01/12/10

O governo das desigualdades: crítica da insegurança neoliberal, de Maurizio Lazzarato

O livro encontra-se por aqui. A nota que se segue é dos tradutores:

Quando em Junho se constituiu a Plataforma das Artes reapareceu-nos uma vontade já antiga de, em conjunto, discutirmos questões que sentimos como estruturantes do nosso dia a dia: questões de emprego, de desemprego e de trabalho em geral, mas sobretudo questões de como vivemos a vida e de como nos pensamos (e vamos tendo ou não tendo de nos pensar a nós mesmos) em função dessa vida.

Questões que têm a ver, sim, com o trabalho nas artes ou no sector da cultura mas que também nos parecem ser maiores do que isso e achamos que não devem, por isso mesmo, ser reduzidas a “isso” apenas. E isto até por motivos estratégicos: bem pequenas, isoladas (e só “de gestão”!) ficam as actuais questões “das artes” e “da cultura” se não as tentarmos entender à luz mais ampla de uma deriva geral do trabalho em direcção à produção imaterial, um seu alargamento a todas as esferas da existência, o modo como é solicitado a cada trabalhador um investimento activo (em imaginação, inventividade, virtuosismo - características que antes pareciam caracterizar sobretudo o trabalho artístico e académico) na produção de si como um “empresário de si mesmo”.

E como pensar a subtil confusão entre “arte” e “cultura” com as noções vagas e aparentemente complexas de “criatividade” ou de “cidades criativas” tão em voga hoje em dia (noções essas que, mais do que nos parecerem corresponder a uma potencial de livre expressão dos indivíduos, nos parecem conter em si novas e menos transparentes tecnologias de gestão)? E como entender a aparente extrema desigualdade que atravessa o trabalho em geral (e o trabalho “cultural” em particular) de maneira a poder encontrar um terreno comum de união? E como fazê-lo sem que se esteja a contribuir para o isolamento dos artistas no seu “mundo”, separando-os ainda mais do todo da sociedade?

Foi porque todas estas questões se nos colocam, porque, de algum modo, queríamos contribuir para um debate que nos parece estar a precisar de novas palavras e de novas maneiras de colocar os problemas - um velho debate que hoje toma novas formas e que, como tal, nos pode ajudar a formar novos e mais precisos termos para lhes dar resposta - que decidimos traduzir este livro.

Traduzimo-lo voluntaria e colectivamente a muitas mãos e ainda não acabámos definitivamente de o rever, ainda não lhe fechámos definitivamente a paginação, antes decidimos divulgá-lo agora, que nos pareceu ser altura. Assim, é uma tradução de trabalho o que aqui apresentamos: tradução de trabalho de um livro escrito, ele mesmo, no decorrer de um conflito (o conflito dos intermitentes em França entre 2004 e 2005), livro instrumento do próprio conflito, tradução de trabalho de um livro de trabalho em suma. Esperemos que a sua leitura possa contribuir para o debate!

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