11/12/10

Re: De que falamos quando falamos de Assange e da WikiLeaks

José Manuel Fernandes escreve:
Assange, na verdade, nem pensa que vivamos em democracia. Em 2006 escreveu vários textos onde defendeu que os Estados Unidos – e o Ocidente em geral – não eram mais do que uma “conspiração autoritária” e que os seus líderes eram todos “conspiradores”. A única forma de deter tais “conspiradores” seria dificultar a forma como comunicam “uns com os outros”, gerando fugas de informação que obrigassem “o estado securitário” a diminuir a capacidade da sua rede computacional, tornando-o assim “mais lento” e “mais estúpido”. Olhando para o impacto das revelações da WikiLeaks e para o que se prevê que aconteça no apertar das regras nas comunicações internas nos Estados Unidos, Julian Assange está a conseguir atingir estes seus objectivos.

Devem pois desiludir-se os que pedem à WikiLeaks que revele também segredos da Rússia, da China ou do Irão: isso não faz parte da sua agenda política. 
Seria conveniente que JMF linkasse para os tais textos para os leitores poderem ajuizar; atendendo a que o artigo de JMF foi inicialmente publicado em árvores mortas em vez de em silício, compreende-se a ausência de links, mas sempre podia ter feito uma adendazinha quando republicou o artigo no blog.

De qualquer forma, estão aqui os tais textos que Assange escreveu em 2006.

Bem, e o que se conclui desses textos? Para começar, são quase completamente abstractos, falando sobre conspirações em geral mas quase sem identificar nenhum governo especifico como sendo uma conspiração autoritária (embora ele refira o Partido Democrata e o Partido Republicano dos EUA como conspirações rivais). Ora, a tese de JMF tem implicita duas coisas: a) que Assange considera os governos dos EUA e do Ocidente "conspirações autoritárias"; e b) que ele não considera os governos da Rússia, a China e o Irão "conspirações autoritárias" - mas nesses ensaios de 2006 não há nada que permita chegar a essa conclusão (a menos que JMF tenha lido mais algum texto além dos que eu li).

De qualquer forma, toda esta discussão assenta numa premissa absurda - de que a WikiLeaks não revelou segredos dos governos da Rússia, da China ou do Irão; então não revelou a informação de que as taxas de crescimento económico chinesas são inventadas, p.ex.? Ou a noticia de um alegado acidente nuclear no Irão? Ou, falando, não de um desses regimes, mas de outros regimes párias para o Ocidente, que os protegidos do governo birmanês estão cada vez mais ricos e que chegaram a pensar em comprar o Manchester United a pedido do neto do ditador?

É verdade que nenhuma dessas informações parece ter grande "sumo", mas pura e simplesmente porque são coisas que nós já estamos à espera desses países.

Já agora, diga-se que o Assange até estará politicamente muito mais próximo do JMF do que de mim...

4 comentários:

Anónimo disse...

Sempre tive dificuldade em entender o que fariam os anarquistas colectivistas (que penso que é onde o MM se inclui) para que a sociedade nunca mais adquirisse características capitalistas. Afinal de contas, iriam impedir o aparecimento de bancos, de instituições financeiras com características semelhantes às que temos? (Para haver capitalismo, a premissa de o capital ter o ciclo D-D' é necessária e suficiente, certo?)

Ana Cristina Leonardo disse...

Não estou a ver o JMF acusado de sex by surprise.

GÊ OITO disse...

Pelo contrário Ana, era uma surpresa que o JMF tivesse sexo.

Anónimo disse...

Ocorreu-me uma ideia que joga muito contra a posição que tenho em relação ao caso wikileaks. Se o Estado (o meu patrão) decidisse tornar públicos todos os conteúdos a que acedo na internet, por exemplo blogs que leio e comento, e-mails que troco, eu não acharia provavelmente graça nenhuma. (De qualquer modo, não tenho dúvidas que essa informação estará acessível aos SIS... e quem é um indivíduo perigoso, o que não é o meu caso, tem possivelmente a vida muito controlada nesse sentido)