02/11/10

Sakineh Ashtiani no Corredor da Morte: Luz Verde para Matar

O regime de Teerão prepara-se para executar, por enforcamento, Sakineh Ashtiani. Ver aqui as últimas informações sobre a luz verde dada à execução da sentença, bem como algumas propostas de acção urgente (via este post da Joana Lopes).
Sobre o que está em jogo no caso, retomo parte do que aqui escrevi há semanas - por ocasião da comutação da lapidação em enforcamento:

A hipocrisia e a cobardia mais vis conjugam-se com a obstinação clerical-totatlitária mais exasperada na reciclagem da sentença que acaba de confirmar a condenação de Sakineh Ashtiani à morte, ao mesmo tempo que substitui a forca ao apedrejamento como método de execução. Mediante um expediente sem escrúpulos, as autoridades iranianas deixam cair a lapidação, receando as repercussões que poderia causar no plano internacional, mas fazem-no salvando a face, na medida em que mantêm o princípio do apedrejamento como punição do adultério, e não poupando a morte a Sakineh, condenada agora à forca na sequência de uma acusação de homicídio. Com o que contribuem, também e à escala global, para a legitimação e defesa da pena de morte.
O duplo cálculo é que 1) a opinião pública iraniana e internacional aceitará mais facilmente a aplicação da pena de morte por enforcamento do que através da lapidação, do mesmo modo que 2) não contestará a execução de uma homicida tão radicalmente como contestou até aqui a perspectiva da execução de uma mulher incriminada por adultério — ou que, em todo o caso, a audiência dos protestos que continuem a exprimir-se será menor. O mais inquietante é que o cálculo das autoridades iranianas resulte e que a campanha contra os aspectos mais odiosos da sua actuação (manutenção da pena de morte em geral e do apedrejamento como punição do adultério em particular, tortura legal utilizada como meio de recolha de provas, absoluta arbitrariedade do poder político e judicial legitimado por meio da invocação religiosa, etc.), em vez de se intensificar perante esta manobra e os sofismas que a acompanham, acabe por extinguir-se à medida que os dias passam.

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