25/02/11

Não pagamos a dívida, não pagamos a crise

  A crise que atravessa o mundo não é um desastre natural nem um acidente de percurso. Faz parte, como outras que a precederam, dos próprios mecanismos do sistema capitalista em que vivemos. Quando os negócios perdem rentabilidade e os investimentos deixam de gerar os lucros necessários, a crise torna-se um pretexto para baixar salários, privatizar bens ou serviços essenciais (água, energia, saúde, educação), reduzir direitos e conceder mais privilégios aos privilegiados.
Depois de vários governos terem injectado fundos públicos (pagos pelo contribuinte) no sistema financeiro - para cobrir os prejuízos provocados pela especulação no sector imobiliário - o problema da dívida pública ganhou uma importância decisiva. Esse mesmo sistema financeiro cobra agora juros cada vez mais elevados aos Estados, pelos empréstimos de que estes necessitam para relançar as respectivas economias e assegurar o seu funcionamento. Os «mercados» procuram compensar as suas perdas através da dívida pública e os governos agem por sua conta, impondo políticas de austeridade e fazendo os trabalhadores pagar a crise.
A luta contra o pagamento da dívida é um dos elementos essenciais da resistência às imposições da alta finança mundial. Recusamos-nos a pagar para manter o capitalismo agarrado à máquina. Por todo o lado se formam grupos, movimentos e organizações para juntar esforços nesse sentido, superando o isolamento nacional e colocando a questão no plano internacional. É tempo de começar a fazê-lo, também aqui. 
A sessão pública de apresentação/lançamento do Comité contra o pagamento da dívida pública, inserida nas Jornadas Anticapitalistas,  irá realizar-se na próxima 3ª Feira, 1 de Março, na Casa da Achada, a partir das 18h30.

4 comentários:

Anónimo disse...

E se os portugueses - apenas os portugueses - conseguirem essa "vitória"? O que fazer com a nossa economia baseada em serviços e empregos burocráticos instalados no sistema? O que fazer quando percebermos que as importações aumentarão os preços e mais não recberemos milhões da união europeia? E, antes disso, como convencer muitos do que acham que o capitalismo é o caminho a seguir?

Justiniano disse...

Caro Noronha,
Subscreve V. este texto!!?? E esta questão pode ser posta no plano do princípio e não apenas no plano do constrangimento de facto!!

António Geraldo Dias disse...

Muito impressiva a ilustração... com o actual nível de juros no tempo de duas legislaturas a dívida duplicaria e deixaria o país exangue - as condições de financiamento tornam a dívida ilegítima para além de insuportável,só serve para manter no poder os mesmos que conduziram ao actual estado de coisas o que torna odioso pagá-la.

Ricardo Noronha disse...

O caminho é a luta. Que unifique os vários movimentos que lutam contra o pagamento da dívida em países em situações semelhantes - Irlanda, Grécia e Portugal, desde logo.
E que confira à luta contra a austeridade um horizonte prático, tomando a iniciativa e não meramente "defendendo os direitos adquiridos" ou a "soberania nacional face aos mercados".
Sim, subscrevo este texto e ainda esta afirmação:
"as condições de financiamento tornam a dívida ilegítima para além de insuportável,só serve para manter no poder os mesmos que conduziram ao actual estado de coisas o que torna odioso pagá-la."