Uma coisa que tenho pensado é que aquilo que os anti-racistas chamam
"racismo sistémico" e os anti-anti-racistas chamam de "não é racismo, é discriminação estatística" se calhar são dois nomes diferentes para a
mesma coisa: um processo emergente em que os indivíduos, sem serem
pessoalmente racistas, são levadas a tomar decisões que, no agregado da
sociedade, produzem resultados que beneficiam uma raça face a outra.
[Sobre formas como o funcionamento da sociedade pode ser racista sem os indivíduos serem pessoalmente racistas, há dias Chris Dillow fez um post sobre o assunto - Racism as Emergence]
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Ora, disse a Morsa ao Carpinteiro
vamos ter muito que falar:
de botas, e lacre, e veleiros,
de reis, e couves da casa,
de saber porque ferve o mar,
ou se há porcos com asas.
vamos ter muito que falar:
de botas, e lacre, e veleiros,
de reis, e couves da casa,
de saber porque ferve o mar,
ou se há porcos com asas.
Lewis Carroll
Alice do outro lado do espelho, cap. IV
Pela libertação do Nobel da Paz Liu Xiaobo
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"HOJE BATTISTI, AMANHÃ TU" from Passa Palavra on Vimeo.
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2 comentários:
Anti-anti-racistas ou como eram conhecidos antes: racistas.
Ola Miguel,
Quanto a mim a noção é bastante simples e muito util : trata-se do racismo que, sem resultar de acções deliberadas cometidas por quem as justifica por motivações abertamente racistas, resulta de viés, de preconceitos, de habitos e de representações que, de forma mais ou menos consciente, veiculam ou implicam um tratamento drscriminatorio.
Quem tem dificuldades em compreender do que se trata pode muito simplesmente referir-se ao "sexismo sistémico" que faz com que muitos homens, e também muitas mulheres, que não se concebem como sexistas, acham "normal" ser a mulher a tratar dos filhos, a tratar da coizinha ou a encarregar-se das compras, etc.
Digo que a ideia é importantes porque, por um lado, ajuda a compreender que o racismo não é necessariamente o resultado de comportamentos boçais que nos causam imediatamente repugnância e, por outro, que os seus efeitos mais profundos não advêm directamente de acharmos "natural" a desigualdade, mas indirectamente de acharmos "natural" um mundo que produz desigualdade.
Se considerarmos, como considero, que o que define a esquerda é não conceber a igualdade de maneira formalista como um dado "natural" de partida, mas antes como um resultado a alcançar por uma boa organização social (é boa a sociedade que atribui a todos por igual um acesso a oportunidades e a bens), então julgo que podemos dizer que a noção de "racismo sistémico" é profundamente de esquerda.
Boas
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