30/12/13

A insurreição no Brasil



A insurreição generalizada que ocorreu no Brasil em Junho passado teve alguns elementos peculiares. Um dos mais relevantes foi o facto de ter tido na sua génese a reivindicação da gratuitidade total do transporte público. Como Raúl Zibechi salienta num excelente artigo de pesquisa sobre as origens do MPL - Movimento Passe Livre, publicado no volume 34 da revista OSAL - Observatorio Social de América Latina,

"La adopción del objetivo estratégico de la “tarifa cero” fue apenas uno de los virajes del movimiento. Los demás irán en el mismo sentido: la profundización de su carácter popular y anticapitalista. Despegarse de la consigna de “pasaje gratuito” fue también un modo de ir más allá del movimiento estudiantil para levantar una propuesta que involucra a toda la población.(…) Todo esto le permitió al MPL convertirse en referencia en el debate sobre el transporte y sobre el derecho a la ciudad, que es el núcleo de la propuesta sobre la “tarifa cero”."

Uma tradução para inglês deste artigo pode ser encontrado aqui e aqui.

Num outro artigo, da autoria de Giuseppe Cocco e Antonio Negri, publicado no volume 17 da Revista Global Brasil, intitulado Do bolsa família ao levante da multidão, é colocada em evidência a ligação entre a criação do programa Bolsa Família e o aparecimento duma nova classe de actores sociais, antes esmagados e isolados na luta diária pela mera sobrevivência,

"Em um artigo publicado em 2005, dissemos que as críticas de direita e de esquerda ao Programa Bolsa Família (PBF) convergiam porque usavam categorias ultrapassadas. Os dois lados diziam que era assistencialista e criava dependência. Só a geração de emprego proporcionaria “emancipação” e essa dependeria da política econômica. Nós afirmamos que as duas críticas eram erradas por pensarem o trabalho como emprego. No capitalismo contemporâneo, o trabalho não envolve mais apenas isso. O próprio chão de fábrica depende da circulação. A produção implica a mobilização da vida como um todo, uma mobilização que não é paga. Massificado, apesar de sua concepção originalmente neoliberal (condicionada e focada), o PBF se tornou o embrião de uma renda básica, um primeiro reconhecimento das dimensões produtivas da vida."

Aproveito para relembrar os artigos muito interessantes sobre a insurreição de Junho publicados na edição especial da Revista Sinal de Menos, intitulada Os Sentidos da Revolta, e já antes assinalados pelo Jorge Valadas.

Junho já terminou. Mas a luta continua e amplia-se!

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