18/11/12

O anti-europeísmo da "esquerda anti-imperialista"


Apesar de erodidos e em recuo os direitos e liberdades garantidos aos cidadãos da UE incomodam a estratégia capitalista global, cuja ofensiva não tem parado de insistir, através dos mais diversos porta-vozes da oligarquia dominante, na necessidade de acabar com os entraves e maus exemplos para outros povos que esses direitos e liberdades representam. Podemos dispensar-nos aqui de citar as declarações de responsáveis e dirigentes, membros quer das fileiras oligárquicas europeias, quer das oligarquias das potências emergentes, com destaque para a RPC, que insistem na urgência de pôr fim aos "privilégios anacrónicos" dos trabalhadores europeus.

Ora, tal é precisamente o que não querem entender ou, melhor, que procuram activamente que os cidadãos entendam os que, declarando-se adversários irredutíveis do capitalismo e do imperialismo, apostam, não na defesa e extensão das condições ameaçadas da cidadania europeia, mas na desagregação da zona euro como primeiro passo para a desagregação da UE, a pretexto de que essa desintegração seria uma derrota para as forças imperialistas.

O que é curioso assinalar é que os porta-vozes desta "esquerda" anti-imperialista chegam a apresentar as liberdades e direitos de que dispõem ainda os cidadãos dos países europeus mais avançados como armas do capitalismo global, ao serviço da burguesia e da finança internacional, acabando por contribuir para o seu enfraquecimento e eliminação, não menos do que a ofensiva oligárquica que os declara obsoletos e insustentáveis.

2 comentários:

João Valente Aguiar disse...

O pensamento da trupe mais nacionalista é mecânico e dicotómico: como a UE é má, logo sair do euro é bom. Deixemo-nos de cantigas este é o pensamento dessa gente que está ao nível do formalismo aristotélico mais primário.
Mas apesar do primarismo do raciocínio antes o problema residisse neste aspecto. A verdade é que essa gente defende uma sociedade altamente autoritária e que não teria problema nenhum em calar as vozes dissidentes, sobretudo as vozes à esquerda. Tal como no bolchevismo os primeiros a pararem na cadeia seriam os elementos da esquerda anticapitalista. O pessoal mais à direita, salvo algumas excepções, seriam novos quadros dentro de um estado altamente repressor e castrador de qualquer tipo de liberdade dos trabalhadores. Lembremos a facilidade com que o bolchevismo absorveu os antigos gestores e antigos quadros militares vindos directamente do czarismo.

O nacional-bolchevismo de certa esquerda portuguesa é isso mesmo: a tentativa de construir um capitalismo muito mais violento, com um peso colossal do aparelho repressivo do estado e com uma reconstituição de uma cadeia hierárquica de comando próxima ao das instituições militares. Não por acaso são esses que mais reclamam pela intervenção dos militares no actual processo e que continuam a suspirar por umas forças armadas que desta vez não lhes comprometam o seu projecto político.
Enquanto a esquerda não-leninista portuguesa não perceber isto, os riscos de essa gente aspirar a tornar a sociedade portuguesa num espaço concentracionário será real. Mais ainda no actual contexto de crise do euro.

Miguel Serras Pereira disse...

João,

antes de ler este teu comentário, mas movido por preocupações semelhantes - a falta de uma alternativa consequente a uma concepção da alternativa ao capitalismo como a que referes e cujos adeptos correm o risco de descobrir um dia que abriram caminho, através de defecções nas suas próprias fileiras e bases de apoio, a um movimento de tipo fascista - escrevi dois posts mais: um saudando a tomada de posição federalista do José Manuel Pureza, outro assinalando a insuficiência, para não dizer pior, do BE como alternativa (quer aos "partidos de governo", quer à "esquerda" que sabemos). A verdade é que, neste momento, as duas soluções mais fortes que nos são propostas como alternativas não podem levar senão a uma deterioração agravada da situação já muito precária em que nos encontramos.

Abraço

msp