10/12/19

ELEIÇÕES NO REINO UNIDO - III

Falta apenas um dia para concluir a campanha eleitoral no Reino Unido. No dia 12 o país vai a votos.
As evoluções dos últimos dias não permitem esperar outro resultado que não a vitória dos Conservadores.
Faltará saber qual é a dimensão dessa vitória. Se com maioria absoluta ou se uma maioria relativa reforçada, quando comparada com o resultado da senhora May.
Aos trabalhistas e a Corbyn já só resta uma esperança: o impacto do voto dos novos eleitores. Parece ser nesse movimento de fundo - a existir - que se confinam as esperanças trabalhistas.

Nos últimos textos analisei vários factores que influenciaram decisivamente o resultado destas eleições. Ignorei um desses aspectos mais importantes: a campanha da ortodoxia judaica que elegeu Corbyn como um seu inimigo confesso. O rabino da comunidade judaica assumiu um comportamento nunca antes verificado. Declarou em plena campanha eleitoral que Corbyn não era um homem confiável para ser primeiro-ministro. Nunca na história da democracia britânica um líder religioso tinha tomado uma posição tão claramente política imiscuindo-se na luta partidária.

Corbyn não soube lidar com esta questão. Não foi capaz - e teve tempo para o fazer - de clarificar de forma límpida o seu posicionamento e do partido. Contra atacando aqueles que misturam a posição do governo de Netanyau com a posição dos judeus, como acontece com o rabino.

Mas, insisto, o maior erro de Corbyn foi o seu posicionamento face ao Brexit. A menos de duas semanas do final da campanha o Labour percebeu que estava à beira de perder parte da sua sempre fiel Red Wall, que votara maioritariamente pelo Leave. Optou nessa altura por concentrar aí os seus esforços, sem que se tenham verificado grandes progressos.

Entretanto, a maioria dos apoiantes do Remain,  entre os  que votaram Labour nas últimas eleições,  dividiram-se, e uma parte apoia agora os Lib Dem, partido que ao longo de anos apoiou os conservadores e as políticas austeritárias que penalizaram os britânicos. Esse apoio irá traduzir-se numa significativa perda de deputados do Labour a favor dos Tories. Os LIb Dem cumprem mais uma vez o seu papel histórico de aliados dos conservadores. Neste caso foram os trabalhistas que ajudaram à festa. Deveriam ter clarificado a sua posição a favor do Remain - que esvaziava os Lib Dem - e concentrado forças a recuperar o que fosse possível da Red Wall. [defendo esta posição desde sempre e não por razões de pura aritmética eleitoral. A Europa necessita de uma política "for the many not the few" que Corbyn deveria ter liderado. Não partilho da posição cobarde dos iluminados da esquerda que entendem que a política europeia não é reformável e que manifestam simpatia por movimentos como o sinistro Brexit de Johnson e Farage]

Os resultados das eleições só se conhecem depois de todos terem votado. A menos que haja uma vaga de fundo em defesa do SNS, do Direito à Habitação, da Educação Pública e pela redução das desigualdades, o patético líder dos conservadores irá dispor de quatro anos para tornar o Reino Unido uma sociedade ainda mais injusta e governar à imagem do presidente americano.

Não chegam boas notícias do Reino Unido.

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