1. O piropo não é sedução. Nem sequer é engate, uma vez
que a sua base não é a do diálogo. O piropo manda-se mas raramente se troca.
Não é por acaso que ele surge de uma janela de um automóvel em movimento ou de
um qualquer tipo em passo rápido. Parte do seu «fascínio» é, precisamente, a de
criar poucas possibilidades de resposta.
2. O piropo é socialmente fechado. O seu cariz
aproxima-se, a título exemplo, do discurso jurídico. Não existem quaisquer leis
da natureza que impeçam uma pessoa de interpretar e tecer considerações sobre o
teor da lei X ou do decreto Y. Porém, no final, existem os que serão levados a
sério e os que serão ignorados. Com o piropo passa-se mais ou menos o mesmo. O
seu sujeito é primordialmente masculino e o seu objeto primordialmente
feminino. Claro que é possível a uma mulher mandar um piropo a um homem. No
entanto, ao contrário do «malandro», «marialva», «sedutor» ou, na sua última
novidade, «vanguarda intelectual destinada a tornar as mulheres conscientes da
sua sexualidade», seriam outras categorias a definir tal ousadia: «tarada»,
«ninfomaníaca», «desesperada», «mal fodida».
3. A proposta da criminalização só acrescenta confusão
ao debate. Deixemos o estado de lado porque não é uma lei, por si só, que evitará um
fenómeno cuja aparente dimensão reduzida e irrelevante esconde algo estrutural:
o sexismo enquanto relação social. Claro que a chapada na cara e o pontapé nos
tomates devem, como é óbvio, possuir um estatuto semelhante.
5 comentários:
Percebo a perspectiva anti-estatista da coisa, mas o que acontece quando o piropo atinge o seu potencial de assédio ou violência verbal? Recorre-se ao par de estalos que é crime?
Percebo a perspectiva anti-estatista, mas o que fazem as pessoas que são alvo de piropos que atingem o potencial de assédio/violência: Respondem com um par de estalos que é crime?
E onde viu a proposta de criminalização?
Porque escrevem sobre o que não estão informados?
É interessante ver como este tema do chamado "piropo" ganhou relevância neste final de Verão. Parece que há uma falta de tema mesmo com toda esta crise social, com rituais eleitorais, guerra à vista, controle das comunicações pelos Estados...
Ao BE perdoa-se pois como não tem um discurso, e uma prática social, radical precisa de uns temas pós-modernos para se diferenciar e mobilizar os seus jovens eleitores, embora todas as suas lutas no campo dos "costumes" sejam uma mera distracção sazonal sem qualquer consequência significativa.
Acompanhando, no entanto, a preocupação manifestada pelo Vias de Facto penso que também devíamos debater nos partidos, nas escolas, nos jornais e na Internet essa mania dos portugueses machos coçarem os tomates em público
O que refiro é que a criminalização do piropo, por si só, não vai acabar com o fenómeno. Não só não acho desejável que o estado regule tais fenómenos (o precedente é, no mínimo, perigoso) como acho bastante difícil a sua aplicação prática. Esta notícia, de resto, evidencia tal dificuldade
http://pt.euronews.com/2012/08/24/belgica-autarquia-de-bruxelas-multa-piropos/
Como tal, não tenho grande solução para uma eventual perseguição judicial a quem se tivesse defendido de um piropo por via física. A não ser, como é óbvio, a solidariedade.
Libertário, coçar os colhões é um ato individual, sem que outra pessoa esteja envolvida. A comparação é bastante pateta.
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