07/12/10

Mega-jantares de natal empresariais

Nesta altura do ano, algumas empresas de dimensão nacional (bem, pelo menos uma...) têm o hábito de organizar jantares de natal a nível nacional (estilo, um jantar em Lisboa para todos os funcionários) e encarregar os chefes locais de arregimentar/pressionar os trabalhadores a lá irem.

Há primeira vista (e à segunda) isto parece o cúmulo da irracionalidade económica, porque todos perdem - os trabalhadores, mesmo tendo jantar e transporte à borla, perdem várias horas de tempo livre (provavelmente mais valiosas que o custo de um jantar); aliás, o facto de muitos trabalhadores terem que ser mais ou menos pressionados a ir (com argumentos do género "se calhar vão fazer reduções de pessoal e é bom que o nosso serviço esteja bem visto") indica que isso representa um custo para eles.

Já os proprietários da empresa, à partida, também perdem, pelo simples facto de a empresa estar a gastar dinheiro em jantares e a fretar transportes.

Então, como se pode explicar isso?

A única explicação que vejo terá com a velha teoria, que esteve na moda nos anos 60, foi largamente esquecida nos 80/90, e voltou outra vez à moda com a recente crise, de que os gestores formam um grupo à parte, com interesses distintos, tanto dos trabalhadores como dos capitalistas: um gestor organizar um mega-jantar é sinal que ele consegue motivar (seja com o pau ou com a cenoura) a irem a esse jantar, o que será um sinal da sua "capacidade de liderança", e valorizando-o no "mercado dos gestores".

3 comentários:

CJP disse...

Parece-me que a motivação nunca deixou de ser essa.

PR disse...

Isso não será apenas um possível resultado do problema do "agente principal"?

Também não sei quão generalizada será essa situação. Eu gostei do jantar de Natal da minha anterior empresa [na actual, simplesmente disse que não queria ir e ninguém me chateou]. Mas de facto ouço muitas vezes críticas semelhantes à do Miguel.

PR disse...

Mas, agora que penso melhor, lembro-me de que na Universidade também estive à frente de um grupo de alunos e fazia sempre muita questão que todos fossem ao jantar anual.

Na altura, a ideia não era impressionar ninguém: simplesmente pensava que o jantar seria uma boa altura para fortalecer laços, cimentar amizades, etc. Em retrospectiva, admito que alguns tenham apanhado alguma seca [embora o meu poder de coacção também não fosse grande...].

Ou seja, talvez isto não ilustre um problema de "agente principal" mas sim de "assimetria informacional".