05/12/10

Estar com ou contra Julian Assange [porque há coisas que são mesmo assim: ou preto ou branco]


Uns querem vê-lo morto. Outros querem vê-lo preso. Há quem lhe chame anarquista e há quem lhe chame embusteiro. Para mim, Julian Assange é um herói.
Eu sei que a palavra não faz as delícias de uma certa esquerda (a luta de classes como motor da história e tal…), e que a direita, tradicionalmente, embora aprecie o termo neste caso não o adopta.
Dito isto: as últimas revelações da WikiLeaks não são sobre o botox do Muammar al-Gaddafi, como alguns pensam ou pensaram. A prova está na escala da perseguição a que se viu sujeito Assange desde que os telegramas diplomáticos começaram a vir a público.
A coisa foi em crescendo. Com os pretos do Quénia, claro, ninguém se importou muito. A guerra no Afeganistão e no Iraque fez mossa, mas quem no seu juízo perfeito ainda acredita na treta do War on Terror?
Quando se chegou à diplomacia, o que aconteceu foi que os EUA foram expostos ao ridículo (e também, precisamente, por causa do botox do outro). A ameaça pende agora sobre um Banco e sobre a Indústria Farmacêutica e com esses não se brinca. Mesmo.
Aos que duvidam da idoneidade da WikiLeaks ou defendem o secretismo estatal (muito ou só um bocadinho…) apenas queria dizer isto: tivesse existido a WikiLeaks há mais tempo e coisas como as sanguinárias ditaduras latino-americanas (diplomaticamente preparadas pelos EUA) não teriam existido. Resta-nos o consolo de que, no futuro, talvez os militares dos Apache comecem a ter mais cuidado quando brincam ao tiro ao alvo.
*O vídeo acima não é para Pessoas Sensíveis.

4 comentários:

Anónimo disse...

Muito boa posta. Aprecia-se a compreensão dual da guerra, que uma vez em guerra, é fundamental. Parabéns.

Renato Teixeira.

Miguel Serras Pereira disse...

muito bom post, camarada Ana. O para-resistente islâmico RT é que voltou a não perceber nada - de tal modo que invoca aquilo a que chama a natureza dual da guerra para saudar uma iniciativa que embaraça ao mesmo tempo os governos de várias potências ou Estados rivais, recusando-se justamente a proteger uns para queimar só os outros. Se há dualidade aqui ´entre uma potencial cidadania mundial e os seus direitos e o conjunto das hierarquias governantes, cuja cumplicidade (no interior da rivalidade) em torno da defesa das suas prerrogativas fundamentais fica bem a nu. O trabalho de Julian Assange não é feito ao serviço de um conjunto de hierarcas governantes que são rivais de outro governo do mesmo tipo. Se serve alguma coisa, são os direitos e a emancipação dos governados, a devolução a estes das condições de uma cidadania democrática sem fronteiras. A escolha não é entre chefes pretos e chefes brancos - é contra as prerrogativas da chefia.

msp

Anónimo disse...

És um farronca, pá. Apoias o Xiaobo, que preconiza uma invasão colonial da China por parte dos EUA; que apoia a guerra contra o terrorismo. Apoias o Xiaobo, e falas do RT?
Aguma decência, por favor.

Miguel Serras Pereira disse...

Anónimo,
ouça uma coisa: convém saber do que se fala, ou falar de outra coisa. Você do caso LX não sabe nada. Pode ler um dossier informativo q.b. sobre o assunto aqui: http://www.guardian.co.uk/world/liu-xiaobo
Sobre a minha posição em relação à China, tem, para começar, isto: http://viasfacto.blogspot.com/2010/12/republica-popular-da-china-construcao.html
Sobre o que apoio quanto aos Estados Unidos, eia o que tenho escrito sobre o Wikileaks - por exemplo: http://viasfacto.blogspot.com/2010/12/e-se-pusessem-premio-as-suas-proprias.html - ou: http://viasfacto.blogspot.com/2010/12/espionagem-democratica.html
Passe bem e, por favor, se quiser mais documentação, é só dizer

msp