23/04/13

Quanto custa um escudo?

Pelo sempre atento e arguto Ricardo Noronha, deixo aqui dois parágrafos do seu excelente texto que leva o título acima e que pode ser lido na íntegra aqui.

«Parece-me no mínimo insólita a assunção de que a União Europeia seria um bloco monolítico ou que corresponderia fundamentalmente às elites políticas e económicas que a governam, como se nela não existissem milhões de trabalhadores igualmente explorados e capazes de materializarem uma alternativa não apenas à austeridade no curto-prazo como ao capitalismo no médio e longo prazo. Uma articulação das resistências e dos conflitos sociais à escala continental — não uma soma de várias lutas nacionais, note-se bem, mas uma luta conduzida sem fronteiras — produziria desde logo deslocações ao nível da correlação de forças dentro das instituições europeias, retirando margem de manobra aos falcões do Banco Central Europeu e outras aves raras do ajustamento estrutural. Mesmo do ponto de vista de quem não raciocina para lá de uma solução reformista, haveria todas as vantagens em fazê-lo a essa escala. Mas do ponto de vista de quem se bate pela superação do capitalismo, a hipótese nacional-desenvolvimentista é a pior de todas, quando defendida num país de pequenas dimensões, com uma história secular de dependência face ao exterior e sem recursos naturais que se conheça.



Desse ponto de vista, a argumentação dos economistas que vêm defendendo uma solução nacional para a crise tem permanecido no terreno da ambiguidade. Se uma medida de política económica implicar várias outras — por exemplo, se uma renomeação da dívida na nova moeda implicar a nacionalização da banca, se uma política de relançamento implicar intervenções no sector energético, se uma política de rendimentos implicar o tabelamento de preços, etc — é importante saber se o bloco nacional-popular de alianças vagamente equacionado a consegue sustentar. Poucas coisas seriam piores do que um processo destes conduzido aos solavancos, repleto de hesitações, que nos levasse de volta ao Verão de 1975 e nos presenteasse uma reencarnação de Vasco Gonçalves a garantir que não há terceiras vias nem meias medidas e que ou se está com a revolução ou se está com a reacção. Infelizmente, os discursos de quem defende o abandono da zona euro não parecem ter plenamente em conta a experiência do processo revolucionário português e da sua derrota. Bem sei que não existe a esse respeito qualquer tipo de fatalidade, mas um aspecto permanece actual menos de quarenta anos depois: o grande problema do socialismo de miséria é que ao fim de algum tempo só sobra a miséria. A soberania não nos tira deste buraco.»

3 comentários:

Anónimo disse...

exacto.

Anónimo disse...

exacto.

Anónimo disse...

Jean-Paul Fitoussi analisa a crise politico-económica na Zona Euro. Entrevista online no Liberation grátis do dia 23/4. Dados e análises de grande perfomance e coragem. Mais uma peça essencial na mesma altura que os contestários de Rogoff e colega incendeiam as páginas de OP´s do NY Times. Salut! Niet