Há já algum tempo que não circulava por blogs de direita e a leitura de hoje deixou-me de barriga cheia.
Ficamos desde logo a saber que alguns interesses delicados se viram comprometidos na Tunísia, onde ao que parece aconteceu um «golpe de Estado». Desempenhando as funções de serviço público que são da incumbência do Vias de Facto, gostaria de explicar a Helena Matos a diferença técnica entre uma revolução e um golpe de Estado.
A primeira é, segundo o Dicionário Houaiss, um "movimento de revolta contra um poder estabelecido, e que visa promover mudanças profundas nas instituições políticas, econômicas, culturais e morais". Não tendo à mão uma definição com semelhante rigor em português para golpe de Estado, socorro-me da versão inglesa, que certamente agradará ao partido anglo-saxónico português: "Typically, a coup d'état uses the extant government's power to assume political control of the country. In Coup d'État: A Practical Handbook, military historian Edward Luttwak says, "A coup consists of the infiltration of a small, but critical, segment of the state apparatus, which is then used to displace the government from its control of the remainder".
Como a política não pode ser resumida a formulações enciclopédicas ou de dicionário, procuro tornar as coisas ainda mais fáceis. O que aconteceu na Venezuela em 2002, quando os atlantistas locais procuraram derrubar um governo eleito com o apoio dos sectores mais conservadores das Forças Armadas, foi um golpe de Estado (e falhou). O que aconteceu no Chile em 1973, quando o General Pinochet derrubou um governo eleito para libertar o povo chileno do Estatismo opressivo de Allende, foi um golpe de Estado (e resultou). O que está a acontecer na Tunísia desde Dezembro, é uma revolução (e ainda vamos ver onde chega). O que aconteceu na Bolívia em 2005 foi uma revolução. Em geral aliás, quando o dirigente deposto e a respectiva clique abandona o país de helicóptero (ou vai para o aeroporto de chaimite, como Marcello Caetano), falamos de uma revolução.
Feita esta anotação no campo da ciência política, e saltando por cima do gráfico demográfico através do qual João Miranda explica às criancinhas os acontecimentos na Tunísia e no Egipto (suponho que não valerá a pena perguntar ironicamente aquelas pessoas se é preciso fazer-lhes um desenho), passamos ao momento Sarah Palin.
O Jornal de Negócios informa-nos que o fundo imobilíário do governo do Qatar vai adquirir terrenos à CML. Helena Matos preocupa-se com a possibilidade dos naturais do Qatar se revoltarem contra o respectivo governo (a rua árabe já não é aquilo que era) e incomodarem assim os habitantes de Entrecampos. Enquanto exercício humorístico, bem sei, não é lá grande coisa, mas não deixa de ser curioso que esta estimável ensaísta tenha simplesmente reproduzido a notícia (e com ela, a ignorância do Jornal de Negócios) que considera o Qatar um "país africano". Vê-se que a malta do Blasfémias conhece mal o seu João de Barros e o seu Diogo do Couto, ou saberia que até os portugueses por ali andaram (infelizmente esta geração não aprendeu nada de jeito na escola e etc...). Mas não lhes fazia mal dominarem um pouco melhor a geografia do globo terrestre. Não vá dar-se o caso de, quando chamados a pronunciarem-se sobre o que acontece longe da costa ocidental da Europa, parecer que não percebem nada do assunto.
Aqui fica o Qatar
Aqui fica África (não é um país, é um continente...)
E agora, que este blog passou a merecer um contrato de associação com a SONAE e o respectivo financiamento, pelas funções de consultoria que a iniciativa privada não teve condições de proporcionar, é tempo para uma canção.
6 comentários:
eles tâm a sarah nós temos a helena. mas ao menos a primeira foi miss
-:)
De facto, venha de lá esse Alaska.
Post muito certeiro. As lutas agudizam-se e caem as máscaras da direita que se acomodou a viver em democracia: o golpe de estado hondurenho, praticado por uma cúpula minúscula e sem qualquer expressão popular - bem pelo contrário - já é comparável a uma revolução onde sai um milhão à rua, onde se auto-organizam grupos para impedir que a polícia corrupta roube e acima de tudo onde o exército (equipamento made in USA) se recusa a disparar sobre o povo. Tenha vergonha, senhora Helena.
o alaska não é aquele sítio onde sarah olhava para o céu e via passar os russos?
Porque é que os tipos têm a palin e nós só temos a helena matos? tá mal.
António Lopes
António Lopes, e não nos devemos esquecer da Fátima Campos Ferreira...
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