08/07/10

A propósito de ilhas

Que fique claro que acredito que Cuba sofre uma ditadura. Mas é igualmente certo que preferiria viver ali do que habitar outras ilhas daquela região (para não  ir mais longe), se calhar bem mais "democráticas" e politicamente potáveis. É que há muitas formas de ditadura que não passam obrigatoriamente pela existência de presos políticos, mas sim por opressões como a da fome e a da excisão da dignidade humana.

4 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Luis,
em princípio, de acordo. Mas com algumas precisões:
1. não estou tão certo como tu de que não seja também político o regime de opressão e fome, e excisão da dignidade humana, que se abate sobre essas outras ilhas mais ou menos propriamente ditas.
2. Os "presos políticos" de Cuba não eram declarados "políticos" pelo regime. Não podemoss, por isso, ignorar as condições políticas que presidem aos estabelecimentos (para-)prisionais e regimes penitenciários de trabalho "privados" nesses outros países que te servem de termo de comparação, e que todos eles contam com inúmeros contingentes de "presos sociais".
3. Que preferir? Por mim, eu preferiria não ter de viver nem em Cuba nem nos países que citas. Como Castoriadis, há vinte anos ou mais, respondia a Egar Morin que a existência indubitável de uma opressão maior na ex-União Soviética não nos devia tornar indulgentes para com a pseudo-democracia de tipo yankee, não há razão para nos tornarmos conselheiros de "horror menor". E menos ainda para apontarmos - coisa que não fazes, claro - o regime cubano como via avançada, ainda que defeituosa, de conquistas políticas e sociais.

Corrige-me, por favor, se me engano muito.

Abraço

msp

Luis Rainha disse...

Miguel,

1- Claro que tudo o que afecta a pessoa que vive em sociedade é político.
2- Mas olha que até poderia não existir um só preso equiparável na República Dominicana, por exemplo, e a comparação continuaria a ser possível.
3- Pelo que vi e vivi em Cuba (inluindo divertidos momentos de convívio com dissidentes e dependentes da F.E.), aquilo é uma questão de “horror” nem é comparável à antiga URSS. Em termos de direitos humanos, a situação foi mudando ao logo dos anos: dos excessos iniciais ao rigor do “período especial”, à relativa détente de hoje.
4- Estando em Cuba, e conhecendo (in vivo) um pouco da realidade da Jamaica, acalentei por lá algumas vezes esta dúvida: «Mas suportaria que filhos meus aqui crescessem?". A minha única resposta honesta seria «sim», não porque entreveja ali o embrião de um qualquer futuro radioso, mas porque aquele país, com todas as suas contradições, injustiças, maleitas, misérias e precárias glórias, ainda consegue ser um habitat fraterno, alegre e esperançoso.
5- Repara que nem sequer tive de mencionar o famoso ranking do Desenvolvimento Humano, da ONU.

Forte abraço,
Luis

Fernando disse...

Luís Rainha: Lendo os seus comentários fico com uma vontade imensa de lhe ouvir o que muito deve ter para contar sobre Cuba. Quanto tempo lá passou? Tem alguma coisa escrita sobre essa viagem, online?

Luis Rainha disse...

Fernando,
Tenho ideia de que descrevi algures as últimas semanas que lá passei. Vou à procura. Mas a minha mulher, com algumas "brigadas de trabalho" no currículo, tem histórias mais pícaras...