08/07/10

Daniel após enfiar o Barreto

É arriscado escrever-se:
“Que a direita radical confunda nação e raça faz todo o sentido.”
Porque a desmontagem do equívoco comporta a contemporização para com os dois conceitos. E esse da “raça” tem que se lhe diga. Muito. E nem serve de desculpa que o autor se tenha entusiasmado com a oração de António Barreto no último 10 de Junho e que foi chamado por Salazar e Cavaco como sendo o “Dia da Raça”. Porque há deslizes que matam a idoneidade do que se escreve. Sobretudo entre os que combatem a direita radical. É que o uso (adopção) do conceito de “raça” é, só por si, o primeiro estágio do “racismo”.

E não melhora a infelicidade comunicacional do mesmo post de Daniel Oliveira dizer-se:
“Estamos a falar da Alemanha. A sua tenebrosa história recente marcou gerações. O País convive há décadas com uma enorme crise de identidade. Patriotismo ou nacionalismo são facilmente associados a perigo iminente. Percebe-se. No imaginário europeu, quando um alemão mostra orgulho pela sua nacionalidade já está a um passo e invadir Praga e Varsóvia.”
Este acumular de lugares comuns sobre a Alemanha e os alemães tem data. Estando em diluição os preconceitos anti-germânicos, desnecessários para se defenderem os imigrantes na Alemanha e os seus direitos, desenterrá-los e dar-lhes foros de actualidade é um convite à crispação e ao preconceito, aspectos desnecessários (ou, melhor, invertidos) no combate ao racismo, ao chauvinismo e à xenofobia, onde quer que se manifestem. Na direita radical e não só.

Com estima lhe digo: Vá de férias e descanse, Daniel.

8 comentários:

Ricardo Alves disse...

O preconceito anti-germânico baseado no passado nazi estará desactualizado, e é profundamente injusto para os alemães das gerações presentes. Mas a hegemonização da União Europeia pela Alemanha actual gera necessariamente sentimentos de antagonismo, que em alguns casos poderão ser saudáveis.

João Tunes disse...

Li bem ("sentimentos de antagonismo" "saudáveis")? Quando a discordância, por mais frontal que seja, à política de um governo ou de um conjunto de governos, gera, nunca "necessariamente", "sentimentos de antagonismo" para com um povo ou povos, estamos em pleno reino da insanidade da xenofobia. Só, Ricardo Alves.

Miguel Serras Pereira disse...

Nem mais, camarada João Tunes. Saudável seria, sim, apelar à oposição ao governo que nos desagrada, tentar entendimentos com ela, fazer por generalizá-la.

Abraço solidário

msp

Ricardo Alves disse...

Gostaria que me apontassem um governo germânico do último meio século que não tenha perseguido o objectivo de hegemonizar a União Europeia.

João Tunes disse...

Porque é que o Ricardo insiste em misturar alhos com bogalhos?

Filipe Moura disse...

Ricardo, após ler os teus comentários aqui, tens a certeza de que não vibraste nem um bocadinho com o golo do Puyol?

Ricardo Alves disse...

Filipe,
nem sequer assisti ao jogo (neste campeonato, posso dizer que ainda só vi um jogo completo). Mas, mesmo que tivesse vibrado, isso seria irrelevante. Porque o problema fundamental é a projecção da política no futebol. É o acharem que o futebol resolve ou compensa as relações de poder da política. E, no reverso da medalha, abdicarem da crítica à indústria futebolística com o pretexto das «vibrações», da «magia do jogo» e dos abdominais do Ronaldo ou dos peitos da Larissa.

Miguel Serras Pereira disse...

À atenção de Filipe Moura (caso já tenha voltado de dar pão aos pombos)

Há dias, numa discussão de bola e política, o João Tunes escreveu isto: "O futebol é como o vinho, óptimo para se conhecerem as pessoas. Quem abusa, despindo-se na euforia do irracional, corre o risco de se revelar. Neste sentido, mais importante que a higiene contra os vícios, é valorizarem-se os actos reveladores. E um indivíduo que diz que o "clube x" é fascista, ou não é bom da tola ou acabou de ter um ataque de mau fígado.".
Ora bem, na mesma ordem de ideias, a questão não está em vibrar ou não com o golo do Puyol (a mim encheu-me de puro júbilo e não me fez vibrar, mas dar um pulo - pouco atlético, hélas… - na cadeira). O problema é que vibrar ou não com esse golo nada devia ter a ver com o que pensamos da política da Sra. Merkel ou do governo alemão. E que é uma forma de demagogia particularmente opiácea e anti-democrática escrever-se um post - intitulado, vá lá saber-se porquê, O Triunfo dos Porcos - dizendo: "Puyol marca contra o dirigismo e protecionismo alemães. Pelos povos do sul, em nome de uma Europa solidária. Dança, Angela Merkel, dança!" (http://esquerda-republicana.blogspot.com/2010/07/o-triunfo-dos-porcos.html).

msp