02/06/11

De fascista não passa

Não é, nunca foi, por se pintar de vermelho e usurpar símbolos e fórmulas da tradição socialista ou do movimento operário que o fascismo deixou de ser fascismo. Bem pelo contrário, essa maquilhagem foi e continua a ser um dos seus traços distintivos. Assim, quem edita sentenças como esta bem pode dizer-se, ao mesmo tempo, comunista, revolucionário, marxista e neoplatónico ou o que melhor entender — porque de fascista não passa. E tudo o que lhe podemos responder é que simplesmente nos compete não o deixarmos passar.

Porque o diálogo não é obrigatório, nem cívico, nem fundamental, nem imprescindível, nem necessário.

4 comentários:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Completamente de acordo, como suponho que já deve ter tido oportunidade de perceber.
Um abraço liberal.

Dédé disse...

"Porque o diálogo não é obrigatório, nem cívico, nem fundamental, nem imprescindível, nem necessário."

E nalgumas circunstâncias até é desonroso. Consigo é basicamente uma perda de tempo.

Miguel Serras Pereira disse...

Dédé,
perca lá mais um bocadinho de tempo e repare que o fascista do meu post não diz - coisa com que qualquer partidário da democracia a sério, ou propriamente dita, teria de concordar - que, nalgumas circunstâncias, " diálogo não é obrigatório, nem cívico, nem fundamental, nem imprescindível, nem necessário". Longe de mim pensar que o diálogo ou debate democrático entre iguais se basta a si próprio e pode ser travado com as forças que tentam asfixiá-lo. O partidário da democracia que não esteja disposto a travar a "luta de morte" por ela é só pela metade, ou nem tanto, democrata.
Mas a tese fascista é outra: o debate, a liberdade de expressão na praça pública, a troca de argumentos na deliberação dos cidadãos, a racionalidade do livre-exame, etc. são práticas e costumes a eliminar, são coisas contrárias à autoridade do Estado ou do Führer, ameaças ao monopólio de dizer a verdade legítima que o fascista reivindica para o seu Estado ou Partido.
Dito isto, não é a primeira vez que troca palavras e ideias comigo e ,pelo que conheço das suas posições, não o tenho por fascista nem tão-pouco por "compreensivo" perante o fascismo - por maiores que sejam as nossas divergências. Por isso, alimento alguma esperança de o ver continuar a perder tempo e a pôr de lado, se possível, uma certa impulsividade juvenil que o prejudica no exercício do juízo político.

msp

Anónimo disse...

Um texto de Castoriadis para acalmar os ânimos! Não é Badiou ou Zizek quem o quer!" Esta mesma usura histórica irreversível afecta tanto o vocabulário tradicional do movimento operário que as suas ideias-força. Se nos referimos ao uso social real das palavras, é à sua significação para os seres humanos e não para os dicionários, um comunista hoje é um membro do PCF, é tudo; o socialismo, era o regime que exisia na ex-URSSS e nos países similares; o proletariado é um termo que só se usa nos circulos das seitas de extrema-esquerda,etc.As palavras têm um destino histórico próprio, e quaisquer que sejam as dificuldades que tal facto nos crie( e que nós não resolvemos senão aparentemente escrevendo " comunista " ", entre parentêsis), é preciso realizar que não podemos jogar face a essa linguagem o papel de uma Academia francesa da revolução, mais conservadora do que a outra,que refutaria o sentido vivo das palavras no uso social e mantivesse que espantar significa " fazer tremer por uma violenta comoção " e não surpreender, e que o comunista é o partidário de uma sociedade onde cada um dá segundo as suas capacidades e recebe segundo as suas necessidades, e não o partidário de Maurice Thorez. Quanto às ideias-força do movimento operário, ninguém fora das referidas seitas consegue já saber, mesmo vagamente,o que quer dizer, por exemplo," Revolução Social ", ou tão-só pensa que tem a ver mais com a ideia de guerra civil; a abolição do salariato, à cabeça dos programas sindicais de outrora, não significa nada para ninguém agora; as últimas manifestações de internacionalismo efectivo datam da Guerra de Espanha( e todavia existiram mais ocasiões para que se manifestasse...(...) por detràs de tudo isto, existe o desabar das concepções teóricas e das ideologias tradicionais. (...) O movimento operário foi integrado na sociedade oficial, as suas instituições( partidos, sindicatos) tornaram-se nas suas " instituições ". (...) Não existe nenhuma dinâmica objectiva que garanta o socialismo, e afirmar que tal possa existir é uma contradição em-si. A única dinâmica perante a qual podemos e devemos conferir o sentido de uma progressão dialéctica para a revolução,é a dialéctica histórica dos grupos sociais em luta, do proletariado em primeiro lugar, dos trabalhadores assalaraidos, em geral depois. Esta dialéctica significa que os explorados pela sua luta transformam a realidade e transformam-se eles-próprios, de maneira que quando esta luta retoma, já só se pode realizar a um nivel superior. É esta a única perspectiva revolucionária ", in " Recomencer la révolution ", Prolétariat et Organization. UGE Éditions,1974. Niet