12/11/19

Evo Morales e o golpe na Bolívia

O desempenho dos governos liderados por Evo Morales do ponto de vista da redução da desigualdade foi extraordinário. Sendo a  Bolívia um país muito pobre a redução para metade da população afectada pela pobreza e o aumento do salário mínimo, passando de 54 para 305 dólares, são marcos assinaláveis.

No entanto, Morales e a estrutura partidária que o suporta não foram capazes de quebrar a lógica da pessoalização da política, típica da América Latina. O presidente boliviano é o mais antigo presidente em funções na América Latina e, nas eleições agora realizadas, cometeu vários erros, que os seus adversários aproveitaram. O primeiro foi a sua recandidatura. Faz muita confusão que ao longo de 14 anos não tenho sido possível encontrar alguém com capacidade para continuar a liderar o projecto político de que Morales foi a face visível. Faz muita confusão, por outro lado, que estes dirigentes sejam incapazes de aceitar - e de compreender - os resultados eleitorais, quando estes os penalizam.

Quando falo de adversários refiro-me aos adversários políticos e às grandes corporações que olham para a Bolívia como olham para qualquer outro país: um jazigo de matérias primas e de mão de obra escrava, prontos a serem utilizados.

O que terá ajudado ao golpe de estado, que o Exército concretizou contra Morales, foi a decisão que o Presidente tomou relativamente às reservas de lítio existentes no país, em particular a sua decisão de cancelar um acordo com uma multinacional alemã. Os recursos existentes na Bolívia, ou noutro qualquer país, não são das populações. São das multinacionais, que não olham a meios para atingir os seus fins. Afinal, como aprendemos depois da crise de 2008, o neoliberalismo é a lógica do mercado imposta pela violência, como nos recorda Paul Mason* no seu último livro.

As reacções políticas por cá - com excepção do PCP e do BE - e em geral na União Europeia são nulas.

* - Um futuro Livre e Radioso. Uma defesa apaixonada da Humanidade. Paul Mason. 2019. Objectiva. Grupo Editorial da Penguin Random House.




1 comentários:

Miguel Madeira disse...

Atenção que no que diz respeito ao lítio e à multinacional alemã, a história é capaz de ser ao contrário do que anda a ser divulgado.

https://countervortex.org/node/16531