01/08/14

Contra a sacralização da guerra

Sem prejuízo de todos os esforços imediatos que visem deter a carnificina, devia ser evidente, extraindo as devidas consequências dos lúcidos argumentos do João Tunes, que qualquer começo de solução do problema passaria pela instauração no terreno israelo-palestiniano de uma república pós-nacional laica, que destituísse politicamente as as fidelidades religiosas ou confessionais em confronto e viesse a constituir um foco de difusão da destituição política dos credos "teocráticos" em toda a região (e para lá dela). Dir-se-á que é um começo de solução inaceitável aos olhos de ambas as partes, mas, nesse caso, a conclusão a tirar é a desistência de qualquer saída pela via da racionalidade do impasse sangrento, abdicando nós próprios de tomar o partido da razão e, seja qual for o campo em que apostamos ou nos resignemos a apostar, deixando à força bruta, no imediato e até nova ordem, a última palavra. — ou antes, a disposição da mordaça que, abolindo o primado da palavra na praça da cidade, prolonga indefinidamente a sacralização da mais irracional das guerras.

4 comentários:

Libertario disse...

Concordando com Miguel Serras Pereira, afinal na linha de muitos judeus libertários que foram contra a criação de um estado de Israel, a questão é que hoje ele existe e tem uma política essencialmente terrorista, mesmo que se argumento com o seu direito à existência face à decisão da ONU do pós-guerra.
Os palestinianos tem, no mínimo, também direito a ter a sua comunidade e território reconhecidos e direito a viver em paz. A sua luta conta a expansão sionista é legítima a todos os títulos. Finalmente é absolutamente cínico comparar as limitadas operações militares dos palestinianos com o massacre sistemático executado pelo exército israelita contra a população palestiniana. Os números falam por si.
Obviamente que sendo contra todo o Estado o sou mais ainda contra estados terroristas ou contra estados construídos na base de uma qualquer religião. Mas tudo isto não justifica os discursos estúpidos de muita esquerda contra os "judeus" com ranços fascistoides ou de defesa acrítica dos "palestinianos" ou dos "árabes" nos seus conflitos com o Estado de Israel. Afinal já vimos que tipo de elites são essas que governam os estados árabes e muçulmanos...

Miguel Serras Pereira disse...

Libertário,
inteiramente de acordo com o que escreves. A única ressalva, que não é uma discodância, mas apenas uma precisão: Se "[f]inalmente é absolutamente cínico comparar as limitadas operações militares dos palestinianos com o massacre sistemático executado pelo exército israelita contra a população palestiniana", não devemos esquecer que o Estado de Israel está a fazer aos palestinianos o que o Hamas tem como programa fundamental fazer aos judeus. Eis, mais uma razão pela qual, como luminosamente explicas, 'não [se] justifica[m] os discursos estúpidos de muita esquerda contra os "judeus" com ranços fascistoides ou de defesa acrítica dos "palestinianos" ou dos "árabes" nos seus conflitos com o Estado de Israel. Afinal já vimos que tipo de elites são essas que governam os estados árabes e muçulmanos...'

Abraço

msp

Anónimo disse...

Depois das guerras preventivas, da repressão e detenções preventivas, o que acabo de ler do Miguel Serras Pereira é a invocação também de um tipo de «acusação e prática punitiva preventiva» contra o Hamas!!!!

Por isso mão posso concordar em absoluto com este comentário do Miguel Serras Pereira:


«(...) não devemos esquecer que o Estado de Israel está a fazer aos palestinianos o que o Hamas tem como programa fundamental fazer aos judeus. Eis, mais uma razão pela qual, como luminosamente explicas, 'não [se] justifica[m] os discursos estúpidos de muita esquerda contra os "judeus" com ranços fascistoides ou de defesa acrítica dos "palestinianos" ou dos "árabes" nos seus conflitos com o Estado de Israel.»

Ao contrário do Miguel Serras Pereira, eu defendo incondicionalmente o direito de legítima defesa dos palestinianos nas suas próprias terras e casas.

Não estando aqui a tratar da questão se deve existir hoje ou não um Estado de Israel, o que é certo é que este Estado ( e os seus sucessivos governos) tem levado a efeito uma política colonialista, militarista, constante violadora das resoluções do Conselho de Segurança da ONU, e dos próprios direitos humanos relativamente aos palestinianos, para além da prática de apartheid.

Nestas circunstância, não é só o massacre e o genocídio dos palestinianos que está aqui em causa. É também toda a política de colonização e de afirmação militarista do Estado terrorista de Israel.

Em suma: o Estado de Israel é um Estado-canalha




Miguel Serras Pereira disse...

Anónimo,

já respondi a esta sua intervenção na caixa de comentários do post que continua este (Episódios da guerra dos deuses…").

msp