07/02/11

Salvos pelo humor

— És um bom rapaz, Momo, mas tenta ficar quietinho. Ajuda-me. Estou velha e doente. Desde que saí de Auschwitz, só tive problemas.

[Madame Rosa, velha judia e ex-prostituta, para o pequeno árabe Momo, um dos miúdos da sua creche clandestina para filhos de putas]

Romain Gary, Uma Vida à sua Frente

29 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Quelle trouvaille! Magnífico, Ana. Mas olha que ninguém mais do que o próprio Freud apreciaria esta história. Aposto contigo que não deixará de a incluir na proxima edição de O Dito de Espírito…

Vale?

msp

Ana Cristina Leonardo disse...

:-)
(um dia destes ainda vou procurar uns postes do outro tasco sobre freud... aí é que vão ser elas...)

Mas por falar em ditos de espírito, não sei se já te contei aquele do Karl Kraus:
"A teoria antiga negava a sexualidade dos adultos. A moderna diz que os bebés têm prazer sexual enquanto defecam. A antiga era melhor, ao menos podia ser contraditada pelas partes envolvidas."

Miguel Serras Pereira disse...

Não é má, Ana - mas já a conhecia. Um nada popperiana, quand-même… não?


msp

Ana Cristina Leonardo disse...

o popper não tem culpa do espada
-:)

Miguel Serras Pereira disse...

Como o Marx não tem culpa do Barata Moura. Mas nem por isso deixa de ser um filósofo particularmente insípido - o Popper, não o Marx.

Ana Cristina Leonardo disse...

o Barata Moura!!!! Há anos que não me falavam desse cromo. E que cromo. Parece que chegou a reitor ou qualquer coisa parecida. Pobre Marx, de facto.

Anónimo disse...

Como a inteligência e a dignidade não têm culpa deste par de velhos jarretas que dão pelo nome de Leonardo e Pereira. Umas tristes figuras, com espírito de pide e sem dimensão intelectual. Ide, Pereira, ide espiolhar o estalinismo na net, meu.

Anónimo disse...

Santo Deus !

O Barata-Moura tratado como «um cromo !

A menina Ana Cristina, para além de lhe ter ouvido as canções em pequenina, já leu alguma coisinha da sua vasta obra reflexiva e teórica ou teve dificuldades ?.

Mas esta gente não se enxerga ?

Anónimo disse...

O MSP é ridículo. O Barata-Moura tem nível mundial. Quem é o MSP? O MSP tem inveja do Barata-Moura: um homem extremamente inteligente culto, um filósofo de grande nível. Ouça MSP: e traduziu Hegel, Kant, Marx, Heidegger, do latim, do grego, o Locke, o Merleau-Ponty, tudo, tudo. Tenha vergonha. Vale mais uma vírgula ou um suspiro do Barata-Moura do que quilos vazios da sua conversa de Paco Bandeira.

Anónimo disse...

No Freud pode-se bater. No Marx pouco. No Barata Moura nada.
Porque sou de tomar partido prefiro mil vezes o humor da ACL e a elegância (falo da forma como responde aos comentários) do MSP a estas vozes do além.
Já gostei mais do Freud e do Marx. Era novo e tinha lido pouco. Do Barata Moura só me lembro do blogger do Pratinho de Couratos a cantar o Fungágá na primeira fila do anfiteatro, da Faculdade de Letras, durante as aulas de Teoria do Conhecimento (salvo erro). Foi um tempo com piada. O futuro reitor era uma nulidade como professor. Criei uma anti-comunista ao som do magnífico reitor. A Joana já não come a papa.

Ana Cristina Leonardo disse...

Ó pá, não sabia que o Barata Moura era mais intocável do que o marx e quiçá o freud. lá perdi mais uma oportunidade de ficar calada.
Para o Vítor Dias: no tempo das canções que sugere eu já era moça para outras músicas. Mas por acaso o senhor em causa foi meu professor na faculdade. Era uma chatice. Passava o tempo a dizer "atenção que o empirismo é uma forma de idealismo. perceberam?". Nunca tive paciência para gente que não diz logo ao que vem.
De qualquer forma, esta caixa de comentários tem graça: um manda-me ir com o Pereira, logo a mim, que tb. sou Pereira, caçar estalinistas na NET (a propósito, o Barata Moura já deixou de ser estalinista; pergunto?), o vítor dias chama-me menina (obrigadão Vítor, a sério!), o outro que é anónimo chama-me velha jarreta. Uma mulher fica baralhada e não é por causa da metafísica nem do empiriocriticismo.
Resta-me agradecer ao último anónimo. E sim, as aulas eram de Teoria do Conhecimento. Mas já não sou do tempo do Táxi Pluvioso.

Anónimo disse...

A Ana Cristina Leonardo, seja qual for a idade que tiver, uma coisa é certa: para pôr sequer a hipótese de o Barata-Moura ser um «estalinista» é mesmo preciso nunca ter lido sequer um dos seus artigos na Vértice.

Era mais sério dizer assim: «desculpem lá mas não sou obrigada a ler sobre tudo e a saber de tudo.O direito à superficialidade e à aposição de etiquetas palermas não vem na Constituição mas deve ser reconhecido !»

Ana Cristina Leonardo disse...

Caro Vítor Dias, o peixe podre cheira sempre mal e não é preciso ser robalo.
Se quer que lhe diga, prefiro um estalinista fora de tempo (sempre sei com o que conto...) a um vendedor de banha da cobra actualizado, que era exactamente o que era o Barata Moura enquanto professor.
Ele e o professor Chitas (que tb. parece que escreveu na Vértice)faziam uma boa parelha, embora o Barata Moura tivesse (muito) mais jeito para o palco.
Mas reconheço que tudo isto que digo é bastante superficial, subjectivo e talvez mesmo inconstitucional.
Todavia, qd quiser discutir o pensamento filosófico profundo, original, pode ir até ao dialéctico que eu aguento, do José Barata Moura, faça favor. Embora, de momento, a minha onda seja mais scopitones.

Miguel Serras Pereira disse...

Bom, é recomendável alguma caridadezinha para com o filósofo de nível mundial José Barata Moura. Tanto mais que, vindo das alas moderadas da JUC, ao converter-se subitamente ao PCP, não se coibiu de compor uma canção autocrítica sobre o cravo vermelho ao peito, em que assume a liberdade poética de transpor o seu caso para o "(d)aquele administrador promovido a democrata". Dos seus tempos de soit-disant "progressista prudente" - cantando em francês e marcando bem as suas distâncias perante os radicais que então desafiavam a hierarquia e a PIDE -, guardou a lábia cauística e os tiques inquisitoriais de detecção da heresia e o tom de catequista que alerta contra os perigos do livre-pensamento.

Quanto ao resto, o Vítor Dias devia saber tão bem como eu, pelo menos, que dois u três parágrafos de Óscar Lopes, por exemplo, são uma vacina definitiva contra a rejeição preliminar do pensamento que serve de ponto de partida e princípio constante à filosofia de José Barata Moura e à esterilização profiláctica a que ele procede de quaisquer ideias em que toque.

Até mais logo a todos, mas, como alguém já sugeriu nesta caixa de comentários, já nem a Joana levam lá com estas papas e bolos.

msp

Anónimo disse...

Bom, bom, agora que já sei que o B-Moura é fraquito e estalinista, que odeia a liberdade e outros mimos (oh, deus, o que seria dizer isto do Pobre Villverde Cabral!), posso finalmente pedir esclarecimentos aos dois jarretas:
- o que é a unidade originariamente sintética da apercepção, em Kant?
- o que é para Fichte, propriamente, o conhecimento?
- o que significa em Sarte a categoria ouvragé?
- como se liga, em Schelling, a natureza e o espírito?
Continuamos?
Esclarecem isto, amigos. Já vimos que o B-M não é capaz.
Senhorita Leonardo, julgo que o empirismo ser uma forma de idealismo lhe passa completamente ao lado, não é? Ficou com a frase na cabeça, mas já se viu que não pensa. A filosofia não é um blog.
Adeus.

Anónimo disse...

Não sou o último anónimo, que parece o Niet. Eu sou o anónimo da Joana come a papa, também ex-aluno do Barata Moura.
O tom do Vítor Dias é de um paternalismo insuportável. Já agora aproveito para lhe fazer uma pergunta. O Barata Moura é o mesmo da Brotéria?
Pela mão do Maradona fui ter a um post do 5 Dias. Post e comentários são hilariantes. Nunca pensei que fosse possível certa esquerda andar alucinada sem tomar LSD. Lá está também o Niet. Faz pena ver o MSP ir a todas.

Joana Lopes disse...

Vim aqui parar agora por causa de um post mais recente da Ana Cristina, mas, como o msp fala de uma Joana (eu sei que é da que come a papa e eu até não gosto da dita), venho penitenciar-me por me sentir co-responsável de tantos males que o JBMoura está a trazer ao mundo. É que ele foi meu aluno na Faculdade, imaginem, embora eu ainda não seja centenária: o melhor, ex-aequo com Jaime Gama, de todos os que tive numa meia dúzia de anos. Devo ter-lhe feito mal. Desculpem lá a pergunta: está tudo doido?

Sofia Figueiredo disse...

Deviam ter vergonha na cara por atacarem o J.Barata-Moura desta maneira tão acintosa. Essa ACL chegou aonde na vida? Uma oportunistazeca que quando morrer não vai deixar nada de jeito. Como já alguém disse acima, mais vale uma vírgula do Barata-Moura a quilos de conversa à Paco Bandeira. Que nojo de conversa para com um verdadeiro senhor.

Qual é o seu problema ACL? Reprovou numa cadeira do senhor? Não conseguiu compreender o óbvio, de que o empirismo é uma forma do idealismo? Que você percebe da relação entre essência e aparência?
Devo dizer que o mesmo procedimento desonesto você também utilizou quando morreu o Saramago, onde você, como grande escritora que é (risos, muitos muitos risos), andou a insultá-lo e a dizer que o homem não prestava como escritor porque, pasme-se, os romances dele tinham "ideias". Não me diga que existe algum romance sem ideias, concordando ou não com elas. Bom, até acredito que exista um romance sem ideias, um possível romance seu que é por isso que não vem cá para fora.

Sejamos honestos. Uma coisa é não concordar com o Barata-Moura e, através disso, apresentar argumentos racionais sobre o que ele escreve e pensa e não com chavões e frases feitas. Outra coisa é tentar resolver ressentimentos de gente academicamente nula que desculpa o seu fracasso intelectual com ataques pessoais a um intelectual de enorme qualidade. O homem dá-lhe tareia em qualquer assunto ou era histórica da filosofia e você ainda acha que vale alguma coisa ó "filósofa"? Medite menos na pastelaria, as bolas de berlim enchem-lhe o cérebro de creme.

brunopeixe disse...

Caros Miguel e Ana Cristina Leonardo,

Confesso que fiquei um bocado perplexo com o que por aqui escreveram do José Barata Moura. É claro que acho injustificada a forma insultuosa como alguns comentadores se dirigem a vocês, mas enfim, acharia o mesmo qualquer que fosse o assunto.
Mas vamos por partes, como dizia Jack, o Estripador.
Miguel, não vou comentar o que o Barata-Moura fez antes ou depois do PREC ou da JUC ou do PCP. Lembro-te que foi em termos intelectuais que começaste por achincalhar o JBM e portanto é por aí que vou. E deixa-me dizer que é tremendamente desonesto compará-lo com o João Carlos Espada, ou dizer que o Espada está para o Popper como o Barata está para o Marx. É preciso não conhecer o Espada nem o Barata. O Espada é uma nulidade intelectual, que recorre, parágrafo sim, parágrafo não, à autoridade de que lhe confere o doutoramento em oxford e o facto de ter privado com o Popper e o Dahrendorf. O resto são invocações ultra-conservadoras ao respeito pela autoridade e pela tradição anglo-saxónica de ódio a tudo o que possa parecer pensamento e prática subversiva. Tem de facto o mérito de ter tirado o doutoramento em Oxford. A tese dele está publicada na Imprensa de Ciências Sociais e é óptima para quem precisar de aumentar a auto-confiança académica. Que alguém conseguiu doutorar-se em Oxford com aquilo, é a prova de que o título académico está verdadeiramente ao alcance de todos.
Já o Barata-Moura cumpre exactamente o requisito que tu consideras essencial para pertencer à comunidade pensante e agente: é alguém que pensa pela sua cabeça, e que não se limita a repetir os refrões alheios, nem os ditados de outros mestres. Os muitos livros e artigos que publicou, e que continua a publicar, bastam para o demonstrar. Aliás, não tens muitos casos na academia portuguesa de tanta persistência no trabalho teórico, quando a necessidade de fazer carreira já a isso não o obriga. Repararás também que o JBM não se limita a escrever sobre os autores ou temos que lhe são afins e que boa parte da sua produção é sobre doutrinas que não subscreve de todo, como as de Kant, que como sabes foi o maior autor autonomista. De resto, tal como tu também prefere o Aristóteles ao Platão (ninguém é perfeito) e penso que não repudiarias a sua leitura do primeiro.
Ana Cristina Leonardo, a verdade é que já recolhi impressões relativamente à leccionação pelo JBM da cadeira de Teoria do Conhecimento, que vão um bocado no sentido da sua. Ou seja, que a malta do primeiro ano de filosofia fica assim a modos que a apanhar bonés. Não é bom falar para alunos do primeiro ano como se fossem do quarto, e o objectivo de um professor não deve ser o de ter um anfiteatro de basbaques prostrados à sua frente com o peso da sua erudição. Mas isto é o que eu sei de ouvir. Porque a minha experiência de estudante de pós-graduação foi a de um dos melhores professores que tive. Daqueles que, ao mesmo tempo que ensinam um pensamento ensinam a pensar, porque mais do que transmitir conteúdos, estão a pensar as condições de produção da própria filosofia. Olhe que num meio académico em que predomina um entendimento da história da filosofia como panteão, e como um consórcio de génios descarnados da história, cujas ideias parece que surgiram por partenogénese ou por iluminação divina, isso não é coisa pouca.
E a questão do idealismo é justamente uma das que orienta o seu olhar sobre a história das ideias.E convenhamos que nunca o faz sem argumentar nem sem dizer claramente de onde parte. Por isso não compreendo muito bem essa do não dizer logo ao que vem. Até parece que tem uma agenda escondida ou que está ali a impingir ideologia aos pobres alunos intelectualmente indefesos. Claro que a leitura dele é orientada por preocupações políticas. Mas as outras leituras que eventualmente terá encontrado ao longo do curso não o eram? Existe alguma leitura que seja neutra ou um grau zero da interpretação?
Um abraço,
bruno

Ana Cristina Leonardo disse...

Anónimo das 11:55, antes de mais, deixe-me dizer-lhe que apreciei o tratamento por “senhorita” (li-o com pronúncia espanhola, claro) mas se a filosofia não é um blog, muito menos o será uma caixa de comentários. Pelo seu questionário, deduzo, contudo, que será grande leitor de Barata Moura. Não é o meu caso. Fiquei vacinada quando ele me tentou explicar o movimento do Lech Wałęsa à luz do marxismo-leninismo. A história deu-lhe razão, claro.

Anónimo das 12:14, o tom paternalista que refere umas vezes irrita-me, outras vezes dá-me sono (tal e qual como as aulas do Barata Moura).

Joana, foi seu aluno e era muito bom. Acredito. Não percebi foi a ligação com o “anda tudo maluco?”

Sofia Figueiredo, como foi tão, tão querida, não podia deixá-la sem resposta, no caso em forma de pergunta: quem é que lhe disse que eu queria chegar a algum sítio na vida? Bom, a uma viagenzinha à Patagónia por acaso não dizia que não. Mas já a Austrália, por exemplo, não me diz nada.
E só um esclarecimento, para acabar: não aprecio bolas-de-berlim com creme. É isso e o Saramago.

Bruno Peixe, está completamente enganado. O problema das aulas do Barata Moura era exactamente o inverso: tratar os alunos do primeiro ano como se fossem miúdos do Fungagá da Bicharada, prontos a ser catequizados. E essa do idealismo é um bocadinho redutora, não lhe parece? Bom, mas afinal quem tinha razão era o Borges: a metafísica é um ramo da literatura fantástica. Ponto de vista bem mais interessante e, já agora, estimulante.

José Barros disse...

O problema é que o diagnóstico da Sofia é certeiro: esta Ana Cristina Leonardo não passa de uma oportunista, intelectualmente mediocre, especialista em soundbytes sem qualquer substância, que por alguma arte encantatória que desconheço enfeitiçou os restantes escribas do Vias, que chegam, alguns é certo, a achar que o que escreve tem o mínimo de qualidade. Ou então deve-se ao MSP, que estando intelectualmente a quilómetros da Leonardo, parece ter um certo gosto perverso na calhandrice, que o início desta caixa de comentários expõe. Ora, para isso, a Leonardo serve como ninguém, já que a intriga é o seu desporto preferido. Nem me espantava que alguns dos anónimos que aqui estão fossem a própria Leonardo - pois no seu blog fazia o mesmo! Muito mal vai o Vias com estas companhias.

Miguel Serras Pereira disse...

Bruno,
isto começou por uma brincadeira: se o JBM não é o Espada, o Popper também não é o Marx, e por aí fora.
Dito isto, fica tudo por dizer e não tenho tempo para metade. O meu "autonomismo" é pouco kantiano e muito menos formal(ista), etc., etc. Remete mais para a consideração do nomos, radicalmente entendido como criação da lei e auto-instituição, etc., etc.
Registo com agrado que és capaz de generosidade hermenêutica, ao contrário do que me fez recear um teu post recente sobre um pensador da política e pensador político tão singular e ímpar como o MVC. Águas passadas.
Se me dissesses do Óscar Lopes - também militante do PCP - o que dizes do JBM, mais coisa, menos coisa, eu não só te apoiaria, mas como acrescentaria por cima.
Não sou qualificado para avaliar da erudição académica, disciplinar, do JBM. Mas sempre me causou a impressão de um desses eclesiásticos eruditos que, quanto mais sabem, menos pensam. As "ocasionais" que até há uns anos ia de vez em quando lendo dele eram absolutamente desanimadoras e de um sectarismo a toda a prova (lembro-me de uma denúncia inquisitorial do grande Henri Lefebvre - já nos anos 80 - como anticomunista de profissão ou coisa que o valha e que, de resto, o EPC zurziu em poucas linhas como só ele sabia fazer, dispensando-me de acorrer em defesa do meu marxista (tê-lo-á sido?) de estimação. Dir-me-ás que as "ocasionais" são só uma parte e, para ti, a menos importante. O problema, Bruno, é que para mais volumoso, vindo de quem vem, não tenho pachorra. A postura intelectual do coiso chateia-me desde os nossos (dele e meus) vinte anos; até onde lhe segui, por descargo de consciência, a apologética, o estilo manteve-se, honra lhe seja, fiel a si próprio. Sê indulgente para com a idade provecta que vou tendo. Ele há tipos que, quanto mais sabem de filosofia, mais antifilosóficos se tornam, menos capazes são dessa reflexão não-profissional nem profissionalizável, desse debate interno que a cidade e a história de que somos herdeiros travam consigo próprias através do pensamento e da palavra de cada um de nós ao ex-plicar-se - capacidade na qual, por outras palavras, Hannah Arendt via o alcance prático (nos dois sentidos do termo, se quiseres) e político da filosofia.
Ia dizer mais, mas não. Por agora chega, não te quero maçar nem enxofrar com outras considerações sobre o teu ex-professor. E podemos sempre falar mais tarde de outras coisas -quando para ai nos derem os ócios pessoais ou o exijam os negócios públicos.
Abrç

msp.

Niet disse...

MS. Pereira e todos em geral: Como é que vais conseguir ultrapassar o dilema subjacente a toda(s) estas várias polémicas onde se afrontam duas ordens de discurso dominantes: a marxista e a autonomista, a solução irénica e a tese catastrofista onde a representação da cultura se coloca,paradoxalmente, como contraponto da lógica da dominação e do Estado... Já W. Benjamin dizia que sob todo o monumento de Cultura existe a bárbarie; onde as invectivas de Nietzsche via " Genealogia da Moral " se repercutem de forma mediata e violenta:" Ah, a razão, o espírito de seriedade, o controlo das paixões, toda esta questão lúgubre a que se chama reflexão, todos estes privilégios e atributos de aparato dos humanos: como os pagámos caro! quanto sangue e horror se encontram no fundo de todas as " boas coisas " ".O Vias está mesmo a jogar- em todo o seu esplendor -aquele grande desafio da confrontação entre Utopia e Democracia, que uniu e separou a colaboração política entre Lefort e Castoriadis? Niet

brunopeixe disse...

Cara Ana Cristina,

Para o Borges não era apenas um ramo: era o mais delirante, e portanto o mais exemplar, dos seus ramos. Tendo em conta a conta em que o Borges tinha a literatura fantástica, não se pode dizer que seja uma desconsideração.
E porque é que considerar o empirismo como uma forma de idealismo é redutor? Não é a única grelha de leitura possível? Pois não é, mas acho que o JBM nunca disse que essa seria uma leitura que esgotaria todas as interpretações possíveis. E olhe que há muita confusão entre empirismo e materialismo.
De resto, noto em si um certo desprezo de literata pela especulação metafísica. Daí se calhar o não gostar do Saramago por colocar o estilo ao serviço da exposição doutrinária. Creio que é isso que se chama literatura de ideias, e que do Nobokov para a frente não tem sido pouco vilipendiada. Não sei, parece-me, mas se calhar sou eu que estou a ver mal. Vai na volta até sou.
um abraço,
bruno.

Miguel Serras Pereira disse...

Prudência, Bruno. Eu não queria trazer para aqui esta conversa e, se quiseres, fica para outro lado. Mas tu achas que a oposição materia/ideia (ou consciência, ou espirito, ou representação) e as que dela derivam (corpo/alma, soma/psique, acção/pensamento, etc., etc.) mantêm a sua pertinência e podem dar conta do confronto entre as diferentes posições filosóficas? Achas que uma pedra é mais real, ontologicamente mais densa, do que uma palavra?
Ou, por outro lado: a que se opõe hoje que concepção da matéria, se a única definição consequente desta for, como quer Óscar Lopes (cito de cor), a daquilo que está disponível para a acção humana? As "condições materiais" (económicas, técnicas, etc.) não são também "culturais", e vice.versa?
Mas já, quanto à literatura fantástica, verifico com agrado que, ao contrário do que talvez te pareça, a Ana e tu estão de acordo.

msp

Ana Cristina Leonardo disse...

José Barros, agora é que me desmascarou! Perante o seu demolidor comentário, vejo-me obrigada a confessar o segredo que contava levar para o túmulo: Ana Cristina Leonardo é pseudónimo; na realidade, eu chamo-me José Barros, uso barba e patilhas e - acontece - só uso o meu verdadeiro nome ou, em alternativa, sou anónimo, quando me esqueço de tomar o comprimido.

Caro Bruno, desconsideração?! Nunca, e a que propósito? Pois se Borges é genial (e eu não sou muito de usar este adjectivo).
Quanto à questão do idealismo, deixe-me dizer-lhe o seguinte: as aulas do Barata Moura não passavam de uma longa e enfadonha introdução aos vários filósofos que tinham pensado o problema do conhecimento, da Antiguidade a Heidegger, se não estou em erro. A questão da formação do conhecimento é fascinante. Não vou maçá-lo com o assunto. Ainda hoje me deixa perplexa (me espanto, para usar o Aristóteles) sermos capazes de conceitos tão simples como “cão” – como é que uma criança, perante a disparidade de tamanhos, cores, pelagem e comportamento dos canídeos, chega tão rapidamente à conclusão que tanto é cão um grand danois como um caniche anão mesmo quando nenhum ladra?
Tratar a teoria do conhecimento a partir da grelha do idealismo/não idealismo é redutor. Com tanto assunto e com tanta coisa nova que foi aparecendo entretanto (é verdade que estamos sempre a voltar a Platão, mas, enfim, não será preciso exagerar). O ponto principal, contudo, não é esse. O principal é que desonesto intelectualmente fazê-lo como ele o fazia: sem abrir o jogo, catequizando de modo ínvio, tentando formatar cabeças à luz da sua ideologia política.
O mesmo se diga em relação à literatura: nada tenho, que raio!, contra a literatura de ideias, chamemos-lhe assim. Mas contra autores que tentam passar mensagem, como se o leitor fosse parvo, por entre as vírgulas e os pontos e vírgulas, tenho tudo.
No que respeita ao Saramago, não só isso me irrita como acho que a partir de determinada altura ele arranjou uma fórmula estilística, uma muleta e toca a andar… (e quanto às ideias, por exemplo, as que formulou sobre deus são de uma pobreza mais do que franciscana – nem os fundamentalistas religiosos interpretam tão à letra a Bíblia, e até me apetece acrescentar, santo deus!). Mas sim, entre a filosofia e a literatura, acho que aprendemos mais – muito mais – com a literatura. E com isto não sei se respondi ao seu comentário.

Ana Cristina Leonardo disse...

E só para acabar, que afinal há mais vida para além do Barata Moura: este post era sobre a frase absolutamente deliciosa do Romain Gary citada aí em cima.
E onde ela nos levou.
É caso para dizer que o Barata Moura só me tem dado chatices.

Anónimo disse...

Afinal estou no 5 Dias , a Joana come a papa e ainda sou do tempo em que os animais falavam. A outra Joana teve os alunos que mereceu: umas alforrecas viscosas. Porra! Logo duas e tão anafadas? Não foi coincidência, foi merecimento. E eu a dizer estas coisas, que até gosto de ler a geronte e não serei muito mais novo. O Bruno Peixe vai tão longe quanto o Tárique: tudo encostado ao muro. http://5dias.net/2011/02/06/conversas-de-circunstancia/
O Vítor Dias falou da Vértice e esqueceu a Brotéria.
Pior ou igual a isto só os gajos do Cachimbo de Magritte e da Frelimo.
Os extremos tocam-se e a música não é celestial.

Anónimo disse...

Há coisas que não entendo.
Há uns gajos que querem encostar outros a um muro. Paredón? Fuzilamento?
O Bruno Peixe, o Renato, o Vidal,o MSP são da mesma linha? O Vítor Dias, a Joana Lopes, o Niet e a ACL também?
Não gosto de confusões, nem de quadraturas do círculo