10/12/10

Enquanto não mando imprimir a T-shirt com os dizeres surprise me! [if you know what I mean] deixo-vos com a Morgada de V. que ficam muito bem

ESTE POST, PARECENDO QUE NÃO, É POLÍTICO

“But the Almighty Lord hath struck him,
and hath delivered him into the hands of
a woman.” — The Vulgate, Judith, xvi. 7


Nietzsche dizia que a prova da inferioridade das mulheres se via no facto de terem passado milénios na cozinha sem terem desenvolvido uma teoria geral da nutrição, mas isso foi porque levou tampa da Lou Salomé e da Cosima e por causa de umas sanchas que lhe caíram mal.
Ceci dit, há que reconhecer que nem sempre usámos os ingredientes ao nosso dispor para cozinhar a revolução. Exemplos históricos da união feminina em prol da mudança social? Lísistrata & as Mães de Bragança.
Dir-me-ão que o primeiro caso é de ordem ficcional, e o segundo é mau demais para ser verdade, mas é não ter em conta o poder dos arquétipos na conformação da realidade. Em ambos os casos, as mulheres usam o sexo com a mesma extensão dos poderes do Presidente da República: vetam. Dar o corpo ao manifesto, que é bom, népias.
O que faz o mulherio, nomeadamente de esquerda, perante o cerco à liberdade de expressão que nos preocupa a todas? Googla fotos do Assange e suspira (...). Ora os tempos que atravessamos exigem novas formas de luta, formas criativas de luta. Quando alguém é vítima de uma acusação caluniosa, não falta quem venha dizer “somos todos vítimas-de-manobras-caluniosas”, numa espécie de “je m’accuse” solidário; como não podemos ser o Assange, resta-nos o “queremos todas ser surpreendidas pelo Assange”.
Enfim, para quando um movimento “Surprise me”? Seria uma espécie de let’s call the girls bluff of, porque ninguém ignora que a acusação de violação – mesmo a violação between consenting adults, como parece ter sido o caso – tem o poder de uma mancha de crude a alastrar pelo oceano, indeferindo liminarmente o contraditório e levando ao arquivamento do sentido crítico da opinião pública internacional.
Mulheres de todo o mundo, uni-vos! Não é só a liberdade das sociedades ocidentais ou a reputação do Assange que justifica o apelo às armas, é também a reputação feminina que está em causa: aquela loira gira que acusa o Assange e a outra que não aparece nas fotos mas também não deve ser má são as últimas de uma longa lista de castradoras sexy encabeçadas por Salomé, Judite e Dalila, o mito da mulher que faz perder a cabeça ao desprotegido sexo forte.
Urge demarcarmo-nos destes baixos agissements. Acredito que nem todas achem o Assange simpático, que haja quem prefira homens mais baixos ou mais gordos, ou que agora não lhes apeteça; mas a causa da liberdade exige sacrifícios e abnegação, e as refractárias podem sempre seguir os conselhos das Braganza mothers’ mums: lie back and think of Sweden.
Lido AQUI, e juro que a oferta de uma batedeira não tem nada que ver com o link.

4 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Oportuníssima transcrição de um apelo não menos oportuno., sempre vigilante camarada Ana. Trata-se, com efeito, de uma urgência. Assim os necessários surpreendentes não faltem e saibam estar à altura das sororais hostes das intrépidas mobilizadas pela Morgada.

miguel sp

Ana Cristina Leonardo disse...

miguel, perdi-me na segunda frase mas acho que percebi o sentido geral
-:)

Miguel Serras Pereira disse...

Terão sido os "surpreendentes", necessários como contrapartida das "surpreendidas", a levar-te a perder a especificidade do meu gesto de solidariedade convosco?
Olha que, nestas coisas, não nos podemos ficar pelas generalidades…

Ana Cristina Leonardo disse...

pois, talvez... na realidade não importa muito, como diziam os outros para o amigo paralítico, o que é preciso é participar