20/01/11

Ah a estética!

Nuno (Ramos de Almeida; ou Tito; era só uma piada a recordar os teus tempos da Politika), acho que leste à pressa o que escrevi. O que disse é que sobre a questão nacional podemos pegar em Marx e chegar a posições muito diversas. E disse-o contra interpretações que se julgam autorizadas e que apresentam o “seu” Marx como o único Marx, caso do primeiro post do Manuel Gusmão sobre este assunto. Acho também que dizeres que eu muitas vezes não faço mais do que ligar à estética das minhas atitudes não só é pouco simpático (na medida em que, por um lado, somos bastante amigos e que, por outro, me consideras um rapaz inteligente, seja lá isto o que for) como releva ainda de um conceito de estética muito limitado. Parece-me que com o Carlos Vidal poderás aprender mais coisas do que apenas um certo estilo caceteiro. Mas vamos ao que interessa, que não é a primeira nem a última vez que temos estes arrufos, e não é por aí que virá mal ao mundo. Como já disse, acho que leste à pressa o que escrevi. E acho também, contra mim falo, que deveria ter sublinhado o seguinte no post anterior: a atitude do Estado Espanhol em relação aos militantes independentistas bascos é absolutamente condenável, da perseguição intelectual à tortura prisional. Posto isto, não só mantenho como reforço o que disse: se for realizado um referendo no País Basco e se a maior parte dos eleitores decidir que o País Basco deve continuar a ser parte do Estado Espanhol, é absurdo continuar a falar de dominação imperialista de Espanha (ou Castela, como queiras) sobre o País Basco. E quem o fizer revela que não pretende a autodeterminação do País Basco de modo a procurar chegar à independência mas que sim pretende a independência mesmo que seja a custo da autodeterminação. Isto é, quer que o País Basco seja independente de Espanha mesmo que isso seja contrário à vontade expressa pelo eleitorado num referendo que se considere democrático. É contra a autodeterminação, isto é, contra que o eleitorado decida o que quer fazer consigo mesmo. Quanto ao resto, sobre perceber pouco ou muito da teoria do imperialismo da Gertrudes Viegas, é daquele tipo de debates que não me interessa mesmo nada.

7 comentários:

Anónimo disse...

Pá, achas portanto, que se a maioria do eleitorado votar cavaco e passos coelho ou sócrates, contestar os tipos é ser contra a democracia?
O teu argumento conduz a isso.
Não tenho nenhum arrufo contigo, prefiro discordar cem vezes de ti do que dialogar com um burro. Acho que não leste o que eu pretendi escrever, mas voltarei como mais vagar ao assunto.

Abraço
NRA

Miguel Serras Pereira disse...

Mas, Nuno, embora não vivamos em democracia, é claro que teremos de levar em conta no modo de combatermos cavaco e passos coelho que a maioria dos eleitores votou neles (se for esse o caso). E interpelar politicamente a insatisfação e aspirações, reivindicações e descontentamentos, dos membros dessa eventual maioria, opondo a sua potencial vontade democrática de outra coisa às consequências da escolha que fizeram. Propondo-lhes mais ocasiões de deliberar e decidir, de participar directamente no processo político - e não o contrário.
Abrç

msp

Zé Neves disse...

Nuno, respondendo à tua pergunta: claro que não acho.

Mas também não acho que se compara a dominação do PS ou do PSD sobre os portugueses com a dominação do Estado Espanhol sobre os bascos.

abç

Anónimo disse...

Tens toda a razão: o PS e PSD ainda não nos torturam.
O meu argumento é mt claro: não são as eleições que anulam uma opressão. Elas podem legitimar democraticamente a dita cuja, mas não a tornam melhor.
Dando um exemplo prático, não me passa pela cabeça apelar ao voto em Marrocos num alegado referendo pela autodeterminação do Sahara, só pq há referendo democrático e como tal, na tua opinião, Marrocos deixa de ser anti-democrático. A relação de dominação subsistirá mesmo que seja "democraticamente" legitimada.

NRA

Ricardo Noronha disse...

Mas então, Nuno, qual o significado que atribuis ao direito à auto-determinação? Espero que não me acuses de saber pouco sobre a teoria do imperialismo da Rosa Luxemburgo mas, parece-me, a luta pela auto-determinação nacional nunca foi considerada pelos «marxistas» como outra coisa que não um combate democrático. Assim, da mesma maneira que as eleições não anulam a opressão, a independência nacional também não.
E se os residentes em Bilbau reivindicarem a independência face ao País Basco para formarem uma cidade-estado? E se os habitantes da zona leste de Bilbau reivindicarem a independência face à cidade-estado? E assim sucessivamente, até ao último basco se auto-determinar completamente.
Criticar a opressão do Estado espanhol sobre o independentismo basco não tem de equivaler a subscrever toda a plataforma política desse independentismo. Fico sem saber que outra via - uma vez que a do referendo não te convence - propões tu para a resolução do conflito basco.

Anónimo disse...

Noronha,
Apenas me manifestei contra o apelo ao voto em Castela do Neves. Nada tenho contra o referendo. Para entederes a conversa, peço-te a paciência de ler os posts da discussão.

NRA

Miguel Serras Pereira disse...

Prudência, Nuno. Respira fundo antes de escreveres à la légère coisas à la Alegre como o "apelo ao voto em Castela" nos considerandos de um libelo acusatório dirigido contra o nosso generoso Zé Neves, ou então explica lá à malta porque é que os bascos só podem libertar-se na condição de fundarem um Estado soberano - e não, nunca, jamais, no quadro de uma federação, que justamente através do referendo, pela sua simples realização, terá derrotado as prerrogativas "colonialistas" de Castela, tenderá a preludiar uma nova república na Península, abrirá uma via que tornará mais fácil a inclusão da região portuguesa numa União Ibérica republicana, etc., etc.

Abrç

msp