09/12/10
Há quem ainda nada tenha percebido
por
Pedro Viana
O Luís Rainha tem toda a razão:
Isto, numa suposta democracia, parece-me de todo inaceitável.
Esta é a questão principal que deve ser debatida. Os detalhes das documentos publicados pela Wikileaks são importantes, mas secundários. O essencial é que tais documentos provam, de cada vez que um é divulgado, que governos de Estados que se auto-caracterizam como Democracias, mentem a torto e a direito aos cidadãos desses Estados, realizando actos ilegais segundo as leis que dizem defender, o que efectivamente prova que a sua auto-caracterização é uma mentira. É uma mentira que os cidadãos em tais Estados possam decidir em consciência, na posse de toda a informação relevante para tomarem a sua decisão, quem os deve governar através de eleições.
Este é o facto mais importante das revelações da Wikileaks, e é o que tem posto a oligarquia destas pretensas democracias tão enraivecida, pois dele resulta a des-legitimização do Estado pseudo-democrático aos olhos da população, o que dificulta o seu controlo. Esta é a razão porque tem um interesse secundário o facto da Wikileaks ter mais dificuldade em obter informações provindas de Estados (mais) autoritários: já sabemos que "eles" são "maus", e que mentem às suas populações. E estas também o sabem. Não precisam das revelações da Wikileaks para serem forçadas a uma confrontação com a realidade dos sistemas político-sociais que as controlam.
Aproveito ainda para chamar atenção para este excelente post por Henrique Sousa no blogue "O que fica do que passa":
"A reacção dos poderosos a estas revelações é sintomática de que a democracia política e a liberdade de expressão e informação param na fronteira dos seus interesses e têm um mero valor instrumental nas democracias liberais cada vez mais corroídas por dentro pelo capitalismo desenvolvido de que seriam a forma contemporânea.(...)
De facto, a colocação no espaço público dos documentos pelo Wikileaks é um acto político de combate à hegemonia informativa do Império que procura gerir o discurso público do poder conforme os seus objectivos de dominação. Em que cidadania e sociedade civil são termos invocados pelo poder na medida em que não aborreçam os interesses instalados dos poderosos.(...)"
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