22/12/18

Poligrafando o Polígrafo

O "Polígrafo" parece ter um padrão - pegar num assunto que é ou está a ser falado, e fazer um artigo, não sobre esse assunto, mas sobre um assunto parecido, e depois dar a sua sentença de "falso" ou "verdadeiro" sobre isso (quando não é sobre isso que se está a falar, e portanto interessa pouco se isso é "falso" ou "verdadeiro").

Agora é com o Pai Natal - hoje decidiram que a prioridade seria desmentir a fake news que o Pai Natal seria uma invenção da Coca-Cola para uma campanha publicitária; mas acho que a história que circula há décadas (acho que a ouvi pela primeira vez em 95 ou 96) não é de que o Pai Natal é uma criação da Coca-Cola, é de que a cor vermelha do Pai Natal é uma criação da Coca-Cola e que antes eles seria verde ou roxo (mesmo hoje ao almoço tive uma conversa sobre isso) - e lendo o artigo dificilmente se chega a alguma conclusão sobre isso.

Sim , eles dizem que "O grande responsável pela imagem de um Pai Natal barbudo, bonacheirão, trajado de vermelho e branco, chama-se Thomas Nast, um cartoonista que nada tinha a ver com a Coca-Cola ", mas a ilustarção que depois mostram é - como seria de esperar num desenho num jornal em 1863 - a preto e branco.


Já antes tiveram um episódio semelhante com o PAN e os provérbios com animais.

Primeiro, publicaram um post com o título "O PAN quer acabar com provérbios como pegar o touro pelos cornos?" e dizendo "Verdadeiro"; pouco depois alteraram o título para "O PAN apoia o fim dos provérbios com animais?", mas mantendo tudo o resto igual (hum..., um site de fact checkers para combater notícias falsas ter que mudar o título dos seus artigos porque o primeiro não era muito rigoroso é mau sinal...).

Mas de qualquer maneira, manteve-se o que me parece o problema principal: sim, é verdade que o PAN e a PETA querem que se deixe de usar provérbios a falar de animais, o que literalmente pode ser interpretado como "O PAN quer acabar com provérbios como...".

Mas para aí 99% das pessoas interpretou "PAN quer acabar..." (e substituir para "o PAN apoia o fim..." não muda muito) como "PAN quer proibir..." (e foi essa versão que circulou nas redes sociais- exemplo), o que não é o caso - os responsáveis do PAN disseram explicitamente que não querem fazer nenhuma lei sobre o assunto; já agora, ao que parece a campanha da PETA também não é para proibir essa expressões mas é apenas uma campanha sugerindo aos professores que ensinem as expressões alternativas às crianças.

Atendendo à ambiguidade da expressão "quer acabar" (e ainda mais havendo já a circular uma "fake new" que interpreta "quer acabar" como "proibir") ou mesmo "apoia do fim" talvez fizesse mais sentido "Verdadeiro, mas...".

De qualquer forma, parece-me o mesmo padrão - fazer um artigo não a esclarecer a questão em que há a grande polémica ("o PAN quer proibir provérbios?", "a cor vermelha do Pai Natal é uma criação da Coca-Cola?") para uma questão adjacente ("O PAN é contra os provérbios?", "O Pai Natal é uma criação da Coca-Cola?"), o que paradoxalmente até pode criar mais confusões - porque algumas pessoas podem ler o "verdadeiro" ou "falso" a respeito da questão adjacente, e julgarem que também se aplica à questão principal.

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