23/06/11

O mandato de Rui Tavares

O Bloco de Esquerda teve 382.667 votos nas eleições para o PE; se o partido tivesse tido 379.786 votos, teria sido a CDU (com 379.787) a eleger o 3º deputado.

Ou seja, menos 2.881 votos e o Bloco não teria eleito o 3º deputado (por outras palavras, bastaria que 1 em cada 125 eleitores de BE não tivesse votado assim, para que este só tivesse 2 representantes). Ora, Rui Tavares é uma figura conhecida, o ele ser candidato foi várias vezes referido na comunicação social e na campanha creio que houve alguns discursos do género "vamos ver se levamos o Rui Tavares a Bruxelas!".

Assim, é bastante provável que algumas pessoas terão votado BE por lá estar o Rui Tavares; será que a hipótese de pelo menos 1 em cada 125 votantes do BE ter sido influenciado pela sua presença é assim tão descabida?

Por outras palavras, atendendo ao perfil público de Rui Tavares e à margem estreitissima pelo qual o Bloco elegeu o 3º candidato, parece-me possível que tenha sido mesmo ele a trazer efectivamente os votos que permitiram a sua eleição.

15 comentários:

Anónimo disse...

Caro camarada Miguel

Lamento, mas não fazes aqui mais do que especulação sem bases sólidas. Toda a tua argumentação é muito frágil, não tendo quaisquer bases factuais pela simples razão que elas são impossíveis de obter. Sendo o voto secreto e não havendo declarações de votos apensas ao boletim, é de todo impossível saber de facto por que razão as pessoas votaram no BE naquelas eleições, a não ser que se fosse falar com essas 382.667 pessoas que votaram no BE nas últimas europeias. Assim, tu podes dizer isso com base nas leituras que fazes (num raciocínio muito falacioso, desculpa que te diga, do género "os gatos têm quatro pernas / a minha mesa da sala tem quatro pernas / logo é bastante provável que a minha mesa da sala seja um gato") dos números, mas outra pessoa podia dizer que foi a pinta da Marisa, ou, como já li por aí, o facto de ter "sabido cavalgar a luta dos professores". Simplesmente não sabemos. O que sabemos é que os comportamentos eleitorais, por uma razão simples de cultura política e de classe (sim!), tendem a ser diferentes na esquerda. Enquanto nos partidos da burguesia (onde incluo também o PS) a tendência é a de sufragar personalidades, nos partidos de tradição socialista/comunista/operária a tendência predominante é a de sufragar um projecto colectivo ao qual se subordinam os candidatos. Daí podermos ler e ouvir por todo o lado uma enorme indignação em relação ao comportamento miseravelmente oportunista do Rui Tavares, com a sua demonstração de total falta de sentido de ética política e de respeito por aquelas e aqueles que o elegeram enquanto independente NAS LISTAS DO BE. E isto mesmo por parte de quem critica (posição onde me incluo) estes casos como a consequência natural da linha política de "abertura" eleitoralista e oportunista, sem princípios, levada a cabo desde há anos pela direcção do Bloco de Esquerda. Mas o facto de a direcção do BE estar repleta de culpas no cartório não iliba de modo algum a atitude completamente vergonhosa de Rui Tavares, que não se comportou aqui de modo tão diferente daquele a que nos habituaram os mais corruptos dos nossos representantes. Admire-se de receber quando regressar à terra algum tratamento menos simpático. Não estou a ameaçar o vosso amigo, não se melindrem, estou apenas a dizer que é um comportamento que é expectável, uma pessoa colhe aquilo que semeia. Isso é válido para a direcção do BE em relação a este affair como a tantos outros até agora e todos os que se lhe seguirão, como é válido para aquilo com que Rui Tavares terá inevitavelmente que lidar de ora em diante, marcado como ficou com o anátema de oportunista e carreirista sem espinha dorsal.

Aquele abraço

SH

Anónimo disse...

Que post mais idiota... Os eleitores votam em listas. Se alguém depois de eleito não concordar em continuar, deve sair e a pessoa a seguir na lista deve entrar... é assim que deve ser.
No boletim de voto aparecia "Bloco de Esquerda", e não Rui Tavares...

Shame on you, Rui Tavares! :-)
Tem vergonha e vai-te embora!

Anónimo disse...

Num processo eleitoral em que as candidaturas não são uninominais, mas sim por listas de um colectivo, que no caso em apreço é um colectivo partidário, nenhum eleito se pode auto-considerar dono do lugar.
Mas parece-me normal que para quem sobreleva a auto-gestão da coisa colectiva e desconfia tanto da possibilidade de uma direcção, qualquer que ela seja, o procedimento auto-centrado de Rui Tavares seja bem aceite.
Enfim, uma tristeza e uma vergonha, que explica muito do pensamento que aqui se expressa em torno das prescrições que são feitas para a evolução da "esquerda"

Rocha disse...

Camarada Miguel,

Este post é duma pobreza de ideias um bocado triste.

Entre os 379.786 votos dos eleitores que não votaram de certeza no Rui Tavares mas sim no Bloco de Esquerda, muitos, provavelmente bem mais que esses 2.881 não votariam no BE se soubessem que ia lá haver um deputado chamado Rui Tavares a romper o seu compromisso eleitoral, a dar luz verde à guerra da Líbia, a mudar-se para o Grupo dos Verdes Europeus, a arranjar um conflito com o Francisco Louçã de propósito e a sair da bancada do BE mentindo sobre as suas motivações: não votariam neste senhor não votando no BE.

Isto além de mais de 99% dos portugueses desconhecer o Rui Tavares.

Depois espero que essa argumentação não sirva para dizer que o lugar do Rui Tavares lhe pertence quando ele foi eleito pelo partido Bloco de Esquerda, assinando um compromisso eleitoral com o BE. E os lugares ainda são eleitos através dos partidos ou através de movimentos ou listas independentes.

Rui Tavares é talvez conhecido entre leitores do jornal público, jornal que felizmente eu não leio. A sua trajectória é medíocre e oportunista, apenas mais um entre Acácios Barreiros e Zitas Seabras.

Quando ele declarou que não há esquerda em Portugal, exorcizou de forma surrealista o facto de ele próprio não ser de esquerda.

josé manuel faria disse...

Agora pode-se apontar todos os defeitos ao Rui Tavares, mas, foi pelo facto de ser ele o nº 3 que foi eleito: a lista do BE ao parlamento captou muito voto PS e independentes de esquerda moderada, precisamente porque os 3 candidatos eram reformistas. Não esquecer a derrota do Vital.

Luís Marvão disse...

Tem todo a razão, Miguel.
A sua análise, muito sucinta, é o melhor argumento contra aqueles que clamam que os votos são coutada do Movimento/Partido.
O caso do Rui foi mesmo assim, também eu me lembro do slogan "Vamos ver se levamos o Rui Tavares a Bruxelas!". Por isso, virem agora dizer que o Rui não contou para nada, é um sinal de hipocrisia. Ao ler muitos dos comentários de, depreende-se, militantes e simpatizantes do bloco, aqui e noutras paragens blogosféricas, começo a sentir que o be foi um logro em que caí: afinal que eles queriam era um partido ainda mais "puro" do que o pcp. Para saldar velhas contas do PREC com esta formação partidária.

Luís Marvão

Pedro Viana disse...

"(...)um deputado chamado Rui Tavares a (...) dar luz verde à guerra da Líbia(...)"

Oh Rocha, tenha paciência, por acaso está a insinuar que foi o Rui Tavares a convencer Kadhafi a massacrar os seus conterrâneios, iniciando a actual guerra civil na Líbia?! É que, suponho que saiba, **já** havia uma guerra civil na Líbia antes dos aviões da NATO intervirem. Aliás, não era bem uma guerra, antes mais um massacre em curso. Meros detalhes para si, suponho. Para si uma riqueza de ideias deve ser conseguir contar até dois: 1. NATO, maus; 2. quaisquer outros que se lhe oponham, bons. Aposto que fica bem alegre sempre que consegue levar este "raciocínio" até ao fim!

Miguel Madeira disse...

SH - "O que sabemos é que os comportamentos eleitorais, por uma razão simples de cultura política e de classe (sim!), tendem a ser diferentes na esquerda. Enquanto nos partidos da burguesia (onde incluo também o PS) a tendência é a de sufragar personalidades, nos partidos de tradição socialista/comunista/operária a tendência predominante é a de sufragar um projecto colectivo ao qual se subordinam os candidatos."

O que eu mais vejo é pessoas que votam BE por ser o partido do Louçã.

Miguel Madeira disse...

A respeito da mudança para os Verdes, suponho que para grande partes do votantes do BE seja quase igual ao litro estar no grupo da "Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica" ou no grupo dos "Verdes/Aliança Livre Europeia". O segundo tem partidos que participaram em governos com politicas de direita? O primeiro também.

Há uns anos atrás, os partidos de extrema-esquerda com representação no PE (como a Democrazia Proletaria italiana) sentavam-se no mesmo grupo que os Verdes (sendo o grupo da "Coligação de Esquerda" apenas para os comunistas ortodoxos), ou seja, não é um grande salto ideológico de uns para os outros.

Rocha disse...

Caro Viana, estou a constatar sim que o Rui Tavares contribuiu para para que que civis, mulheres e criança sejam assassinados pela NATO, isso é um massacre assumido pela própria NATO.

Já havia massacres antes da NATO? Da parte de quem? Não sei, não tomo os relatos dos media e dos mercenários a quem chamam "rebeldes" como provas. Mas um massacre não justifica outro.

O Saddam era quem era (massacres) e os Estados Unidos fizeram o que fizeram no Iraque (massacres). Os massacres são acessórios secundários para a sede de petróleo das potências, falo tanto dos Estados Unidos como da União Europeia.

Mas da esquerda, da esquerda que se preze, exige-se que tenha a dignidade de dizer não às guerras coloniais, não às guerras pelo petróleo, não ao imperialismo.

Já o camarada Madeira, por algum motivo, talvez por amizade com o personagem RTavares, insiste em desrespeitar os eleitores do Bloco de Esquerda. Não te fica bem negar o mandato do eleito Rui Tavares a quem realmente o elegeu: os eleitores do Bloco de Esquerda. Ninguém votou no Rui Tavares porque isso não é possível neste sistema eleitoral, a totalidade dos votos do BE permitiram a eleição do Rui Tavares. O desrespeito pela grande maioria destes eleitores - aqueles que se dão ao respeito e já protestaram - é uma ofensa aos valores de esquerda e aos valores democráticos.

Esta é uma lógica anti-democrática e de manifesta falta de ética. Ainda mais quando este rompe um compromisso eleitoral como o BE que voluntariamente assinou, mentiu sobre as razões da saída e sobre a repentina decisão de ir para a bancada dos Verdes Europeus (já tinha decidido a ruptura há muito).

Ricardo S. Coelho disse...

Vamos admitir por um momento que estas contas estão certas. Não me causa qualquer estranheza, aliás, pensar que uns milhares de pessoas votaram no BE porque viram nos cartazes uma cara de um cronista que apreciam. Daqui resulta que o RT tem a legitimidade de mudar de camisola? Obviamente que não.
O RT foi eleito por um partido, com um programa eleitoral, com uma campanha, com um conjunto de ideias. Não foi eleito como independente, foi eleito de acordo com um programa político anti-neo-liberal. Que agora passe para os Verdes, um grupo de partidos que têm sustentado o neo-liberalismo na Europa (os casos da Irlanda, da Alemanha e da França são exemplares), mostra como não tem princípios e só se quer agarrar ao poder. Pior, mostra que não tem qualquer respeito pelos eleitores que o elegeram para representar um programa político que ele agora deitou ao lixo.
Uma coisa é perguntar se o BE teria os mesmos votos se tivesse um/a desconhecido/a em 3o lugar em vez do RT. Outra muito diferente é perguntar se os votos de quem votou no BE porque estava lá o RT se transfeririam para outra candidatura de outro partido qualquer se o RT se tivesse candidatado nas suas listas.
A política não se resume a contas de mercearia.

Dédé disse...

A melhor posta de bullshit a defender o direito de Rui Tavares ter levado os votos do BE para os Verdes Europeus, que encontrei pela blogosfera.

Pedro Viana disse...

"Já havia massacres antes da NATO? Da parte de quem? Não sei, não tomo os relatos dos media e dos mercenários a quem chamam "rebeldes" como provas."

Suponho que apenas toma como provas os relatos dos esbirros de Kadhafi. Pelo menos ficamos a saber que não preza minimamente a credibilidade do que diz. Se colocasse umas palas, conseguiria ver melhor.

"Mas da esquerda, da esquerda que se preze, exige-se que tenha a dignidade de dizer não às guerras coloniais, não às guerras pelo petróleo, não ao imperialismo."

Não a tudo, que se matem todos, que nós, a verdadeira Esquerda, acredita que o sangue dos outros não tinge as mãos dos que nada fazem. Viva a inacção revolucionária!

Pedro disse...

A ideia de que os eleitores, no caso do BE, votam em listas e não em nomes, é hipócrita. Será assim com o PS, o PSD, o PCP e o CDS, que têm um eleitorado orgânico e sociológico, que vota por tradição e até por legado familiar. Estivesse lá o emplastro como cabeça de lista, votariam na mesma no seu partido, sempre foi assim. No BE, que já há muito deixou de ser PSR+UDP, votam em gajos e gajas e com um perfil que se distancia cada vez mais do do Luis Fazenda, por exemplo, e mesmo do Louçã. No caso, votaram num tipo que escreve bem, que lhes parece moderado e inteligente e voltariam a votar nele mesmo após a questão da Líbia, assim como votam no Miguel Portas, pelas mesmas razões e porque ainda por cima é um gajo alto e bem parecido (espero que esteja tudo bem com ele).

João Vasco disse...

«Assim, é bastante provável que algumas pessoas terão votado BE por lá estar o Rui Tavares; será que a hipótese de pelo menos 1 em cada 125 votantes do BE ter sido influenciado pela sua presença é assim tão descabida?»

Não é descabida de todo.

Sei que parte significativa da minha convicção ao votar BE nessas eleições deveu-se à presença do Rui Tavares, e às ideias que ele apresentou em relação à Europa.

Sim, votei num tipo «que [me] parece moderado e inteligente» e independente, e honesto, que apresentou ideias com as quais concordo, ideias essas que não vi traídas com esta sua opção, pelo contrário.
Teria traído o meu voto de tivesse abandonado o cargo.

Se a estratégia do BE é tentar ser mais "puro" que o PCP - e por este insulto da direcção ao Rui Tavares parece que é isso que querem, vão ter o eleitorado correspondente, e não contarão com o meu voto. Mais facilmente voto num pequeno, ou em branco.