Uma proposta de acordo para "um outro Brexit" foi levada hoje ao parlamento pelo partido de Jeremy Corbyn. Foi derrotada pela conjugação de todas as forças políticas incluindo o novo partido formado pelos dissidentes do Labour e dos Tories.
Com esta derrota Corbyn fica com as mãos livres para defender o segundo referendo e para nesse segundo referendo defender a manutenção do Reino Unido na União Europeia.
O líder trabalhista, sobre cujas hesitações já aqui escrevemos, temia que os seus deputados pró-leave - os que foram eleitos em circunscrições muito castigadas pelas políticas austeritárias impostas pela UE, mas fortemente potenciadas pelas opções políticas dos conservadores - abandonassem o partido ou que passassem a votar conjuntamente com os conservadores. Temia sobretudo pela perda dos eleitores que esses deputados representam. Acabou por ser atacado pela saída dos deputados defensores das políticas austeritárias, que sempre estiveram contra a sua liderança, que lutam por um segundo referendo, convencidos de ser a UE o mais eficaz travão às políticas mais progressistas incluídas no Manifesto do Labour. Nada mais horroriza esses deputados do que viverem num país com Corbyn como primeiro-ministro de um governo do seu antigo partido.
Depois de ter visto a sua proposta rejeitada Corbyn irá pressionar para que o novo referendo se faça, a menos que sejam marcadas eleições gerais antecipadas. Vamos ver como votarão proximamente os deputados de novo partido - formado entre dissidentes das duas bancadas - quando se colocar a questão do novo referendo. Do mesmo modo que iremos verificar a sua evolução política no apoio às posições de Theresa May.
A questão está em saber se existe força no Parlamento para rejeitar a proposta de May - basicamente recorre a todos os pretextos para se manter no cargo - e impor uma nova consulta. Aí chegados a solução passa para a mão dos cidadãos e, não parece haver dúvidas, a maioria parece estar claramente alinhada com a permanência na UE. A mesma maioria que quer uma mudança de política interna. Uma política mais à esquerda, mais progressista, capaz de combater de frente as desigualdades.
O debate dentro do Labour vai agora fazer o seu caminho. Talvez fique claro que um partido forte como o Labour, como mais de meio milhão de militantes, muitos dos quais jovens militantes, pode impor mudanças na Europa e não se limitar apenas a uma aplicação de uma austeridade soft - seguindo o exemplo português - que no essencial nada muda.
Se é verdade que Corbyn acertou na mouche ao defender uma política "for the many not for the fews" no seu país, ele falhou quando não foi capaz de perceber que essa política era também necessária na Europa e que isoladamente a sua eficácia seria sempre diminuta. Um falhanço estrondoso que ajudou a redimensionar a verdadeira dimensão do líder trabalhista e a retirar-lhe parte do brilho com que se ergueu das últimas filas da bancada do seu partido para liderar uma revolução na liderança trabalhista. Um falhanço que tem permitido aos Conservadores manterem um Governo agonizante enquanto vão promovendo as suas campanhas para desgastar a liderança de Corbyn.
27/02/19
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