14/06/11

Ideologia (1)



Nos últimos meses a malvada da ideologia apareceu uma e outra vez na cena político-institucional. A palavra emergiu como um problema. Como um dos problemas que se teria abatido sobre este país. Disseram uns que recusar a troika seria uma fuga ideológica para a frente protagonizada por outros, que em nada resolveria a mais crua das realidades, a de um país que precisa de dinheiro e que só o encontraria entregando-se nas mãos troika (“isso da democracia e da soberania e das alternativas e do Louçã e do comunismo é tudo muito bonitinho mas a ideologia não enche a barriga de ninguém”). Aqueles a quem este discurso foi dirigido não se deixaram, porém, desarmar e vai daqui que contrapuseram que ideológicos eram, isso sim, os outros; ideológicos eram os Catrogas, os Nogueira Leites, os Duques, aqueles que, num cenário de crise, haviam abdicado da mais elementar lucidez económica, trocando-a pelos cantos da sereia neoliberal, renegando à mais objectiva das regras fundadoras de uma política económica anti-recessiva, a regra de estimular o crescimento investindo e não retraindo. Em suma, em resposta à crise teríamos desvios ideológicos de esquerda e desvios ideológicos de direita. Mudar a realidade é que não, uma vez que está tudo a correr bem.



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3 comentários:

AMCD disse...

É lamentável, mas a maioria do povo português parece não querer saber de ideologia. Na verdade nem parece saber o que significa tal coisa. Quando vota, vota neste ou naquele indivíduo, não vota cá em ideologias. Talvez por isso, os partidos mais declaradamente ideológicos acabem por ser os mais penalizados. O PS já tinha percebido isso há algum tempo atrás, quando decidiu pôr a ideologia (o socialismo) na gaveta. Claro que o neoliberalismo também é uma ideologia ou doutrina (uma ramificação do capitalismo), mas não é uma ideologia de massas, é antes uma ideologia que assenta bem numa sociedade individualista, atomizada e consumista, como a actual, sendo por isso mais fácil de ocultar nalguns programas. Não consta que alguém, até hoje, tivesse dado a vida pelo capitalismo.

Anónimo disse...

imagino que o que queria dizer era: "...não consta que alguém, até hoje, tivesse dado a vida" VOLUNTARIAMENTE "pelo capitalismo"

Anónimo disse...

onde está a continuação do texto?