologia dominante...O sr. não percebe do que fala, mas ainda está a tempo. No seu texto numero 1, fala de " esquerdização " promovida por Staline contra Boukharine no interior da I.C. em 1929. Isso é um " erro " político de palmatória. Anos antes, Boukharine tinha a fama de " ultra-gauche " dentro e fora da URSSS...E além de tentar unir as facções do C.Central, Estaline incluído,nunca tentou tirar partido da sua influência e poder como bolchevique puro e duro da primeira hora. Eu já demonstrei por que ele se opõs ao plano de Estaline para a IC: no contexto interno e externa da União Soviética da altura. Aliàs, Estaline serve-se, sucessivamente, de Boukharine, Radek e Molotov para tentar " calar " Trotski e a sua influência estratégica internacional.JN Fernandes fala disto tudo sem pormenor,dados e usando as marcas de um discurso errante,irregular e políticamente obsoleto. Tenta reduzir e minimizar as diferenças e os factores de causalidade política ao máximo,caindo no alçapão do mainstream estaliniano mais linear.Nota-se que nunca leu Trotski e os seus lvros fundamentais sobre esta questão tão importante. Razão tem o VPV: a tradição marxista-leninista portuguesa foi sempre rudimentar e plena de equívocos,com pequenas e honrosas excepções. Niet

Miguel Serras Pereira disse...

Um amigo que prefere não entrar de momento na discussão em curso neste blogue sobre o tema deste post, escreve-me a título particular:

"Sobre a questao da revoluçao e contra-revoluçao alema partilho os teus argumento e os do Joao Bernando. Penso que o Nuno tem um fraco
conhecimento destas questoes, (…) mais determinado pelas ideias
superficiais da esquerda classica [cuja] tendência é ver tudo em termos institucionais.
Ora, tratava-se [na Alemanha] de uma revoluçao! Havia comunistas e partido comunistas. Mais, havia diversos tipos de comunistas e DOIS partidos comunistas. Havia anarco-sindicalistas e sindicalistas revolucionarios. Havia partido nazi e nazis. Havia, sobretudo nos SA e nos primeiros anos, gente que estava confusamente entre
comunismo-nacional e nacional-comunismo. Criticar as linhas do KPD nao é criticar os comunistas - pelo contrario, foram eles as primeiras
vitimas da linha do KPD. A contra-revoluçao começou no meio dos anos 20 (putsch de Kapp) e na altura estas dicotomias simplistas
(comunistas-contra nazis) nao explicam nada. Enfim, ha aqui pano para
mangas mas nao para polemicas de blogs. Interessante que o Nuno R.
Almeida, sobre o incêncio do Reichstag, ainda tenha a versao complotista do Komintern. Mas isso é também Portugal hoje. Um atraso. Este outono
fui ao museu do neo-relaismo em Vila Franca e ainda lá está a versao
soviética da revolta húngara [de 1956]! Deve ser o único pais na Europa
onde isto ainda é possivel. Devia estar nos guias turisticos!".

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Ao menos que tenha um blog, onde possa escrever, com mais espaço e vagar, qualquer coisa que se perceba. A sua prosa é tão emaranhada e tão confusa que dela não se espreme nada.
Quanto à fama de ultra-esquerdista de Bukharine ela já tinha sido aquando do tratado de paz com a Alemanha. Bukharine é o homem da NEP e que se opôs à colectivização forçada do campos, à "revolução vinda de cima" de Estaline.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Já se percebeu que este último texto é para Niet.

Anónimo disse...

Há aqui uma distorção embaraçosa.

O facto do Partido Comunista Alemão ter-se oposto às imposições decorrentes do Tratado de Versailles não significa que existisse alguma cumplicidade entre nazis e comunistas. O anti-comunismo era o segundo pilar do nazismo. O primeiro era o anti-semitismo. Todos os movimentos e tendências políticas Alemães eram contra as condições do Tratado de Versailles. Não me parece válido presumir uma qualquer concordância insidiosa a partir desta posição comum. O Nuno pode ter insultado o dito senhor. Todavia, a sua interpretação parece-me mais plausível do que a do João Bernardo. Os nazis elegeram, desde o princípio, os comunistas como inimigo.

João Bernardo escreve:

"O que me preocupa é que aquele APOIO (ao Hamas, etc), e os termos em que ele é dado, EM NADA DIFEREM da defesa que o Partido Comunista alemão fazia da extrema-direita contra o tratado de Versailles durante a República de Weimar."

Gostaria muito que o sr João
Bernardo citasse historiadores
Alemães credíveis que defenderam a
tese de que a oposição comum ao
Tratado de Versailles emanava de
uma qualquer afinidade ideológica
entre nazis e comunistas.
Parece-me evidente que o pacto
Molotov-Ribbentrop está a colorir esta interpretação descabida do JB.
Parece ser a premissa implícita desta sua acusação (infundada)
É este pacto que confere alguma "plausibilidade" (falsa) ao raciocínio (comparativo) do JB.

Quanto à critica do apoio da esquerda aos movimentos reaças e teocráticos do médio oriente e do mundo muçulmano, permitam-me dizer
apenas isto: qualquer leitor minimamente atento consegue perceber quão problemático é para alguns alguns esquerdistas ver alguns dos seus camaradas a celebrar ou apoiar as causas dos reaças teocráticos. O Nuno não é o Renato. É de tendências que estamos
a falar. Para alguns, a oposição ao
império justifica a mais perversa
e indefensável das contradições.
Para outros - como o Nuno - não.

Tudo isto não invalida a analogia que o JB propõe entre nazis e teocratas radicais islâmicos. Em
termos formais, os dogmáticos são muito semelhantes (obsessão com a pureza da crença ou da raça, presunção de infalibilidade cognitiva etc). Neste sentido, nazis e jihadis são parecidos. E não é por acaso. O
pensamento nazi era apreciado por muitos intelectuais Árabes.

http://www.telospress.com/main/index.php?main_page=product_info&products_id=324

Anónimo disse...

Gostaria muito que o sr João
Bernardo citasse historiadores
Alemães credíveis que defenderam a
tese de que a oposição comum ao
Tratado de Versailles emanava de
uma qualquer afinidade ideológica
entre nazis e comunistas.
Parece-me evidente que o pacto
Molotov-Ribbentrop está a colorir esta interpretação descabida do JB.
Parece ser a premissa implícita desta sua acusação (infundada)
É este pacto que confere alguma "plausibilidade" (falsa) ao raciocínio (comparativo) do JB.

Quanto à critica do apoio da esquerda aos movimentos reaças e teocráticos do médio oriente e do mundo muçulmano, permitam-me dizer
apenas isto: qualquer leitor minimamente atento consegue perceber quão problemático é para alguns alguns esquerdistas ver alguns dos seus camaradas a celebrar ou apoiar as causas dos reaças teocráticos. O Nuno não é o Renato. É de tendências que estamos
a falar. Para alguns, a oposição ao
império justifica a mais perversa
e indefensável das contradições.
Para outros - como o Nuno - não.

Tudo isto não invalida a analogia que o JB propõe entre nazis e teocratas radicais islâmicos. Em
termos formais, os dogmáticos são muito semelhantes (obsessão com a pureza da crença ou da raça, presunção de infalibilidade cognitiva etc). Neste sentido, nazis e jihadis são parecidos. E não é por acaso. O
pensamento nazi era apreciado por muitos intelectuais Árabes.

http://www.telospress.com/main/index.php?main_page=product_info&products_id=324

Anónimo disse...

Há aqui algo que escapa ao Miguel e ao JB. Comunistas como o Renato são uma espécie em vias de extinção. É verdade que nos últimos anos forjou-se uma aliança entre algumas tendências do esquerdismo radical e islamitas fanáticos. A filha do Che, por exemplo, visitou o Hezbollah recentemente e celebrou os seus "feitos." Todavia, o Fidel criticou ferozmente o islamismo radical. Sempre o fez, a bem da verdade. São duas tendências e é de facto insultuoso para um comunista
como o Nuno ver-se associado (ideologicamente) com uma tendência que, a bem da verdade, pouco ou nada
tem que ver com as posições que defende publicamente. Por exemplo, numa das suas primeiras intervenções
no Combate de Blogs, o Nuno foi
categórico quando afirmou que a
segurança do estado de Israel é algo que deve ser tido em conta.
Jamais ouviríamos tal coisa da boca
do Renato. Muitas das críticas que o Nuno faz das políticas Israelitas (assim como as do Miguel e de outros intelectuais) são idênticas às críticas dos comunistas/esquerdistas israelitas.

O Renato não crítica Israel.
Ele, tal como os reaças que defende, pretende a aniquilação de
Israel.

São atitudes mui distintas.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Anónimo,
suponho que parte da leitura distorcida que você faz do texto do JB resulta da pressa. Se ler atentamente o texto completo que eu transcrevi num post seguinte do Passa Palavra - ou mesmo o estudo do JNF e o seu comentário no segundo post ao texto do JB (http://viasfacto.blogspot.com/2010/11/excerto-do-ensaio-de-joao-bernardo.html) - verá que tenho razão: o que não significa que você subscreva as posições políticas do JB ou as, bastante diferentes, do JNF.
A contemporização e a minimização e, depois do pacto, a colaboração (até ao nível policial: entrega de prisioneiros comunistas aos nazis, etc) entre a Rússia de Estaline e o III Reich encontra-se amplamente documentada por historiadores das mais variadas tendências e por inúmeros testemunhos da época. Antes disso, e até à conquista do poder por Hitler, a direcção do KPD prestou os seus serviços à política de Estaline, o que teve, de resto, como efeito sucessivas purgas e redefinições segundo as conveniências do Kremlin nas suas fileiras e aparelho. A seguir a 1933 e até à ruptura do pacto germano-soviético, a política de apaziguamento e cooperação oficial do Kremlin prosseguiu, embora as prisões e campos de concentração nazis estivessem já cheias de membros do KPD, bem como de outros comunistas que se opunham à sua política, para não falarmos senão desta fracção dos perseguidos.

Saudações democráticas

msp

P.S. Eu não ignoro as diferenças entre as posições do NRA e do RT sobre a "resistência islâmica", Israel, etc - até já as sublinhei várias vezes. Aliás é por isso que considero os comentários injuriosos do NRA ao texto do JB completamente deslocados, sectários e inspirados por uma animosidade que nada tem de razoável.

Anónimo disse...

Desconhecia por completo este drama.

Obrigado pela elucidação.

Anónimo disse...

Caro Miguel

Gostaria de lhe pedir um favor. A minha formação é no domínio da filosofia. Gostaria de ler mais sobre
o tema que o JB abordou. Será que
poderia recomendar alguns livros (em Português, Francês ou Inglês) sobre a traição do KPD, as purgas, a colaboração com Estaline etc.


Ficar-lhe-ia muito agradecido.

Obrigado

Melhores cumprimentos
Z

Anónimo disse...

Caro Miguel,

Já encontrei as referências bibliográficas de que precisava.

Cumprimentos,
z

Anónimo disse...

Por favor transmita os meus agradecimentos ao Prof. João Bernardo
por estes dois interessantíssimos posts-ensaios.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Anónimo,

pensava enviar-lhe esta noite uma breve recolha de títulos. Mas, sendo assim, como o tempo me escassei, agradeço a sua informação. De qualquer modo, quer nas notas do ensaio do JB aqui publicado, quer como nas referências de um outro, chamado "Os Náufragos" e publicado no Passa Palavra, pode encontrar já algumas pistas.

Cordiais saudações democráticas

msp

Anónimo disse...

Caro Miguel,

Quando puder, por favor coloque aqui
as referências que lhe pedi. (já consegui algumas mas às tantas não
são as melhores)

Quando tiver tempo, claro.

Muito obrigado pela ajuda.


Esta polémica suscita interrogações
muito interessantes que poderemos
abordar quando tiver tempo.

As minhas desculpas ao Prof. João Bernardo pelo meu comentário impetuoso e pela minha crítica descabida.

Cumprimentos,
ezequiel

João Bernardo disse...

Um leitor manifestou interesse por uma bibliografia e talvez outros, sem o terem dito, se interessem também.
Uma bibliografia acerca das relações, sobreposições e alianças entre o Partido Comunista e a extrema-direita na Alemanha durante a República de Weimar pode ser encontrado nas notas de rodapé das págs. 479 a 518 do meu livro Labirintos do Fascismo. Na Encruzilhada da Ordem e da Revolta (Porto: Afrontamento, 2003). Há muito mais, o assunto é vastíssimo, mas serve para começar. Na realidade, temos três questões imbricadas. A primeira é a actuação do Partido Comunista alemão depois do afastamento de Paul Levi e da ala mais directamente ligada à tradição de Rosa Luxemburg. Além dos títulos que citei no meu livro, convém ler, relativamente à génese desta orientação tomada pelo Partido Comunista alemão: Pierre Broué, The German Revolution, 1917-1923, Londres: The Merlin Press, 2006. A edição original foi publicada em francês em 1971. A segunda questão é a sobreposição parcial da esfera do comunismo alemão e da constelação da extrema-direita radical. A obra incontornável a este respeito, que utilizei abundantemente no Labirintos do Fascismo, mas para a qual desejo chamar aqui a atenção, é: Jean Pierre Faye, Langages Totalitaires. Critique de la Raison / l’Économie / Narrative, Paris: Hermann, 1980. Trata-se da versão corrigida de uma edição anterior. É, e peso as palavras, um livro genial, uma obra máxima da historiografia, capaz de abrir pistas novas, que poucos tiveram coragem de seguir. A terceira questão diz respeito às relações estabelecidas a partir de muito cedo entre as autoridades do jovem regime soviético e o estado-maior alemão. A este respeito nada tenho a acrescentar ao que indiquei no Labirintos do Fascismo. Mas é preciso não esquecer que aquela orientação política, se teve na Alemanha as consequências mais catastróficas, não se restringiu a esse país. Foi a orientação oficial do Komintern sobretudo no período em que predominou Zinoviev, e durou até à implementação das Frentes Populares. Mas mesmo depois de o bureau político staliniano ter decretado a nova orientação e ter optado pela aliança com as sociais-democracias, os dirigentes comunistas alemães persistiram em ignorar as novas directivas e, presos nos campos de concentração, continuaram renitentes a organizar qualquer resistência em comum com os sociais-democratas presos e insistiram em considerá-los «social-fascistas». Isto está bem documentado em: Hermann Langbein, La Résistance dans les Camps de Concentration Nationaux-Socialistes, 1938-1945, Paris: Fayard, 1981.

Anónimo disse...

Muito obrigado Sr. Professor.

Melhores cumprimentos,
ezequiel

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Ezequiel,

as referências do João Bernardo parecem-me mais do que suficientes, tanto mais que as obras contidas fornecem outros elementos bibliográficos abundantes, mesmo para um espírito tão voraz como o teu.
A lista que eu tinha começado a elaborar, eliminadas as repetições, era, em qualquer caso, a seguinte:

Pierre Broué, Histoire de l'Internationale communiste - 1919-1943, Fayard, 1997; Ossip K. Flechtheim, Le Parti Communiste Allemand (K. P. D.) sous la République de Weimar, Paris: François Maspero, 1972; Margaret Buber-Neumann,Déportée en Sibérie : Prisonnière de Staline et d'Hitler, Paris, Poche, 2004; e também La révolution mondiale. L'histoire du Komintern (1919-1943) racontée par l'un de ses principaux témoins, Paris, Casterman, 1971; Daniel Guérin, Sur le fascisme, Paris, La Découverte, 2001; Alan Bullock, Hitler et Staline. Vies paralelles (2 vols.), Paris, Albin Michel, 1998.

Entretanto, fico à espera de maior assiduidade tua nesta casa e vê se combinas, por favor, com o Luís Rainha uma conversa a três.

Abrç

msp

Anónimo disse...

Obrigado Miguel.

Uma conversa com o Rainha? Claro que sim. Seria um prazer.

Se o Miguel ou o João sabem de
historiadores Alemães que tenham
abordado esta questão (quando tiverem tempo)...gostaria de saber
quem são.
(já tinha feito este pedido nos comentários de um outro post, por engano)

Vou começar pelo Faye, com calma.
É um bom princípio, parece-me.

Obrigado pelas referências, Miguel e João.

Cumprimentos,
ezequiel

Anónimo disse...

não consigo encontrar o livro do João online. fui à Afrontamento e rien.

z

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Ezequiel,
alguns dos autores citados tanto pelo JB como por mim são alemães. Há muitos mais, mas o JB talvez te responda melhor do que eu e com as devidas referências.
Entretanto, fica aqui um israelita, autor de um livro extremamente interessante: Zeev Sternhell, Mario Sznajder et Maia Asheri, Naissance de l'idéologie fasciste, , Paris, Gallimard, 1989; um germanista: Louis Dupeux, Le national-bolchévisme dans l'Allemagne de Weimar 1919-1933, Librairie Honoré Champion, Paris, 1979; e, vá lá, um alemão: Victor Klemperer, LTI. LA LENGUA DEL TERCER REICH, Editorial Minuscula, 2001, e THE KLEMPERER DIARIES 1933-1945, Phoenix, 2000.

Também não percebo muito bem que tema queres ao certo - Só as relações entre nazis e extrema-esquerda na Alemanha? A perseguição da esquerda menos dócil, ou dócil mas incómoda, por Estaline nos anos de chumbo, na Alemanha, em Espanha, entre os refugiados na URSS, tec.?

Falamos depois com mais tempo.

Abraço

msp

Miguel Serras Pereira disse...

Ezequiel,
descobri o livro do João Bernardo, em stock, na Leitura on-line (http://www.livrarialeitura.pt/detail.ud121?oid=639293&from_zone=Listagem+Por+Pesquisa). Mas, se for preciso, tiram-se fotocópias do meu exemplar…
Abraço

msp

Anónimo disse...

Obrigado, Miguel.Tenciono comprar o livro do João.
kool
:)
ezequiel

Anónimo disse...

Respondendo à sua pergunta:

O que interessou, desde sempre, são as muitas afinidades entre os mais diversos dogmas políticos. O trabalho do João e dos outros pensadores que vocês muito gentilmente indicaram servirão o propósito de ilustrar historicamente um argumento filosófico.

Conhece o trabalho de Agnes Heller?

Obrigado
ezequiel

Anónimo disse...

err.: O que me interessA

Perdão. Comecei por escrever uma coisa mas depois alterei sem mudar as palavras iniciais. Ainda aparece aí a Ana e dá-me um Yogi Kick na tola. :)

Anónimo disse...

servirá o propósito...

bem, tou cansado
n tenho paciência

boa noite
obrigado

z

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Ezequiel,
sim, conheço o trabalho e as posições de A. Heller de há longa data.
O problema é que pensei que querias sobretudo bibliografia sobre a política do KPD em relação ao nazismo ascendente. Mas se o que te interessa são as "afinidades" que agora referes, receio bem que a bibliografia exija vários posts. Chamaria a atenção para riquíssima e mal estudada bibliografia de memóriass e testemunhos e a exploração do filão espanhol - Orwell - Homenagem à Catalunha e Recordando a Guerra Espanhola, editados entre nós pela Antígona -, claro, mas muitos outros de que não podemos falar agora. No entanto, não resisto a citar-te uma obra pouco conhecida fora dos meios libertários e"alternativos" da minha geração, mas que é absolutamente maravilhosa:: Pavel & Clara Thalmann, Combats pour la liberté (Moscou-Madrid-Barcelone-Paris), Editions La Digitale, 1997 - a procurar ou no site das edições La Digitale ou entre os vendedores particulares que se encontram na rede. Não sei como é que a Antígona ou a Letra Livre ainda não traduziram a coisa. Outra obra fundamental são as memórias de Pierre Vidal-Naquet. As melhores reflexões que conheço ssobre a questão encontram-se esparsas pela obra de Castoriadis, sem desprimor para os discípulos dissidentes de Lukács (Heller, Feher, etc.) e outros. Muito interessantes também as ideias de Bernard Crick. Mas vou-me ficar por aqui. De momento.
Abrç

msp

Anónimo disse...

Mais uma vez, obrigado Miguel.

O que é, para si, um libertário?

z

Miguel Serras Pereira disse...

Ezequiel,
tão sucinta como a tua pergunta (e, por favor, trata-me por tu, caso contrário sinto-me desconsiderado), aqui vai a resposta: é um democrata consequente. E este, por seu turno, não pode deixar - chamando-lhe assim ou de outro modo - de defender aquilo a que chamo a "cidadania governante", ou seja: o governo dos cidadãos por si próprios, entendendo-se aqui por cidadão, classicamente, como Aristóteles, aquele que tem a capacidade de governar ao mesmo tempo que é governado.

Cordial abraço

msp

Anónimo disse...

Sucinto. Espero que um dia escrevas uns posts a explicar como funcionaria (a questão pragmática) tal sistema de auto-governação.

Presumo que conheças os pragmatistas Americanos. Suponho que sim. Parece-me que poderiam
ser muito relevantes à questão acima colocada.

Cumprimentos,
z

Miguel Serras Pereira disse...

Z,

sim, acho que há todo um filão da esquerda americana - Dewey, Putnam e Rorty - que vale a pena explorar. Até nas suas dissensões internas, o pragmatismo pode ser origem uma reflexão importante (tentei introduzir a discussão de Rorty num breve escrito que abre o meu livro Da Língua de Ninguém à Praça da Palavra, Lisboa, Fim de Século, 1997). Mas há outras tradições americanas importantes, como aquelas que Ch. Lasch retoma e aprofunda. Em França, graças aos esforços independentes de, entre outros, J.-P. Cometti e Jean-Claude Michéa, há já alguns anos que se presta uma nova atenção aos pragmatistas (Cometti) e a pensadores como Lasch (Michéa).
Bom, suponho que não me estás a pedir os planos da pólvora da organização democrática da sociedade, que, por definição, só pode ser promovida pela acção instituinte dos cidadãos. Mas as propostas e razões com que defendo a democratização e o desenvolvimento das capacidades políticas e da participação dos cidadãos comuns têm aparecido, avulsamente, por vários posts meus aqui publicados.

Abrç

msp

Anónimo disse...

a verdade-como-consenso de Rorty provoca-me urticárias mas suspeito que a si lhe interessaria muito, dada a sua importância em qualquer teoria deliberativa-participativa.
assunto interessante.

heidegger prestou muita atenção aos pragmatistas americanos e a husserl. estou a tentar ser irónico
plágio is + like it.

bem, tou com mt pressa.

abraço e cumps
z

Anónimo disse...

Caro Miguel,

acho que talvez fosse interessante visitar as pequenas aldeias no norte de portugal e outras (concelhos de ilha tb, nos açores, para não falar nos town hall americanos etc) onde os habitantes reúnem-se e deliberam colectivamente e democraticamente. aparentemente, em alguns casos, a multa por não-participação ou por transgressão é paga em vinho!?!!? lol para ser franco, se fosse eu o interessado na democracia directa-participativa, investigaria incessantemente todas estas formas de decisão comunitária...

às vezes a observação antropológica é infinitamente mais frutífera do que os livros.

Anónimo disse...

algumas das interrogações mais interessantes da filosofia surgiram a partir de observações mui empíricas. estou a pensar em Wittgenstein, evidentemente.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Anónimo da Observação no Terreno,

sem dúvida que são casos fascinantes. Não tive ocasião de observar muita coisa (alguma, apesar de tudo, em Trás-os-Montes…) directamente. Mas tenho pena. Assim, que hei-de fazer? Vou lendo descrições de outros - e outras coisas também.
É verdade que não faço uma oposição tão dicotómica entre a antropologia, a história, a sociologia, etc., por um lado, e a filosofia, por outro - como parece ser o seu caso. Nem entre o pensamento e a vida (esta última, de resto, não me parece ter sentido). Mas agradeço as suas notas.

Saudações cordiais


msp

Anónimo disse...

Fui eu, z, que escrevi aquilo, Miguel.Não escrevo muitas vezes o meu nome. Devo ter sucumbido muito cedo aos dúbios encantos do estruturalismo: o meu nome é uma função de um conjunto imenso de relações de significação.LOL LOL
Leia as descrições dos outros então. no probs. Tb e´ interessante apesar de demorar + tempo. Não pretendia afirmar qualquer dicotomia: muitas das mais interessantes elaborações teóricas são (de facto) descrições empíricas.
Wittgenstein, outra vez.

Nem sequer acredito em tal coisa: dicotomias entre theoria e praxis.

ezequiel

(esta pequeno mal entendido teve
piada)

Anónimo disse...

oops

cumprimentos :)z

Miguel Serras Pereira disse...

Z, caríssimo

tudo bem - já agora acrescento que, quanto ao Rorty e à sua concepção da verdade, subscrevo a crítica que o Putnam lhe dirige. Mas talvez devamos deixar esta conversa para uma ocasião de convívio pessoal ou tê-la em posts mais estruturados.
Já falaste ao Luis Rainha?
Abrç

msp

Anónimo disse...

Caro Miguel

Eu não tenho o contacto (telefónico ou email, já tive o email mas já n tenho) do Luís Rainha.

Dentro de 1 mês e tal saio de Portugal(4 Janeiro) e só regressarei no próximo Verão, por duas semanas.

Abraço,
ezequiel

Anónimo disse...

ah, a polémica Putnam-Rorty...

espero que n a explorem aqui no vias. apanhei um fartote. é uma dicotomia ou oposição que tem mais que ver com a organização (competitiva) institucional do pensamento, com a militância da Identidade no Ser, do que com qualquer problema substantivo filosófico. (estou a ser mega leviano) realismo-versus-relativismo/contextualismo normativo é um debate gasto. o debate realismo-relativismo é inspirado e movido por uma imbecilidade sem nome. a partir da altura em que reconhecemos que as crenças falsas (ou até as ficções) podem e geralmente tem consequências REAIS no mundo o realismo de Putnam está condenado à redundância. a bastardização da verdade por Rorty é outra história, mais complicada e igualmente infrutífera. Eu gosto dos pragmatistas clássicos, Dewey, Peirce e, claro, William James.

Espero que publiquem muitos e bons posts acerca destes e outros assuntos, Miguel.

Eu não quero escrever para blogs. Venho aos blogs para ler, rir-me um pouco (sem ofensa) e acirrar os neurões (viasfacto).

Eu não sou um cidadão-governante, Miguel. E, para ser franco, nunca gostei muito de militâncias sejam elas de esquerda, de direita ou do centro. Para ser franco, nem sequer sei o que sou em termos ideológicos. Estranhamente, este estado Liminal (bauman) não me causa qualquer desconforto ou suscita qualquer interrogação ética. Há coisas mais importantes do que a política. Os Gregos enganaram-se.

Nada, mesmo.

Anónimo disse...

desculpas pelos erros.

abraços
z

Anónimo disse...

http://www.amazon.co.uk/Creativity-Action-Hans-Joas/dp/0745617719/ref=ntt_at_ep_dpi_3

Miguel Serras Pereira disse...

Um livro notável, que tb. já tenho recomendado.
És tu, Z?

msp

Anónimo disse...

Caro Miguel,

Anteontem "critiquei" Rorty e Putnam sem dar quaisquer razões. O meu comentário, tão irreflectido quão injusto, deveria ter sido devidamente corroborado.

Não disponho de muito tempo para explorar aqui as duas concepções de verdade em causa.

Comecemos então pelo conceito da verdade. Como sabe, Rorty não acredita que o acesso directo à verdade, aos factos, é possível. Para ele todas as verdades são linguistícamente e historicamente mediadas. Assim, o nosso acesso cognitivo-epistemológico às coisas (ou à natureza das coisas) ou experiências é mediado por convenções linguísticas e históricas. Não existem factos brutums, puros, destituídos de mediação lnguística-histórica. Ora, se o nosso acesso epistemológico à natureza das coisas é moldado pela mutabilidade linguística-histórica a noção de que podemos representar fidedignamente uma realidade (dita) objectiva é uma farsa. Rorty contesta a possibilidade da representação correcta de estados de coisas. Por conseguinte, Rorty substitui a representação fidedigna pelas normas sociais de justificação de uma crença como critério da verdade. Todavia, esta substituição, em Rorty, não é total. A verdade, para ele, não é APENAS determinada pela natureza do dado ( empirical given) mas também pelo contexto normativo (linguístico-histórico) A bem da verdade, Rorty não nega a possibilidade da verdade objectiva (de atributos de uma coisa ou fenómeno que são representáveis ou verificáveis como verdadeiros ou factuais) A sua tese é mais ousada na medida em que afirma que a aplicação destes dados objectivos-factuais variam de acordo com o contexto social-linguístico e histórico no qual são sujeitas aos regimes de justificação vigentes. Para Rorty, existem apenas crenças mais ou menos justificáveis ou perspectivas da verdade. A Verdade, per si, é equiparada (por Rorty) a um Deus inexistente. Em suma, podem existir factos mas a sua representação só pode ser sob a forma de crenças que são mais ou menos justificáveis. (isto é uma síntese superficial, mas continuemos com Putnam...)

Anónimo disse...

Putnam

Putnam, como bom Kantiano, reconhece a importância do subjectivo na determinação da verdade . Ou seja, os dados empíricos puros são, para ele, uma ficção dos empiristas radicais. Ao datum ele junta a consciência. Para Putnam, não há qualias puros. Ele, como Rorty, reconhece que as normas sociais de justificação e de inteligibilidade também afectam a determinação da verdade. Contudo, ao contrário de Rorty, ele tenta preservar a inteligibilidade social (as suas normas de justificação) numa teoria de representação mais alargada, opondo-se também ele à Teoria da Correspondência. (correspondência entre descrições e estados de coisas)

Nesta relativização da razão cientifica, Putnam confere maior importância ao subjectivo (à consciência humana) do que ao social (Rorty). Ele defende a complementaridade intrinseca do que é dado empiricamente com o que é projectado mentalmente no acto epistemológico. Ou seja, ele propõe uma síntese Kantiana entre Sensibilidade e Razão.


Não concordo com os dois. Porquê?

Putnam: o objecto desconhecido ou enigmático (o paradoxo a ser explicado, o enigma, o objecto de interrogação, ou, se desejar, a alteridade da interrogação) que é dado (empíricamente, por ex.) à sensibilidade é incorporado pela inteligibilidade precedente que, em Kant, é puramente cognitiva (não é histórica ou social num sentido alargado). Ou seja, a inteligibilidade puramente subjectiva incorpora o objecto ou interrogação num regime de familiaridade conceptual que é puramente cognitivo. Ou seja, o objecto da interrogação é encarcerado no familiar e assim destituído da sua singularidade. Enclausurado na familiaridade do Cognitivo Universal o "dado" transforma-se em inteligibilidade conceptual. Mas esta inteligibilidade é falaciosa porque reduz ou molda o dado a uma (interpretação) da conceptualidade da cognição. Enquanto Rorty encarcera o dado e a Verdade às normas sociais da justificação de uma crença (ao social, por outras palavras) Putnam comete um erro semelhante, reduzindo o dado à relação deste com a cognição. Rorty erra pela via da socialização do conhecimento e Putnam erra pela via da subjectivização do "dado."( a redução do dado ao social e ao subjectivo) Repare: falo de redução. N estou a defender aqui que temos acesso directo às coisas.

Bem, n tenho + tempo. Em ambos os casos, o dado é reduzido, encarcerado. Deveria explicar melhor como e porquê mas o tempo escasseia.

Melhores cumprimentos,
ezequiel

Anónimo disse...

Putnam: o objecto desconhecido ou enigmático (o paradoxo a ser explicado, o enigma, o objecto de interrogação, ou, se desejar, a alteridade da interrogação) que é dado (empíricamente, por ex.) à sensibilidade é incorporado pela inteligibilidade precedente que, em Kant, é puramente cognitiva (não é histórica ou social num sentido alargado). Ou seja, a inteligibilidade puramente subjectiva incorpora o objecto ou interrogação num regime de familiaridade conceptual que é puramente cognitivo. Ou seja, o objecto da interrogação é encarcerado no familiar e assim destituído da sua singularidade. Enclausurado na familiaridade do Cognitivo Universal o "dado" transforma-se em inteligibilidade conceptual. Mas esta inteligibilidade é falaciosa porque reduz ou molda o dado a uma (interpretação) da conceptualidade da cognição. Enquanto Rorty encarcera o dado e a Verdade às normas sociais da justificação de uma crença (ao social, por outras palavras) Putnam comete um erro semelhante, reduzindo o dado à relação deste com a cognição. Rorty erra pela via da socialização do conhecimento e Putnam erra pela via da subjectivização do "dado."( a redução do dado ao social e ao subjectivo) Repare: falo de redução. N estou a defender aqui que temos acesso directo às coisas.

Bem, n tenho + tempo. Em ambos os casos, o dado é reduzido, encarcerado. Deveria explicar melhor como e porquê mas o tempo escasseia.

Melhores cumprimentos,
ezequiel

Miguel Serras Pereira disse...

Ezequiel, misericórdia!
Este post chamava-se e chama-se ainda "Uma Nota do João Bernardo: "contra o (…) apoio ao Hamas, ao Hezbollah e ao regime iraniano"".
Teremos de deixar a discussão do pragmatismo para outras deambulações, não te parece?
Abraço

msp

Anónimo disse...

sim, tem razão. não gosto de criticar sem explicar porquê. a difamação é um dos piores crimes que se podem cometer. até chamei os ditos de imbecis. mas ontem foi um péssimo dia. nem consegui pensar direito ou escrever de forma lucida. considere isto um insignificante e inconsequente pedido de desculpas a rorty e putnam. nem sequer sou grande barra em filosofia "analítica." os meus "mestres" são todos "continentais" (levinas, heidegger, gadamer, schürmann,etc) por assim dizer. (como se fizesse sentido dividir a filosofia em escolas)

espero n parecer petulante (porque n o sou, de facto)

apenas fiquei chateado comigo próprio por lhes ter chamado nomes sem ter justificado coisa alguma. e ainda n justifiquei. olhe, eles nem sabem q eu existo. mas as desculpas ficam aqui.

:)

gosto dos pragmatistas, Miguel. deambular?? só deambulo pelos trabalhos que conheço bem. acerca dos outros, calo-me. aliás, nem deveria ter escrito coisa alguma sobre rorty e putnam.

abraço
ezequiel

Anónimo disse...

ah, o dado, tal como o humano, foi "coisificado" (buber)..transformado num mero "it" pela razão cientifica- instrumental Europeia. se o dado fosse reconceptualizado (recorda-se do exemplo da mesa de heidegger?? a mesa não como dado empirico mas como referência existencial). esta é o problema base. a filosofia analítica transforma o mundo em partes analizáveis. uma crueldade brutal. este é o prob fulcrar. dele emanam todos os erros dos putnams e dos rortys. eles esqueceram-se que o que move o interesse pela verdade e pela investigação é algo indeterminado, enigmático. a alteridade, por outras palavras. mas, a bem da verdade, eles já nem sequer falam do Espiríto Cientifico: a interrogação. o ? infinito. já não lhes interessa. isso é muito revoltante.

bem, au revoir,

z

Anónimo disse...

The value of true philosophy does not situate itself in an impersonal
eternity. Its luminous face is turned toward the temporal beings
that we are. Its regard for our anxieties is a part of its divine essence.
The truly philosophical aspect of a philosophy measures itself by its
contemporary relevance. The purest homage that can be given to it
consists in blending it with current concerns.

levinas

Anónimo disse...

sim, fui eu, Miguel.(hans joas)

Com a pressa n li a sua pergunta.

boa noite
z

Miguel Serras Pereira disse...

Deambular, Ezequiel, não era depreciativo. O gabinete de trabalho pode não ser o lugar último da filosofia.

Abrç

msp

Anónimo disse...

Sim, Miguel, percebi que o termo que usou, deambular, não era depreciativo. Mesmo que fosse, no probs. Não me considero um filósofo. Apenas gosto de filosofia, rien plus. lol

abraço
z

Niet disse...

Caríssimo Ezequiel: Nós já comunicámos, aqui e no Cinco Dias, com frisson e panachè. Numa dessas vezes,abordámos a esfera da Dominação- quando muito antes, o Z. já tinha referido a grandeza do livro de Marcuse," O Homem Unidimensional", de quem eu tinha feito uma resenha durante a famosa e única " Comuna do Blogue Cinco Dias", que ocorreu de Nov. a Março deste ano. Bem, tudo isto, para lhe dar uma porta de saída para evitar os encantos da famigerada " validade transcultural "- onde se joga muito do valor do relativismo e pragmatismo sofisticados à la Putnam e à la Rorty...- que acabam por nós fixar no tapete da unidimensionalidade mais imobilista, mais cedo ou mais tarde, cuidado. E a solução é esta, caro Z.: descobrir a filosofia e a teoria política de Castoriadis! Onde noções como as de verdade incondicional- caras a Putnam e a Habermas, criticando a de verdade condicionada de Rorty-encontram na
filosofia de Castoriadis respostas e argumentos novos, decisivos e iconoclastas. Niet

Anónimo disse...

Caro Niet,

Concordo. Todavia, parece-me que existem outras obras que evitam o colete de forças relativismo-universalismo. (como Gadamer, por ex.) Além disso, o argumento de que a sociedade emana de uma condição primordial de caos parece-me conter vestígios de um certo Hobbesianismo (mui distinto da guerra de todos contra todos, é certo). Tb n me parece que a categoria psicanalitica da projecção (criativa), tal como é interpretada por Castoriadis, encerra um subjectivismo ( inscrito na própria psicanálise) que me parece debilitante e que reduz a vivência histórica a um acto do sujeito. É compreensível que ele valorize o subjectivo dada a sua defesa intransigente da autonomia. O subjectivismo é um corolário inevitável da autonomia. (apesar da sua concepção de autonomia ser intrinsecamente histórica, ou seja, não assenta na negação da história como estrutura existencial)

Dito isto, confesso que não conheço suficientemente bem a obra de Castoriadis. Li o La Institution Imaginaire...e alguns dos seus ensaios há muitos anos. Há 20 anos atrás, mais precisamente.

Conhece a obra de Reinhart Koselleck? presumo que sim.

Prefiro o conceito de responsabilidade ao da autonomia. Poderá dizer que a responsabilidade pressupõe a autonomia (a responsabilidade que surge da reflexão, legitimada pela razão) Interessa-me sobretudo a exploração da responsabilidade como (não presumo que esta é a única dimensão da experiência da responsabilidade) experiência pré-intencional (levinas).

Melhores cumprimentos e obrigado pela interpelação,
ezequiel-Z

Anónimo disse...

errata: Também ME parece que a categoria psicanalitica da projecção (criativa), tal como é interpretada por Castoriadis, encerra um subjectivismo ( inscrito na própria psicanálise) que me parece debilitante e que reduz a vivência histórica a um acto do sujeito.

cumps
ezequiel

Anónimo disse...

O que pensa o Sr. da critica de Foucault da autonomia??

Anónimo disse...

ou, pondo as coisas de outra forma, será a responsabilidade apenas o resultado de uma decisão?

repare: seria absurdo negar ou ofuscar a dimensão reflectiva da responsabilidade. mas seria também igualmente redutor presumir que a responsabilidade não é mais do que que uma decisão ou apreensão reflectiva do sujeito. espero que não me interprete mal.

cumps
z

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Z,

a dimensão social-histórica, anónima, da autonomia - a irredutibilidade desta ao subjectivo, a sua natureza socialmente instituída - é fortemente vincada em Castoriadis. É a pertença desde o início a um mundo que já lá está e às suas significações imaginárias eventualmente conflituais que institui o indivíduo humano como "adorador do faraó", "súbdito do Grande Rei", "filho de David", "cidadão ateniense e membro da ecclesia"… Mais concretamente, tanto a responsabilidade como a autonomia - que em Castoriadis se implicam circularmente - são responsabilização e imputação de autonomia através de uma paideia, singularmente modulada em cada caso, mas cuja lei não é autoria pessoal.
A concepção psicanalítica de Castoriadis tomar-nos-ia muito tempo, mas não contradiz o que digo acima. A psicanálise lida, para Castoriadis, com "significações incarnadas" (logoi embioi) - e a "significação" nunca deixa de ser uma criação histórica por mais que seja sempre singularmente modulada pela história e pela textura dos afectos das representações e investimentos de cada um. Ver sobre isto Epilegomènes à une théorie de ll'âme qu'on a pu présenter comme science e La psychanalyse, projet et élucidation (Les carrefours du labyrinte (I), Paris, Seuil, 1978), bem como Psychanalyse et politique (Le monde morcelé, Paris, Seuil, 1990).

Abrç

msp

Anónimo disse...

ok Miguel.

Obrigado pela elucidação.

Olhe, encontrei um pdf com um ensaio de Castoriadis (institution of society and religion, thesis eleven) onde ele escreve:

"Its foundation should have been the hold significations have over the world, over everything that presents itself and could every present itself. This hold, however, is always partial and always precarious. It could have been secure
only if each thing were only what it is, if the world were always only what it is-what they are posited by signification as being. Now, on the one hand,
the signification imposed on the world (and on society, which institutes itself by positing itself as part of the world it institutes) is in its essence &dquo;arbitrary&dquo;. Society’s self-creation, which is expressed each time as the positing/institution [positionlinstitution] of a particular magma of imaginary significations, escapes from determination precisely because it is self-positing [l’autoposition]; it can
be neither founded on universal Reason nor reduced to correspondence with an alleged being-thus of the world."

Teria que reler o La Institution e ler os seus restantes ensaios e livros para poder participar plenamente numa discussão aprofundada da sua obra. :(

Obrigado. O que aqui escreveu sobre Castoriadis fez-me lembrar Gadamer (a relação das significações ou dos magmas imaginários existentes com o que é instituído)

Miguel e Niet, porque não publicam uns posts sobre Castoriadis?

Obrigado

abraço
z

Anónimo disse...

Gosto da forma como Castoriadis reconhece a potencialidade ou do que é instituído:

"It could have been secure only if each thing were only what it is, if the world were always only what it is-what they are posited by signification as being."

Nothing is merely what it is. (preserva a alteridade)

bom fim de semana

abraço
ezequiel

Anónimo disse...

Miguel,

Como é que ele conceptualiza ou intrpreta a relação caos- significação(instituída)?

abraço
ezequiel

Miguel Serras Pereira disse...

Z, esse texto sobre a religião foi traduzido e publicado por mim há mais de vinte anos na revista A Ideia, cedido pelo próprio CC. Enfim…
A aproximação com o Gadamer é, sob muitos aspectos, pertinente: a frase "dizer que somos históricos é dizer que nenhum conceito nos esgota" (Gadamer) poderia ser subscrita por Castoriadis. Mas as diferenças de orientação são enormes - e não há em Gadamer uma concepção política e da instituição… Por outro lado, embora a frase anterior e outras do mesmo género indiquem, em Gadamer, uma concepção da história como criação ontológica interminável (tal é a raiz última da interminabilidade da interpretação…), Castoriadis pensa bastante mais decidida e explicitamente, e nas suas várias dimensões, a história como fazer (fazer ser) que excede todo o ser anterior e/ou final.

Bom, dito isto, o Vias é um blogue generalista e de intervenção cívica, pelo que não se presta a certo tipo de discussão mais especializada (o que não quer necessariamente dizer mais inteligente ou mais profunda).

Um abraço

msp

Anónimo disse...

Sim, concordo.

A filosofia de Gadamer é conservadora nas suas implicações políticas. A de Castoriadis não é.

abr
z

Anónimo disse...

Queria dizer: Gadamer confere primazia à tradição.

Bem, tenho que ir. Um bom fim de semana para si, Miguel.(e para o Niet)

abraços
z

Niet disse...

Caro Ezequiel: Fiquei radiante por ter encontrado mais um castoriadiano. Urge continuar a leitura dessa obra incomparável.Conheço mal Gadamer e já me chega, caríssimo,o impacto absolutamente diabólico de alguns livros do Putnam, como por exemplo, essa obra-prima que ele assina sobre " Éticas sem Ontologia", ditirâmbico livro de mil faces e linhas de interpretação... Para já, prometendo ir estudar as questões que coloca, e como gosto de comunicar sem fronteiras com os meus interlocutores, avanço com esta longa citação do Castoriadis, do V volume dos C. Labyrinthe, onde se ergue a golpes de audácia a sua crítica da economia e da " filosofia " política: " O ser em geral é criação. O imaginário e a imaginação constituem o modo de ser, que esta vis formandi do ser em geral adquire nesse rebento do ser-sendo global que constitui a humanidade. Não se trata de um novo universal e, muito menos, de um substracto biológico. É o núcleo do ser e do modo de ser do psiquismo do ser humano singular de um lado, e do social-histórico do outro. É porque há imaginário radical que existe a instituição, e só pode existir imaginário radical na medida em que se institui. (...) A imaginação, é a capacidade de fazer surgir qualquer coisa que não é o real tal como o descrevem a percepção comum, a Lebenwelt de Husserl e de Heidegger, quer a física. É, portanto, toda a criação de um mundo para-si do sugeito. A imaginação, constitui já o desdobramento de um espaço e de um tempo próprios. (...) A vida é uma emergência. Nesta emergência lemos esta potência formadora do ser-sendo global, potência que em si própria não tem, bem entendido, nenhuma personalidade e também nenhuma finaidade, mas não é teleológica. Ser é isso. Se não fosse assim, ser seria sempre a mesma coisa. Ora, ser, é sempre também o ser-outro e o fazer ser o outro. Disso, no ser humano detectamos um éco infinitamente intensificado, amplificado que constitui, precisamente, a imaginação radical e o imaginário radical. (...) Existe uma lógica fantástica mesmo num poema surrealista. Se ela não existisse, o efeito de sentido do absurdo aparente ou real de uma frase não seria um efeito de sentido, seria nada de nada. É por oposição, por contraste, ms também por inserção constante de fibras lógicas que o que ultrapassa a lógica pode não só ser dito mas ser, tão simplesmente. A filosofia permaneceu vitima da meta-categoria do determinismo, postulando que tudo o que é deve ser determinado, e determinado no conjunto, o que não é verdade. Mas o que é verdade, é que nada pode ser/existir se não for também determinado ". Niet

Anónimo disse...

Olá Niet,

Não li o Le Carrefours....
Mas tenciono comprar o primeiro volume.

Obrigado pela citação. Já a guardei.

Apenas uma nota (superficial, resultante da leitura da sua citação)

Refiro-me a esta passagem:

" O imaginário e a imaginação constituem o modo de ser, que esta vis formandi do ser EM GERAL adquire nesse rebento do ser-sendo global que constitui a humanidade. "


O modo de ser da vis formandi (do devir do ser) é reduzida ao imaginário-imaginação????

Cumprimentos,
ezequiel

Anónimo disse...

Ou, pondo as coisas de outra forma:

Não poderemos falar de possibilidades (no devir do ser) que escapam ao imaginário? Por exemplo, qual é o estatuto do contingente (do que não foi contemplado pela imaginação-imaginário) no devir do ser?? Nem tudo o que pode ser resulta do imaginado? Ou, se desejar, o ser contém um "imaginário", uma potencialidade, que não é meramente subjectiva?

cumps
z

Anónimo disse...

Nem tudo o que pode ser resulta do imaginado.

não era uma pergunta, evdte

Miguel Serras Pereira disse...

Z

claro, é essa a posição de Castoriadis, e está no texto que o Niet cita. O que dizes poderia ter sido afirmado por ele: "Nem tudo o que pode ser resulta do imaginado (…) o ser contém (…) uma potencialidade, que não é meramente subjectiva". Ou seja, no que é há um movimento metamórfico sem-fundo de destruição e criação incessante. O "imaginário" e até mesmo a "imaginação radical" do social-histórico (a criação da linguagem, por exemplo) é, deste ponto de vista, uma formação local.

Abrç

msp

Anónimo disse...

Interessante.
abraço
z

Niet disse...

Caro Ezequiel: Tenho passado horas à volta de dois/três textos fundamentais do Castoriadis insertos no C.L.III e V,respectivamente, " Logique des Magmas et Question de l´Autonomie ", e " Complexité, Magmas, Histoire". Existe mesmo uma referência de C.C. a Rorty e a Ch. Taylor, a propósito das " falácias fenomenológicas " das imagens veiculadas por " uma primeira pessoa " ou uma " atitude intencional"... Castoriadis invoca muito: "O retorno ao apelo cognitivo da imaginação. Kant,sabe-se, distingue e opõe a " receptividade das impressões " e a " espontaneidade dos conceitos puros ". De facto, para lá de tudo, mais uma vez, da simples excitabilidade, a espontaneidade- espontaneidade imaginante-está lá desde o início. É responsável da forma das impressões e da sua relação em marcha. Na constituição desta- que Kant apelidava, na primeira edição da Crítica da Razão Pura, a " sintese da apreensão na intuição "- podemos reconhecer o trabalho da imaginação radical do sugeito, que contém já nele mesmo os gérmens da lógica, porque toda a formação implica o dispositivo de relações múltiplas segundo as regras ". A que se junta mais esta precisão: " Para mim, a vontade, é desejo sublimado. É o desejo que atravessou a elucidação pela reflexão. Além disso não separo o papel do julgamento do pensamento. O julgamento é um momento determinante do pensamento.(...) A criação pode surgir por vezes sob uma forma lacunar, ou por fragmentos, ou pelo jacto das ideias. Mas o pensar filosófico requer reflexão e crítica ".Meu caro, e tudo isto são prolegómenos de um pensamento post-marxista e de crítica interna a Freud,Heidegger, an so on, onde a vertigem conceptual e o rigor microscópico das análises, como ele frisa,nisso somos arrastados para tentar " Pensar um Múltiplo Irredutível"! Em Poche, via Amazon.fr, por certo arranjará tudo o que precisa para ser um intrépido castoriadiano! Vamos dialogando,claro! Fraternalmente! Niet

Anónimo disse...

Intrépido Castoriadiano?? LOL
Calma Niet.
Sim, vamos dialogando.
Não sou grande fan de Charles Taylor ou de Rorty.

Então passou horas a explorar os argumentos de CC acerca da intencionalidade etc!

mas o que mais me interessou no seu comentário foi isto:

"receptividade das impressões " e a "espontaneidade dos conceitos puros "

Kant, com a sua síntese, estabelece ou postula, a correspondência temporal e ontológica entre a espontaneidade dos conceitos e a receptividade das impressões. Esta visão de correspondência quase total do conceito a priori (que não o é, evdt) e as impressões parece-me (esta crítica n é minha obvte) quase imaculada ou idealista, se preferir.

Niet,

Pare um pouco e pense nisto: espontaneidade imaginante. o ritmo temporal da espontaneidade e o da imaginação. há aqui uma discordância temporal, não???

Obrigado pelo comentário e pelo excerto, Niet. Vai já para o folder Castoriadis.

Se me permite, a sua adoração pelo Castoriadis, filósofo, é evidente. Não me interprete mal: critique-o. Leia-o como amigo e como inimigo. Tente, pelo menos. Por vezes as inconsistências e as contradições são mais interessantes e frutíferas do que o encadear chamado coerência. Perdoe-me a petulância. O que estou a dizer é isto, simplesmente:

não o idolatre.

critique-o.

abraço e obrigado,
ezequiel

Anónimo disse...

mas pensar um "múltiplo irredutível" parece-me muito bem.

vraiment anarchiste. :)

(eu n sou anarquista mas...)

abraço

PS: n me interprete mal. eu sou um noviço em assuntos CCastoriadis. É um prazer poder aprender com alguém que sabe do que fala. Aprecio, e muito, os seus comentários.

Cordialmente,
z

Niet disse...

Caríssimo Ezequiel: Tomara eu ter a inefável beleza e profundidade dos seus comentários ! E o que é que irá acontecer com a s. leitura de Castoriadis? Por certo, acontecimentos admiráveis. Sim, sim, tento ler e compreender" Corneille", C.C., -como o alcunhava Pierre Vidal-Naquet- a par de M. Bakounine,Trotski e um pouco Rosa L. Fraternalmente, Niet

Anónimo disse...

Niet,

Beleza e profundidade dos meus comentários?

Não pretendia ofender-lhe.

Não sei o que irá acontecer com a minha leitura de CC.

Mas não o vou idolatrar, garanto-lhe.

As minhas desculpas.

Pensava que estava noutro sítio.

cumprimentos
z

Anónimo disse...

Mas, para ser franco, acho que não vai acontecer algo notável na minha leitura de CC. Se o compreender já fico muito satisfeito. Rien plus.

Anónimo disse...

Niet, leia os seus comentários.

abraço
z

Anónimo disse...

Lutter: What is the use of Marx today, in 1983, for militants who
want to fight against capitalism, be it western capitalism or the bureaucratic societies of Eastern Europe?

C. Castoriadis: It is not quite appropriate to speak in terms of usefulness, since an author is not a tool. Once that is said, if one reads Marx as all great
authors should be read, not in order to discover in him a DOGMA or ready-made truths, but CRITICALLY, one understands what it means to think, one discovers
new ways of thinking and of criticising thought.

"Marx Today: An Interview"
Thesis Eleven No.8, January 1984