21/04/13

O operador de call-centre

Conferência com João Carlos Louçã

24-04-2013, 15:30 - Sala 2, Instituto de Ciências Sociais

As alterações no mundo trabalho constituem uma das faces mais marcantes do período dos últimos 50 anos. Da rotinização da mudança tecnológica maioritariamente orientada para novas formas de acumulação à emergência de novas matérias- primas e domínios de mercadorização gerados pelo factor tecnocientífico-económico e pela capitalização do conhecimento (ou do “imaterial”). De novas estratégias produtivas caracterizadas pelo elevado grau de flexibilidade e precarização dos trabalhadores à mobilização e exploração das capacidades linguísticas, cognitivas, comunicacionais, relacionais dos indivíduos. Paralelame nte, a globalização dos mercados, a escalada global do capitalismo financeiro, a deslocalização de uma grande parte do aparelho industrial para regiões economicamente subdesenvolvidas e a implementação de orientações normativas que apontam para a desregulação e empresarialização impulsionaram uma outra relação com o trabalho. 

O operário, símbolo do dinamismo fabril e depósito de esperança na superação do mesmo, deixou de ser socialmente representativo. O profissional, outrora senhor de um status relativamente elevado, legitimado por uma deontologia própria, viu a sua condição ser atravessada por lógicas de proletarização. O emprego, base de um contrato político e de uma sólida identidade assumiu diferentes formas – do contrato a prazo e do «recibo-verde» português, ao próprio não emprego – todas elas caracterizadas por maiores níveis de efemeridade, intermitência e precariedade, bem como por novos eixos de conflito. 

Embora assumam uma enorme relevância social, o objectivo desta iniciativa não se resume aos traços acima mencionados. Entre uma narrativa que analisa o novo a partir do velho, encarando a flexibilização laboral como uma espécie de deturpação evolutiva da ordem fordista, e uma outra que ignora o papel do velho na construção do novo, elevando o trabalhador qualificado à condição de empresário de si mesmo, existem uma série de buracos negros que devem ser objecto de estudo e de reflexão. Será o trabalho imaterial um fenómeno recente e circunscrito a um segmento específico? Deverá a precariedade ser abordada apenas de uma perspectiva geracional? O que é, e o que não é trabalho? As classes sociais desapareceram com os operários? Numa perspectiva interdisciplinar, da sociologia à antropologia, passando pela história, o objectivo deste ciclo de conferências reside tanto na resposta a estas questões, como na formulação de tantas outras. 

organização: José Luís Garcia (ICS-UL), José Nuno Matos (ICS-UL) 

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