12/06/15

Agora vou falar de futebol

Ou de transferências; ou falar do que os outros falam sobre transferências.

Mais exatamente, deste post de Rui Albuquerque no Blasfémias acusando Jorge Jesus de falta de valores éticos por se ter transferido do Benfica para o Sporting. Isto fez-me lembrar um artigo de há muitos anos (1993) no Expresso de António Pinto Leite (atualmente um quase desconhecido, mas na altura uma das principais figuras da ala direita/liberal do PSD), também indignado por dois jogadores (um deles até foi meu vizinho) de um clube de topo terem alegado salários em atraso para rescindirem o contrato e mudarem de clube.

O que eu acho de notar aqui é que estas criticas à falta de ética destas transferências parecem vir da área que mais costuma dizer que o mercado de trabalho deve ser flexibilizado, que não se deve estar à espera do emprego para a vida toda, etc.; não será também falta de ética quando uma empresa despede trabalhadores e se transfere para um sítio com salários mais baixos, p.ex.?

Será que é uma questão de acharem que o futebol é diferente? Ou será sobretudo uma questão de, quando falam em "flexibilidade", estarem a pensar sobretudo em flexibilidade para os patrões e não para os empregados?

É verdade que Rui Albuquerque está a fazer um crítica moral e não a defender qualquer espécie de restrição legal à transferência de treinadores (pelo minhas vagas recordações, o mesmo se aplicaria ao que António Pinto Leite escreveu em 93), mas o que é certo é que quando são empresas a fazer despedimentos, não se costuma ouvir dos comentadores da direita liberal nem sequer críticas morais.

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