Aliás, pelo menos em Portimão basta olhar para as mesas de voto para ver isso - o PS tem sempre votações esmagadoras na zona da Coca Maravilhas (uma área largamente dominada por bairros operários típicos e por bairros sociais) e nas vilas e aldeias (que hoje em dia são mais subúrbios dormitórios do que outra coisa), e o PSD tem as suas maiores votações nas mesas da cidade mesmo, onde vive a classe média-alta; poderia ser uma exceção, mas parece que não é (se Portimão é uma exceção será na força que o BE também tem nos bairros pobres, fenómeno que não me parece tão vincado no resto do país).
Mas o que me chama mais a atenção é ter visto muita gente de esquerda a ter andado a partilhar entusiasticamente o artigo de Bárbara Reis; até percebia se fosse em tom "estão a ver como o PS é um partido burguês?", mas o tom parecia-me claramente quase o oposto - uma defesa do PS face à acusação que teria sobretudo os votos dos pobres; mas não era suposto partidos de esquerda ou ditos de esquerda quererem ter sobretudo os votos dos mais desfavorecidos? Ou seja, a esquerda não deveria aceitar entusiasticamente a afirmação que são os pobres que votam nela? Terá sido simplesmente uma atitude de "se a Iniciativa Liberal diz que o céu é azul, então com certeza que ele tem muitos tons de cinzento e até de vermelho"? Terá sido uma questão de terem aceite a validade interna do silogismo do deputado da IL ("os pobres votam sobretudo no PS, logo o PS tem interesse em manter a pobreza") e portanto terem tentado refutar a premissa ("os pobres votam sobretudo no PS") em vez da conclusão (só para ter uma ideia de como o silogismo está errado, pense-se na seguinte variante: "o eleitorado liberal é composto sobretudo por pessoas que sentem a opressão estatal, via altos impostos e burocracias, portanto os liberais têm interesse em manter ou até aumentar a intervenção estatal" - bem, para falar a verdade algumas defesas por parte de liberais da flat tax e afins parecem-me andar perto disso)?
Ou será que estão mesmo convertidos ao elitismo tecnocrático e acham que deve ser mesmo a classe média-alta a manter no poder os governos que depois, benemeritamente, vão cuidar dos pobres (uma espécie de "governo das elites, pelas elites e para o povo")? Algo algures entre o paternalismo do catolicismo social e o vanguardismo do marxismo-leninismo?
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