As acções dos controladores aéreos em Espanha, e as reacções que desencadearam, demonstram que a desobediência civil, incluindo a "greve ilegal", é um meio muito mais poderoso para vergar o poder político e sócio-económico do que as denominadas greves legais. Estas são legais, ou seja aceites pelo sistema vigente, exactamente porque não colocam este em causa. Pelo contrário, acções como as praticadas pelo controladores aéreos em Espanha ao gerarem instabilidade, incerteza, minam a confiança na previsibilidade do sistema, sabotando a sua capacidade para providenciar segurança. Sem esta vão-se os últimos rescíquios de legitimidade dum sistema político e sócio-económico cada vez mais desprezado.
Os poderosos odeiam supresas. Continuemos a fazer-lhes tantas quantas forem necessárias para cairem dos seus pedestais. E elas estão a acontecer um pouco por toda a Europa: ilegais e sem aviso prévio. Mas não em Portugal. Aqui continuamos a felicitarmo-nos por uma grande greve geral que nada mudou. Nada. Zero.
P.S. Parece que há quem ache que os controladores aéreos em Espanha são uns privilegiados. Espanta-me que haja privilegiados dispostos a executarem acções de desobediência civil que podem acabar por redundar em severo prejuízo. Geralmente é quem pouco tem a perder, ou se acha numa situação desesperada, que está disposto a tal tipo de acção. Privilegiados não.
3 comentários:
Os controladores de tráfego aéreo têm salários exorbitantes, precisamente para nunca se sentirem tentados a fazer uma greve. Desse ponto de vista, sim, são privilegiados.
Contudo, subscrevo em absoluto o seu post. Aquando da nossa greve geral, foi comum ver gente de esquerda e direita a celebrar a liberdade em que vivemos, um sistema que até nos permite fazer greve legalmente e tudo. Pois é precisamente o que o Pedro Viana diz: é legal porque não coloca o sistema em causa. A par das ocupações de universidades em Itália, Inglaterra e Grécia, e a par da rejeição (derrotada) da maioria dos cidadãos irlandeses do apoio por parte do FMI, uma vaga alternativa, sem contornos ainda muito definidos começa, sem dúvida, a desenhar-se.
De acordo que é pela surpresa e impacto que é possível afectar o status quo. Só que não me parece que nesta caso a acção tenha vergado o poder. Pelo contário, acho que os controladores se vão sair muito mal desta situação.
"O que é um pobre sujeito batailliano envolvido nas transgressões do sistema ao lado da orgia excessiva do próprio sistema capitalista actual?" (Brecht)
Enviar um comentário