01/02/13

Sinceridade e não (a propósito de um comentário do Pedro Viana)


Comentando um comentário do João Valente Aguiar na caixa do post em que recentemente chamei a atenção dos leitores para um artigo do Passa Palavra sobre o "europeísmo manco" do BE, o Pedro Viana escreve, entre outras coisas, que considera "arrogantes" ceertos "textos anónimos" do Passa Palavra, porque:

Por exemplo, quando os dirigentes do PCP afirmam que a emancipação da classe trabalhadora requer um Estado forte, em vez de se admitir que eles possam estar a ser sinceros, e que até poderão em alguma medida ter razão (mas não quando todas as consequências de tal proposta são consideradas), o que é mais ou menos explicitamente dito é que tais dirigentes estão a ser falsos, porque sabem muito bem que um Estado forte necessariamente oprimirá os trabalhadores, e por isso o que querem na verdade é ter lacaios ao seu serviço.

Ora bem, Pedro, vamos lá imaginar que um estalinista me comunica a sua convicção sincera de que a via necessária para a autogestão generalizada e o fim da exploração do homem pelo homem passa pelo reforço dos dispositivos repressivos do aparelho de Estado, pela consolidação das cadeias de comando hierárquicas, pela decidida construção de campos de concentração que neutralizem os inimigos de classe, pelo monopólio do partido de vanguarda em matéria de decisões políticas e expressão do pensamento, e assim por diante. Claro que posso e devo, num primeiro momento, propor-lhe que discuta o assunto, e tentar mostrar-lhe que o seu modo de fazer o caminho nunca produzirá a sociedade sem classes, a liberdade e igualdade que proclama como seus objectivos. Mas se o militante estalinista, de acordo com as suas convicções declaradas, recusar o debate, considerar que a propria discussão das concepções e do modelo de organização que adopta, são uma sabotagem criminosa e intolerável, talvez "nazi-trotsquista", que terão de ser punidas pelos trabalhos forçados, a lavagem ao cérebro laboratorial-carcerária ou o fuzilamento, e, juntando o gesto à palavra, me ameaçar com a sua arma, poderei eu fazer outra coisa razoável que não seja tentar pô-lo fora de combate, para o não deixar limpar-me o sebo, alertando entretanto, no caso de escapar, os meus camaradas contra a ameaça mortal que o militante estalinista em causa e as concepções e formas de organização que o autorizam representam para a liberdade e igualdade democráticas que são condições necessárias do socialismo? Ou deverei, tendo em conta a "sinceridade" do militante que acredita que a liberdade é obediência cega, que a igualdade é servidão voluntária, e assim por diante, oferecer-lhe a minha capitulação e colaboração na construção dos amanhãs que cantam, sob a direcção do partido de vanguarda?

Pois é, Pedro. Enfim, se achares que vale a pena dares-te ao trabalho de responder, tem, se possível, presente esta interrogação suplementar: Haverá outra maneira de termos a autogestão generalizada, a liberdade e a igualdade democrática plenas ou a cidadania governante amanhã, que não passe pela autogestão, a democratização das formas de organização da acção política e do exercício activo da cidadania hoje?

15 comentários:

Libertário disse...

As considerações sobre a "sinceridade" poderiam ter algum sentido nos primórdios do socialismo, quando se tratava de discussões teóricas. Após o século XX quando os partidos socialistas se demonstraram meros gestores do capitalismo e quando os partidos comunistas aplicaram um dos modelos mais terroristas de dominação que até hoje foram experimentados pelos donos do poder, tendo memória histórica não há lugar para debater "boa vontade" nem "sinceridade" dos dirigentes desses partidos. Os que se filiam na continuidade do marxismo-leninismo, ou do trotsquismo, mesmo não sendo responsáveis por esse passado quase sempre são cúmplices, para não falar de alguns que ainda se sentem solidários com a Coreia e a China...
Que assumam o seu passado, com todas as consequências, ou rompam definitivamente com ele. Só então se poderá travar um debate "sincero" sobre o capitalismo e os meios de o liquidar.

Pedro Viana disse...

Caro Miguel,

Que queres que te diga? A táctica argumentativa de esticar o argumento do outro até ao absurdo é velha, e simplesmente denota falta de vontade em discutir abertamente a questão em causa. Recusar o debate não é apenas dizer que não se quer ouvir os argumentos do outro, ou pegar numa pistola. É também ouvir de ouvidos fechados, através dum esforço consciente de recusa da possibilidade de apreender (que não é equivalente a aceitar) a racionalidade da argumentação do outro.

Achas mesmo que todos os simpatizantes/militantes/dirigentes do PCP, ou sequer a maioria, são como, implicitamente, os pintas neste post? Aliás não faltam exemplos de militantes do PCP que se afastaram do partido porque chegaram racionalmente à conclusão que a via defendida no PCP, o marxismo-leninismo, não é a mais adequada para chegar ao ideal comunista. Inclusivé alguns bem perto de nós. Foram todos lunáticos de arma na mão?

Quanto ao último parágrafo, só posso dizer que é de uma imensa ingenuidade. Achas sinceramente que hoje mesmo todos os que acreditam no que defendes, entre os quais me encontro, deveriam cortar todos os laços que os unem a instituições hierarquicas, instaurando a auto-gestão democrática nos "espaços" assim libertados? Que a revolução deve ser já, agora mesmo?... Recusamos a autoridade do aparelho de Estado, despedido-mos, recusamos trabalhar, colaborar ou interagir com ou para quem continua a colaborar com o sistema hierarquico. Já, agora. Que me dizes? Que afinal as condições para a revolução ainda não estão reunidas? E o que afirmam os outros, que não exactamente o mesmo: que antes da ruptura é primeiro necessário criar as condições para que tenha sucesso, seja sustentável. É assim tão difícil admitir tal? É mesmo necessário sermos tão poucos que cabemos num armário, e mesmo assim sentimo-nos desconfortáveis com a côr ligeiramente diferente das meias do outro?...


Um abraço,

Pedro

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Pedro,
vejo que voltas a ler mal o que escrevi. Vamos ver se nos entendemos, então.

1. Quando tu perguntas: "Achas mesmo que todos os simpatizantes/militantes/dirigentes do PCP, ou sequer a maioria, são como, implicitamente, os pintas neste post? Aliás não faltam exemplos de militantes do PCP que se afastaram do partido porque chegaram racionalmente à conclusão que a via defendida no PCP, o marxismo-leninismo, não é a mais adequada para chegar ao ideal comunista. Inclusivé alguns bem perto de nós. Foram todos lunáticos de arma na mão?" - penso que a resposta pode tomar como ponto de partida as seguintes considerações de Castoriadis, que tenho citado muitas vezes neste blogue: " [o PC] está condenado a dizer uma coisa e a fazer o contrário: fala de democracia e instaura a tirania, proclama a igualdade e realiza a desigualdade, invoca a ciência e a verdade e pratica a mentira e o absurdo. É por isso que perde muito rapidamente a sua influência sobre as populações que domina. Mas é também por isso que aqueles que aderem ao comunismo, pelo menos antes da sua chegada ao poder (…) [e]stão possuídos por uma 'ilusão revolucionária', acreditam de um modo geral que o Partido Comunista visa realmente instaurar uma sociedade democrática e igualitária". Assim, é evidente que não excluo nem a necessidade de debate nem a possibilidade de uma mudança de ideias e prática por parte dos militantes, que os leve a romper com a organização (ou, no limite, teoricamente, a revolucionar esta última). O meu post refere-se a uma situação-limite, sim, mas amplamente documentada pela história dos PCs, e só quer dizer que é inútil ou suicida contar com a "sinceridade" do miliotante estalinista quando esta se recusa a assumir as condições que permitem um debate efectivo.

2. A tua leitura do final do meu post é um contra-senso: o que eu digo é que temos de lutar de outro modo, de começar por democratizar o regime das lutas e da nossa acção política, se queremos chegar a resultados diferentes dos da dominação classista. E de denunciar sem contemplações as concepções e formas organizativas da acção e da luta política que reproduzem as do exercício actual do poder político e da sua economia. Assim, é precisamente porque não adopto uma posição de tudo ou nada e porque penso a democratização como um projecto e um processo no tempo que escrevo:que não há "outra maneira de termos a autogestão generalizada, a liberdade e a igualdade democrática plenas ou a cidadania governante AMANHÃ, que não passe pela autogestão, a democratização das formas de organização da acção política e do exercício activo da cidadania HOJE".

Abraço

miguel(sp)

Pedro Viana disse...

A citação do Castoriadis é excelente, e sintetiza exactamente o que tenho tentado afirmar. Repito, pegando nas suas palavras: "(...)possuídos por uma 'ilusão revolucionária', acreditam de um modo geral que o Partido Comunista visa realmente instaurar uma sociedade democrática e igualitária(...)". São portanto portadores duma contradição interna, entre o seu ideal e o que pensam que é viável na realidade, que é possível explorar, de modo a conseguir-se chegar, já nem digo a uma via comum, mas simplesmente à vontade de caminhar juntos. Mas também nos iludimos se pensamos que somos imunes à ilusão. E a ilusão do idealista (como os outros, os pragmáticos, nos retratam) radica na crença de que a realidade é infinita e imediatamente moldável ás suas ideias. A contradição do idealista não radica no seu interior, mas resulta do embate com a realidade exterior.

Críticos, sempre críticos, dos outros, mas também de nós. É a segunda parte de que sinto falta. Da dúvida, que denota abertura para ouvir o que o outro tem para dizer. Mas, infelizmente, a maior parte das vezes escreve-se como se estivesse num jogo, em que a dúvida é equacionada a fraqueza.

Na verdade, sem dúvida não há processo democrático que resista. Se alguém não está disposto (em geral) a conceder ao outro a possibilidade de estar correcto, porque havia de aceitar o processo de deliberação democrática, sabendo que será inevitável encontrar-se frequentemente em minoria?

Um abraço,

Pedro

Anónimo disse...

" Deixando de estar ligada à terra, a burguesia, como o capital de que é nos tempos que correm a incarnação real e palpitante, não possui nenhuma pátria. A sua pátria encontra-se lá onde o capital garante os mais generosos lucros. A sua preocupação principal, para não dizer exclusiva, é a exploração lucrativa do trabalho do proletariado. Do seu ponto de vista,quando essa exploração corre bem, tudo vai bem; e, ao contrário, quando enfraquece, tudo vai mal. Não pode portanto ter outro desejo que de colocar a exploração a funcionar, por qualquer processo ou feitio, mesmo que esse meio seja a vileza, a selvagaria e o cativeiro do seu próprio país. E, contudo, a burguesia tem necessidade de uma pátria politica, o Estado, para garantir os seus interesses exclusivos contra as exigências tão legitimas e cada vez mais agressivas do proletariado ", M. Bakounine. 1870

Oh. Pedro Vieira: Sei que é cientista e um homem de boa-fé. Para quê desenterrar" cadávares adiados que procriam "( F. Pessoa)como os partidos " comunistas " ou a Marxismo-leninismo esteriotipado e morto? Tem tudo para se informar, por certo. E o " seu " blogue, o Vias, não cessa de sinalizar teorias e hipóteses revolucionárias do melhor e do mais livre que há à face da terra, meu caro. Devem existir, por certo,os grandes livros do Castoriadis quase todos traduzidos em inglês, se me permite este fraternal alvitre. Verá que sairá outro através da sua inteligente e produtiva leitura. Salut com fraternidade total! Niet

Anónimo disse...

Conversa de pacotilha para entreter la petite burguesia. O socialismo será sempre o que a classe operaria organizada na sua vanguarda quererá que seja.
O resto é armazém de secos e molhados.

Miguel Serras Pereira disse...

Sim, Pedro. Mas a liberdade da dúvida, da discussão, da interrogação ilimitada (a legitimidade de pôr em causa as instituições, as leis, os juízos, as nossas próprias decisões anteriores) NÃO É, pelo seu lado, NEGOCIÁVEL - e legitima o uso da força contra os que a sabotem, contra os que pretendam impor como lei ou comando as suas posições, proscrevendo a deliberação e a tomada de decisão democráticas. Para me deixar interpelar pelos outros, para deixar que as suas razões ponham em causa as minhas, é necessário que ele me deixe falar e não me imponha a resposta, que não tente amordaçar-me para me impedir de falar e de o interpelar também. E se o fizer só me resta defender-me e defender as condições da liberdade de duvidar, de divergir e de propor.

Abraço

miguel(sp)

adérito nunes disse...

Agradeço penhorado e eternamente agradecido qualquer citação fidedigna, autêntica e identificada que demonstre que « os dirigentes do PCP afirmam que a emancipação da classe trabalhadora requer um Estado forte».

Não digo que não haja, só que não conheço e gostava de conhecer.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Adérito Nunes,
não sei se o João Valente Aguiar tinha em mente alguma declaração precisa. No entanto, a ideia está presente nas concepções e propostas - e está mais do que implícita no modelo de organização, na dimensão orgânica - do partido em apreço. O aumento e expansão das funções e competências do Estado - e logo, da sua força - faz, de resto, parte tanto da visão leninista, afirmada pelo PCP, como é um pressuposto evidente do seu programa. No momento actual, a insistência nos direitos inalienáveis da soberania (cf. o post hoje publicado pelo JVA e as citações que contém), o antifederalismo, etc. conferem ainda mais lastro à necessidade - do ponto de vista do PCP - de um "Estado forte".

Obrigado por me proporcionar este ensejo de esclarecer as razões que me fizeram citar o excerto do JVA.

msp

João Valente Aguiar disse...

Se as coisas fossem simples como o leitor Adérito Nunes apresenta o mundo seria a casa de doces de Hansel e Gretel... Mas como reza a lenda por detrás do doce existem acontecimentos, personagens e comportamentos bem venenosos. E esse "veneno" é muito simples.
Como já tive oportunidade de demonstrar (http://passapalavra.info/?p=68594; http://passapalavra.info/?p=68664) uma saída de Portugal do euro representaria um aprofundamento ainda maior dos mecanismos da mais-valia absoluta. O mesmo é dizer aprofundando os mecanismos mais repressores e arcaicos de desenvolvimento do capitalismo: elevadíssima inflação, redução brutal dos salários e dos direitos laborais, dificuldade enorme de acesso a bens e serviços, etc. Ora, perante esse cenário ocorreriam tumultos. Tumultos que só poderiam ser controlados com repressão. E repressão implica um Estado forte. A esse propósito sugiro vivamente a leitura e o debate destes dois textos: http://passapalavra.info/?p=65637 e http://passapalavra.info/?p=67796

Anónimo disse...

fantástico o modo como o MSP topa um estalinista (só faltou mencionar que é pelo fedor, mas não falta muito para lá chegar). Gostava que me identificasse uma linha programática que fosse aonde o estalinismo enquanto processo de acção se encontra inscrito no programa ou estatutos do PCP. Alguns anos de militância permitem-me hoje identificar três ex camaradas com tiques, esses sim, verdadeiramente estalinistas, um já falecido (que não vou nomear), outro a Helena Medina e a estrela emergente da esquerda nacional - João Semedo, qualquer um deles na direcção da DORP. Sobre qualquer um deles poderia contar cenas e situações do arco da velha, essas sim ao melhor nível do Zé Serralheiro. Mas como mudaram de água de colónia deixaram de contar para o choradinho.
RG

João Valente Aguiar disse...

Tomo a liberdade de citar parte de um artigo meu linkado acima aqui no Vias de Facto:

«intervenção de Ângelo Alves no último congresso do PCP:
«[...] a questão da ruptura com o processo de integração capitalista está colocada. Mas, como processos de integração noutros continentes demonstram, existe uma relação dialéctica entre a correlação de forças no plano nacional e a natureza e evolução dos processos de cooperação e integração. A derrota do processo de integração capitalista europeu é assim inseparável de uma evolução positiva da correlação de forças em cada um dos países, bem como da capacidade dos povos de resgatarem a sua soberania nacional.
«Como está referido na proposta de alterações ao Programa do Partido “O PCP opõe-se ao processo de integração capitalista europeu e luta para romper com tal processo defendendo o direito soberano inalienável de Portugal e dos portugueses de definirem o seu próprio caminho de desenvolvimento”» (http://pcp.pt/crise-do-capitalismo-e-integra%C3%A7%C3%A3o-capitalista-europeia).

Sobre esta intervenção vale a pena atentar em três observações.

Em primeiro lugar, a «ruptura com o processo de integração capitalista está colocada» explicitamente por parte do PCP. O mesmo é dizer que o principal foco de acção deste partido não é a crítica à austeridade nem os ataques aos direitos, salários e empregos dos trabalhadores. Estes são apenas meios políticos para elevar a luta dos leninistas portugueses a favor de uma ruptura com a União Europeia e com a zona euro.

Em segundo lugar, ao contrário do que alguns possam pensar, estas não são apenas declarações individuais de destacados dirigentes do PCP, o que por si só já seria extremamente significativo. Ângelo Alves trata logo de lembrar a novel alteração no Programa do PCP, que a restante esquerda deixou passar incólume aquando do Congresso deste partido em Novembro passado: «o PCP opõe-se ao processo de integração capitalista europeu e luta para romper com tal processo defendendo o direito soberano inalienável de Portugal e dos portugueses de definirem o seu próprio caminho de desenvolvimento». Bem sei que os membros do PCP têm a ginástica táctica suficiente de se agarrarem ao adjectivo “capitalista” para contornarem eventuais omissões eleitoralistas das suas reais intenções de ruptura com o espaço europeu.

Todavia, e aqui passo para a terceira observação, o caminho apontado é totalmente oposto ao de qualquer integração europeia. Quer dizer, o soberanismo nacionalista está muito explícito na sequência imediata da alteração introduzida no Programa do PCP: «o direito soberano inalienável de Portugal e dos portugueses de definirem o seu próprio caminho de desenvolvimento».

Quem achar que o PCP está na rua contra a troika da mesma forma que a população trabalhadora que tem sido atacada da maneira mais despudorada e agressiva das últimas décadas pelas políticas de austeridade bem que pode começar a reflectir no assunto. Independentemente do populismo eleitoralista (a sua face patetamente alegre), o objectivo principal do PCP está muito para além da participação num “governo de esquerda”, que eventualmente até conseguiria renegociar algumas condições mais onerosas do Memorando assinado entre o Estado português e a troika. O seu objectivo explícito e plasmado no seu Programa é apenas um: tirar Portugal da zona euro e instaurar um capitalismo de Estado». Fim de citação.

Se tudo isto não é a recuperação do "socialismo num só país" stalinista então o que é?

Só para terminar este longo comentário: é paradigmático que os militantes do PCP quando se predispõem a discutir resvalem sempre para a pessoalização da política. Não são os únicos, verdade seja dita. Mas a mim não me interessa para nada o João Semedo, ou quem quer que seja, porque a política joga no plano das práticas colectivas e das ideias. Espantoso como um partido que se considera marxista transfere constantemente a análise política do campo das lutas sociais e das dinâmicas estruturais para o espaço da individualidade A ou B.

Anónimo disse...

JVA, algo que vc ainda não percebeu "estalinista" é uma forma de estar e existe em todos os partidos e organizações, "estalinistas" até vcs o são na forma em como dão caça aos comunistas e a quem pensa de forma diferente, simplesmente.
RG

Miguel Serras Pereira disse...

RG,
no meu post, não aparece referido outro estalinista que não seja o conjectural que faço entrar em cena a título de exemplo e que não identifico como sendo do PCP.
Quanto às linhas programáticas, quero recordar-lhe que nas vésperas dos Processos de Moscovo, nos tempos de Estaline propriamente dito, a URSS adoptara, em boa parte redigida ao que parece por Bukharine, aquela a que alguns chamavam "a Constituição mais democrática do mundo".
O que eu identifico, não pelo cheiro nem pela cor dos olhos, mas por aspectos como as concepções orgânicas, a estratégia explícita do partido de vanguarda,. o leninismo altaneiramente proclamado, é o PCP como defensor de um "Estado forte", apresentando as minhas razões de tal leitura ao comentador Adérito Nunes.

msp

João Valente Aguiar disse...

2 detalhes sobre o último comentário de RG:

1- o estalinismo seria uma forma de estar, um estilo e não o desenvolvimento prático e concreto do leninismo... Ora, se a prática política estalinista de perseguição, de opressão, etc. até se pode considerar partilhável a outras correntes políticas, o estalinismo tem o pioneirismo histórico de ter adequado uma prática de repressão numa experiência nacional capitalista, proveniente de uma originária revolução de base operária. E é esta prática política de repressão imanente à construção de um capitalismo de estado que constitui o leitmotiv de acção dos vários partidos comunistas.

2 - se o estalinismo for, como diz, apenas uma forma de estar, então nós aqui no Vias também seríamos estalinistas... Misturar a legítima crítica política que aqui praticamos com a prática estalinista que contrapus no ponto anterior só mostra a confusão política de muito boa gente...