25/11/18

As versões sobre o 25 de novembro

Durante muito tempo, circularam principalmente duas versões sobre o "25 de Novembro" - a direita e o centro diziam que tinha sido um (fracassado) golpe de esquerda, e esta tem sido essencialmente a versão oficial; já a extrema-esquerda radical dizia que tinha sido um (vitorioso) golpe de direita, que teria ficado à espera de algum motim nalguma unidade militar "de esquerda" (como acabou por acontecer com os paraquedistas) para lançarem um golpe há muito planeado podendo-o apresentar como se fosse um contragolpe (e colocando as autoridades da altura entre a espada e a parede - "ou proclamam a lei marcial e deixam-nos conduzir as operações, ou então vão também de virada").

No entanto, nos últimos anos, entre a direita começou a ser moda comemorar o 25 de Novembro, considerando-o como tão ou mais importante que o 25 de Abril - porque é que eu digo "no entanto"? Porque parece-me que isso só faz sentido se aceitarmos a versão da extrema-esquerda radical sobre o que foi o 25 de Novembro.

Afinal, de acordo com a versão dos vencedores, no fundo não aconteceu quase nada: houve uma tentativa de golpe contra a ordem vigente, mas esse golpe foi derrotado e o país continuou no caminho em que já estava em marcha desde pelo menos a Assembleia do MFA em Tancos (em Setembro), que afastou Vasco Gonçalves (e, na prática, o PCP, que ficou reduzido a um ministro) do governo - não foi nenhum momento de viragem. Por essa versão, comemorar o 25 de Novembro faz tão sentido como faria nos últimos anos da monarquia comemorar-se o 31 de Janeiro (revolta republicana), na I República, a partir de 1920 comemorar-se o 13 de fevereiro (derrota da Monarquia do Norte), no Estado Novo comemorar-se o 18 de janeiro (revolta anarco-sindicalista e comunista contra os "sindicatos nacionais"), ou na antiga União Soviética comemorar-se o 18 de março (derrota dos revoltosos de Kronstadt) ou nos EUA o 9 de abril (rendição do exército confederado em Appomattox); até imagino que todas essas datas fossem ou sejam comemoradas, mas mais como eventos militares, não como significativos eventos políticos. Em resumo, os regimes políticos não comemoram com grande pompa e circunstância o dia em que revoltas contra eles são derrotadas.

Comemorar o 25 de Novembro como uma data tão ou mais importante que o 25 de Abril só faz sentido se se considerar que foi mesmo uma data de viragem e mudança, mas parece-me que isso só faz sentido se se aceitar uma versão parecida com a da extrema-esquerda sobre o que aconteceu nesses dias.

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