18/04/16

Não limpar o chão com bosta será a mesma coisa que não limpar o chão?

O título deste post retoma a pergunta que deveria ocorrer a qualquer comum cidadão activo ante o espectáculo dado pela troca de argumentos, a propósito dos acontecimentos no Brasil, entre os que querem limpar o chão com bosta e os que dizem que, para limpar o chão, o melhor é deixá-lo sujo como está e a acumular sujidade — ou que não é preciso sequer limpá-lo, uma vez que não está assim tão sujo, ostentando até níveis de sujidade exemplarmente aceitáveis.

6 comentários:

Libertário disse...

Não deixa de ser curioso que ao contrário do PCP, o PCB faça uma análise extremamente crítica dos governos Lula/Dilma/PT embora não apoie o impeachment (http://pcb.org.br/portal2/). Também os dissidentes do PCB, tipo renovadores, do PPS são extremamente críticos do governo PT e votaram a favor da continuidade do processo. Não esquecendo que um partido nascido do PT, o PSOL, tal como o PSTU que não tem representação parlamentar, é igualmente extremamente crítico do governo embora neste caso tenham votado contra o impechment...
Finalmente vale a pena recordar que Dilma e Lula estiveram a negociar ( o que significa distribuir cargos e benesses) até ao fim com os partidos conservadores para conseguir os seus votos contra, tendo até feito acordos que depois não funcionaram na Câmara, até contactos com o bispo Macedo fizeram para obter a benção da Igreja Universal.
Como dizia o outro, palavras para quê?

Miguel Serras Pereira disse...

Libertário,
obrigado pela achega. O problema é que para aí malta que nem com um desenho que o repita e sublinhe vê o que tem diante dos olhos. Nos casos mais flagrantes, não vê porque não quer ver nem que os outros vejam, pois isso tiraria legitimidade ao lugar que ocupam ou aspiram a ocupar num qualquer "governo ao serviço dos trabalhadores", que é o último alibi da sua determinação em prevenir a abertura da possibilidade de serem os próprios a servir-se — quer dizer, de serem os cidadãos comuns a governar, dispensando o superior comando dos seus "servidores".
Abraço

msp

Anónimo disse...

"Ninguém sonha utopias dormindo nos leitos dos quartos dos palácios. E eu estava certo. Mas agora, desta vez, temo perder muita coisa qualquer que seja a minha posição. Porque não adianta mais argumentar. Hoje, quem pensa muito, dança. O pensamento virou uma música. Temo que muitos de nós soframos também um impeachment na política. O político tem dois tipos de eleitores. O eleitor da urna e o eleitor do boteco, da igreja, do café, da casa, da turma, a patota. Essa eleição tem um complicador grande, porque o eleitor da urna quer o impeachment. Ele não vai entender eu dizer ‘não houve crime e por isso eu voto não’. E o eleitor da turma, o da patota, não vai entender o voto sim. Vai me chamar de golpista. Então, talvez seja um período que não só o PT seja enterrado. Todo esse grupo que a gente chama de esquerda pode estar sendo enterrado. E, ao mesmo tempo, é um momento tão rico. Caiu o muro de Berlim brasileiro. O PT era a esquerda brasileira. Ruiu. Ruiu pela corrupção, pela incompetência, pelo aparelhamento do Estado. Então, era o momento de a gente fazer surgir uma nova esquerda…"

Senador Cristovam Buarque (PPS-DF), ex-militante do PT e ex-ministro da educação de Lula

Anónimo disse...

Não vos toca o sentimento de se estar a assistir no Brazil a uma mise-en-scène politica e mediática analisada e detalhada nas profecias lançadas por Naomi Klein no seu panfleto, " A estratégia de choque "? Mesmo no seu transitório declinio,as forças do "Império " não evitam seleccionar zonas do globo onde " a imposição de politicas económicas neoliberais são lançadas a partir de um choque que pode ir de um golpe de Estado militar ou da invasão à catástrofe ecológica". Hardt e Negri desenvolvem muito estas análises na " Commonwealth ".Tirando os lances de argumentação sintécticos oriundos dos politológos universitários brasileiros entrevistados pelo NY.Times, os textos do PSOL e do PPS-DF parecem relativamente insuficientes para fazerem frente à gravidade da conjuntura politica brasileira. Niet

Libertário disse...

É sempre uma tentação usar as teorias da conspiração para explicar os factos políticos, uma coisa diferente, como é lógico, é identificar, e provar, as formas de intervenção das potências e grupos dominantes.
No que se refere ao Brasil para lá dos reflexos da crise económica global, são os factores internos que explicam a actual crise social e política. Se lermos as opiniões dos sectores críticos, incluindo muitos PTistas e aliados, o governo Lula e Dilma aplicaram basicamente um programa capitalista, que uns chegaram a chamar de liberal, outros de desenvolvimentista, o que é certo é que as classes dominantes, incluindo os grandes grupos económicos, foram aliados ao longo desta década. Durante esse ciclo de de prosperidade e de bons negócios ninguém se queixou, nem os grandes empresários, nem a Rede Globo, nem os EUA. Quando a crise global pressionou as políticas internas desencadeando desemprego, quebras salariais e inflação, a contestação chegou às ruas e às confederações patronais. Essa crise social favoreceu as contradições entre os partidos aliados, na sua quase totalidade conservadores e clientelistas, o que levou ao aparecimento das denúncias dos esquemas de corrupção generalizada com grande impacto no orçamento do Estado. Foi então que se deu a irrupção do vulcão. O que é certo é que os governos do PT não saíram fora do quadro geral capitalista dominante e foram incapazes de fazer as reformas sociais prometidas: partidária, fiscal, urbana e agrária...

Anónimo disse...

Libertário, Noami Klein está a milhas de ser uma apologista de uma qualquer teoria da conspiração.Iden-iden,aspas-aspas, em relação a Hardt e Negri. Evitemos falsos problemas e conclusões apressadas, portanto. O Brazil está a ser sacudido por um caosdrama de pulsões contraditórias subjugadas, isso sim, pelo complot do poder de Estado, que se apoia no nihilismo da perda de sentido das soluções marxistas estatistas combinadas com a potência da simulação, a omnipresença e obscenidade dos mass-média e,last but but not the least,as convulsões de um hard-power neo-imperialista envolto em processos aleatórios ainda inconfessáveis. Salut! Niet