02/12/12

Memorável post internacionalista de um camarada que muita falta faz neste Vias por onde já andou

Basta pensar nos 400 milhões de euros de prejuízos alegadamente provocados pelas paralisações dos estivadores, segundo o Secretário de Estado dos Transportes, para ter uma ideia da produtividade do seu trabalho e do seu peso na economia portuguesa. Se uma greve efectuada meramente às horas extraordinárias envolve valores dessa ordem, então como poderiam ser incomportáveis os níveis salariais actualmente praticados no sector? Semelhante pergunta parece não interessar à generalidade das reportagens que se ocupa do assunto, talvez porque o grande desígnio nacional de empobrecimento generalizado e de contracção salarial ocupou há muito o lugar que outrora se encontrava reservado ao jornalismo, que tinha, entre outras, a incumbência de fazer perguntas incómodas para as pessoas que não costumam ser incomodadas. Neste sítio e nesta hora, em que governo e patronato falam do povo como um rebanho inquieto mas apesar de tudo obediente, em que os trabalhadores são apresentados como vítimas pelos seus próprios representantes sindicais e os desempregados como um conjunto de pessoas cheias de azar, o facto de haver um sector operário que responde a tudo isso com um sorriso que ameaça tornar-se feroz escandaliza todos os escribas do partido da ordem. 

1 comentários:

Nuno Gaspar disse...

Se está na rua é bom. Está na altura de procurar outros critérios de interpretação destas movimentações sociais, caro Miguel, como, por exemplo, os milhares de postos de trabalho que pôem em causa ou os milhões de contos em aumentos de impostos a que obrigarão. O lema escrito nas camisolas dos estivadores é "não fodam o meu trabalho". Mais apropriado seria "o trabalho dos outros que se foda".