23/01/11

Reflexão pós-eleitoral

Se a abstenção, ainda que adoptada como protesto, quando temos presente que quem quer o mais quer o menos, parece pouco consequente (embora nas presidenciais, dada a intensidade do seu princípio aristocrático, se torne talvez aceitável), o caso não é o mesmo com os votos nulos e brancos, que exprimem uma vontade de participação, juntamente com a recusa de aceitar qualquer das propostas presentes no sufrágio.
Assim, ainda que demos de barato que metade dos votos nulos terá ficado a dever-se à inabilidade dos votantes, talvez valha, à partida, um momento de reflexão pós-eleitoral o "pico histórico" dos votos brancos e nulos que acompanhou a elevadíssima abstenção.

As eleições de hoje tiveram uma abstenção recorde em presidenciais - 52,47 por cento, com 99,98% das freguesias apuradas. O resultado ultrapassa o da reeleição de Jorge Sampaio (50,29%), em 2001. Votos brancos e nulos também atingiram pico histórico.
(…)
As eleições também foram marcadas por um elevado número de votos brancos (cerca de 191 mil votos, 4,3 por cento do total, faltando apurar uma freguesia em Lisboa) e nulos (86 mil votos, 1,9 por cento do total). Foi o maior registo de sempre. Em 2006, ambos tinham somado 1,84 por cento e em 2001, dois por cento. O valor máximo anteriormente registado fora em 1991 - dois por cento de votos brancos e um por cento de nulos.

6 comentários:

Força Força Camarada Vasco disse...

Os 2% de acréscimo nas eleições não tem grande significado

Os votos brancos e nulos, esses têm de certeza, muitos votaram por medo do futuro

E muitos por desconfiança nos políticos votaram branco ou nulo
e não é so para estas, tornar-se-à cada vez mais distante o eleitorado daqueles que elege

rui disse...

o divórcio dos políticos que isto representa deveria preocupar-nos a todos e não apenas aos políticos. Quando um sujeito como o Coelho surge do nada da Madeira e com uma campanha misérrima tem quase tantos votos como o candidato do PC, a reflexão a fazer não é tanto sobre se isto representa o sentimento anti sistema que se vai instalando mas sobre QUE Sentimento anti sistema se exprime com isto.

Ricardo Alves disse...

«demos de barato que metade dos votos nulos terá ficado a dever-se à inabilidade dos votantes»

Não. Os votos nulos em 2006 eram 43 mil. Agora foram 86 mil. E não me consta que o analfabetismo/iletracia/miopia grave tenham aumentado.

Se assumirmos que metade dos nulos em 2006 eram «inabilidade», então os «verdadeiros» nulos triplicaram. Que foi o que aconteceu aos brancos: triplicaram. E com muito menos votos a entrar em urna, note-se.

Miguel Madeira disse...

Eu estive numa mesa de voto, e quase todos os votos nulos tinham, ou os quadrados todos marcados, ou inscrições insultuosas para todos os candidatos (num caso com referencias vernáculas a sodomia), em 15 votos nulos, só dois parecia inabilidade - um com o X no Fernando Nobre mas com o quadradinho do Defensor preenchido a azul (provavelmente o eleitor votou num, arrependeu-se, rasurou a cruz e pôs no em que finalmente decidiu votar) e um todo branco e a dizer "voto em branco" (ironicamente, foi a inscrição "voto em branco" que levou o voto a ser nulo em vez de branco)

Ricardo Alves disse...

OK.

Se essa amostra for generalizável, temos uns 11 mil nulos por «inabilidade». Os outros 75 mil serão protesto. Ainda é mais do que o Defensor Moura.

Niet disse...

MS.Pereira e todos em geral: A vitória " negativa " de Cavaco Silva é um autêntico pesadelo para a maioria democrática quase intangível que domina a conjuntura política portuguesa desde o 25/4 de 1974. O PR reeleito " de justesse " enunciou um discurso de " vitória " dantesco,vingativo e com uma rara vilência assertiva ao arrepio de uma " imagem " paternalista,constitucionalista e conciliadora que andou a agenciar nos últimos 5 anos. A esses " pruridos " de bem intencionada defesa da " coesão social e dos objectivos estratégicos multi-classistas " do passado, Cavaco ensaia agora como contraponto uma lógica de dominação de classe indisfarçável e agressiva onde os factos determinantes sociopolíticos da nova relação de forças que deseja impôr e liderar, se ligam e estruturam pela contradição paradoxal de uma lógica de poder e exploração sem limites claramente afirmada na triste noite de ontem no C.C. de Belém...Niet